Namorar um estrangeiro

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Ter um blog pra mim é meio como ter um diário público - nele escrevo meus pensamentos, acontecimentos, opiniões, enfim, coisas que acontecem na minha vida dando um foco especial no que diz respeito à Irlanda.

Apesar deu falar de família, amigos, citar uns nomes e postar umas fotos de conhecidos de vez em quando, nunca fui muito específica em relação ao meu namoro. Primeiro porque acho que é muito pessoal pra ficar contando pra todo mundo, segundo porque o meu namorado não gosta de redes sociais nem de ficar se expondo na internet. Com exceção da participação dele nos posts sobre o Brasil, ele sempre foi bem anônimo por aqui, apesar de sempre mencionado.

Já vi muitos posts pela internet de "como é namorar um estrangeiro" ou "10 coisas que você precisa saber sobre os irlandeses" e não vou mentir: sempre os leio e sempre acho uma ou outra coisa interessantes. Só que as pessoas são diferentes, não importa de onde elas vêm. Não dá pra fazer um "particularidades de namorar um brasileiro" porque os brasileiros são diferentes e você pode ter experiências diversas com cada um, certo?

Leia também: Namorar um estrangeiro (2ª edição)


Mas, logicamente, há sim um toque de diferença cultural aqui, backgrounds diferentes ali. Tanto eu como o R. somos muito flexívies e abertos pra cultura um do outro, então nunca ouve mal-entendido ou briga por causa de diferença cultural. Sim, eu tiro um sarro quando ele lava a louça daquele jeito irlandês e ele acha desnecessário eu beijar todo mundo quando comprimento alguém, mas tudo na boa.

Pra mim, namorar um irlandês não é nada de mais. Eu não fico pensando no R. como um irlandês, e sim como pessoa. Falar inglês sempre foi parte da minha vida e consequentemente, muito natural pra mim. Não há nenhum tipo de problema com comunicação nem nada, até eu levá-lo pra conhecer minha família e amigos no Brasil.

Por sorte, meu irmão e uns 90% dos meus amigos são professores de inglês, então de forma geral, o R. ter conhecido meus amigos foi super tranquilo. Já meu irmão me deu a maior força nas reuniões de família, onde poucos falam um pouco (ou se falam, tem vergonha de falar) - como eu tava rodando de canto em canto pra ficar um pouquinho com cada um, o Cé não deixava o R. sozinho sem entender o que tava rolando. Porque por mais que eu tenha um super orgulho da rapidez com o que R. aprende e entende algumas coisas de português, estar no Brasil rodeado de gente falando português rapidinho é oooooutra história. É cansativo pra ele tentar entender tudo e cansativo pra mim, que tenho que traduzir tudo a todo tempo.

Ali, pela primeira vez, eu senti um certo peso de namorar um estrangeiro. Porque é estranho: ele não consegue conversar com minha mãe, nem com minha tia, nem com minha vó. Os amigos que não falam inglês ficam envergonhados de conversar com ele e fica um climão estranho. A família quer conversar com ele mas não consegue. Acho que rola muito aquela coisa de "ai meu deus, ele é gringo!". Um exemplo é quando R. me acompanhou a uma consulta no dentista. A moça da recepção viu ele conversando comigo e perguntou: "ele não é daqui, né?". Quando eu confirmei, ela logo levou os braços pra cima e disse "ahhhh, não fala inglês comigo não, não fala não!!!".

Acho que rola um medo do desconhecido, normal.

Foram poucos amigos que não falam inglês que fizeram questão de dirigir perguntas ao R., mesmo em português. 

Mas não julgo, sei que é estranho.

Aí eu me vi tendo que traduzir coisas e ficar de intérprete quando muitas vezes eu só queria jogar conversa fora em uma língua só! Eu via a carinha de "não tô entendendo nada" do R. quando eu desembestava a falar português (como no primeiro dia que fomos visitar a minha família após ter desembarcado em São Paulo - segundo o R., nunca falei português tão rápido como naquele dia!), eu via o esforço do Cé e da minha amiga Letícia pra não deixá-lo sozinho sem noção do que tava acontecendo. E eu pensei que sim, se o R. falasse português, as coisas teriam sido um pouco mais fáceis, as coisas teriam fluido um pouco melhor.

Apesar deu não o cobrar, o desejo já foi lançado - "da próxima vez que viermos pro Brasil, quero estar falando português melhor....".

Quando nos conhecemos, R. comentou que se ficássemos juntos mesmo, a longo prazo ele queria aprender português, porque por mais que eu fosse fluente em inglês e não termos problema nenhum com a língua, que o português era a minha língua e que ele sentia diferença de quando eu dizia "that's cute" pra "owwww que bonitiiiiinho". Acho que essa foi uma das coisas que eu mais gostei nele, esse interesse por saber mais de onde vim, de como sou.

Mas apesar das pequenas dificuldades no Brasil, rolou zoeira com a família, rolou meu tio improvisando no inglês, rolou muita coisa boa e muitas memórias inesquecíveis. E sei que da próxima será ainda melhor!

Em março, um dia antes do St. Patrick's Day

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