Um belo dia recebemos um cheque no valor de 525 euros da Ryanair. Isso mesmo, da infame companhia aérea que cobra pouco por passagens, mas muito por qualquer outro serviço.
Mas pra contar essa história precisamos voltar pra dezembro de 2015, mais precisamente no dia 14, quando R. e eu voltávamos de uma rápida viagem à Noruega. Nosso vôo estava programado pra sair às 11h da manhã às 10h já havíamos passado pela segurança e aguardávamos o horário do embarque.
Passei pela imigração, carimbaram meu passaporte, subimos no avião, colocamos as malas no bagageiro e aguardamos. Apesar de todo mundo já estar sentado e pronto, nada do avião sair do lugar - até o piloto anunciar que devido à uma peça estar congelada e eles não estarem conseguindo arrumar, todos precisariam sair do avião e voltar pro aeroporto.
Frustrados, pegamos nossas malas e voltamos pro salão do aeroporto pra aguardar mais informações. Alguns minutos depois, o pessoal da Ryanair avisa que infelizmente não havia um engenheiro em solo norueguês que pudesse arrumar a peça e que por causa disso, o vôo atrasaria bastante. Aliás, teríamos que esperar o vôo que vinha de Dublin chegar em Oslo pra que pudéssemos embarcar de volta no mesmo avião.
E como tínhamos que "voltar" pra Noruega (tecnicamente o passaporte dos não-europeus haviam sido carimbados como se tivéssemos saído do país), os oficiais anularam o carimbo de saída e pudemos voltar ao salão principal do aeroporto pra esperar.
O aeroporto na ocasião era o Rygge, super minúsculo com poucas opções de entretenimento. O jeito foi simplesmente sentar e esperar.
A Ryanair deu pra cada passageiro um voucher de 5 euros (!) e mais ou menos uma hora depois, outro voucher de 5 euros. Gente, 10 euros num aeroporto na Noruega não compra absolutamente nada, nem um amendoim. Tivemos que almoçar pagando do nosso bolso e ficamos muito putos.
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Se tem uma coisa que me irrita profundamente é o uso da palavra "expatriado" (e variações como "expat"). Inclusive, até mencionei num post reflexivo sobre morar fora - O purê de batatas nunca mais será o mesmo - que eu achava esse termo um pouco inadequado.
Nos dias em que estamos vivendo, com a crise dos refugiados na Europa e tal, me parece que os conceitos de imigrante, refugiado e expatriado vieram à tona. E acho importante trazer essa discussão pra cá porque acho que as pessoas estão confundindo as coisas e pintando uma realidade que não existe.
As palavras podem ter um peso muito grande - elas exprimem conceitos, ideias, pensamentos... não à toa que no livro "1984", Orwell propõe uma reflexão acerca da novilíngua (newspeak), que se trata de uma língua fictícia criada pelo governo para que as pessoas tivessem seu pensamento restringido. As palavras carregam seu significado consigo e caso sua carga seja negativa, ela pode ser evitada e trocada por outra palavra.
Embora a definição que o dicionário de língua portuguesa dê para expatriado seja "que ou aquele que reside, voluntariamente ou não, fora da sua pátria", acredito que o uso dessa palavra exprima um conceito que vai além disso.
Nos dias em que estamos vivendo, com a crise dos refugiados na Europa e tal, me parece que os conceitos de imigrante, refugiado e expatriado vieram à tona. E acho importante trazer essa discussão pra cá porque acho que as pessoas estão confundindo as coisas e pintando uma realidade que não existe.
As palavras podem ter um peso muito grande - elas exprimem conceitos, ideias, pensamentos... não à toa que no livro "1984", Orwell propõe uma reflexão acerca da novilíngua (newspeak), que se trata de uma língua fictícia criada pelo governo para que as pessoas tivessem seu pensamento restringido. As palavras carregam seu significado consigo e caso sua carga seja negativa, ela pode ser evitada e trocada por outra palavra.
Embora a definição que o dicionário de língua portuguesa dê para expatriado seja "que ou aquele que reside, voluntariamente ou não, fora da sua pátria", acredito que o uso dessa palavra exprima um conceito que vai além disso.
Lembra quando você aprende na escola sobre as unidades de medida? Pois é. No Brasil (e praticamente no resto do mundo todo) usamos o Sistema Internacional de Medidas (SI), que é aquele que fala de centímetros, metros, quilômetros, etc.
Pois bem. A Irlanda faz parte da União Européia e por conta disso, foi obrigada à utilizar o SI. Em 2005 o país ainda tinha placas de velocidade em milhas por hora e o Ministério do Transporte teve que rever todos os limites de velocidade.
No entanto, não é raro você ainda encontrar placas em milhas e não quilômetros por aí, principalmente nas entradas do interior.
Bem, se essa confusão ficasse restrita somente à estradas, não seria um grande problema. O problema é que por conta da Irlanda ter ficado sob domínio inglês por séculos, o sistema de medidas não-oficial por aqui é o Sistema Imperial.
Isso significa que eu fico perdida em TODAS as conversas que envolvem inches, feet, miles, lbs (pounds), etc.
Pois bem. A Irlanda faz parte da União Européia e por conta disso, foi obrigada à utilizar o SI. Em 2005 o país ainda tinha placas de velocidade em milhas por hora e o Ministério do Transporte teve que rever todos os limites de velocidade.
No entanto, não é raro você ainda encontrar placas em milhas e não quilômetros por aí, principalmente nas entradas do interior.
Bem, se essa confusão ficasse restrita somente à estradas, não seria um grande problema. O problema é que por conta da Irlanda ter ficado sob domínio inglês por séculos, o sistema de medidas não-oficial por aqui é o Sistema Imperial.
Isso significa que eu fico perdida em TODAS as conversas que envolvem inches, feet, miles, lbs (pounds), etc.
Estou prestes a completar três anos morando na Irlanda.
Três ano, na big picture, parece muito pouco, não é mesmo? Se considerarmos que tenho vinte e oito, de fato, três são poucos. No entanto, se reduzirmos essa figura à minha "vida adulta", ou pelo menos desde quando comecei a trabalhar, aos dezessete, temos então onze anos. Três de onze ainda é pouco, mas se formos considerar que a nossa vida muda muito nos nossos 20, posso dizer então que três de oito já é um número considerável, não é mesmo?
Eu vim pra Irlanda porque queria muito morar fora por um tempo, ter a experiência de ir pra outro país, viajar, sair de São Paulo - que me deixava louca. Não precisava aprender inglês e por isso não investi num curso de qualidade, não tive medo quando cheguei pois já falava o idioma e bem... acho que minha experiência por aqui foi sempre muito positiva por esse fato.
O que eu nunca disse pra ninguém (até disse, mas nunca ficou registrado), é que eu soube, desde o primeiro dia que pisei em Dublin, que eu não ficaria aqui somente um ano. Pode me chamar de louca, mas naquela primeira manhã em que andei sozinha pelas ruas da cidade, eu tive uma intuição de que eu não voltaria pro Brasil tão cedo.
Dois meses depois eu conheci o R. e o resto, como dizem, é história. Sempre tivemos muito claro que eu não ficaria na Irlanda somente por ele. Era extremamente importante pra ele e pra mim que os motivos para que eu decidisse ficar na Irlanda seriam outros além de amor. E de fato, mesmo antes do R. aparecer eu já gostava demais da Irlanda, gostava demais de morar em Dublin, gostava demais da ideia de ficar mais tempo por aqui. O amor só fez as coisas ficarem mais doces!
Três ano, na big picture, parece muito pouco, não é mesmo? Se considerarmos que tenho vinte e oito, de fato, três são poucos. No entanto, se reduzirmos essa figura à minha "vida adulta", ou pelo menos desde quando comecei a trabalhar, aos dezessete, temos então onze anos. Três de onze ainda é pouco, mas se formos considerar que a nossa vida muda muito nos nossos 20, posso dizer então que três de oito já é um número considerável, não é mesmo?
Eu vim pra Irlanda porque queria muito morar fora por um tempo, ter a experiência de ir pra outro país, viajar, sair de São Paulo - que me deixava louca. Não precisava aprender inglês e por isso não investi num curso de qualidade, não tive medo quando cheguei pois já falava o idioma e bem... acho que minha experiência por aqui foi sempre muito positiva por esse fato.
O que eu nunca disse pra ninguém (até disse, mas nunca ficou registrado), é que eu soube, desde o primeiro dia que pisei em Dublin, que eu não ficaria aqui somente um ano. Pode me chamar de louca, mas naquela primeira manhã em que andei sozinha pelas ruas da cidade, eu tive uma intuição de que eu não voltaria pro Brasil tão cedo.
Dois meses depois eu conheci o R. e o resto, como dizem, é história. Sempre tivemos muito claro que eu não ficaria na Irlanda somente por ele. Era extremamente importante pra ele e pra mim que os motivos para que eu decidisse ficar na Irlanda seriam outros além de amor. E de fato, mesmo antes do R. aparecer eu já gostava demais da Irlanda, gostava demais de morar em Dublin, gostava demais da ideia de ficar mais tempo por aqui. O amor só fez as coisas ficarem mais doces!
Ontem, pra distrair a cabeça em meio à tantos assignments da faculdade, me deparei pesquisando sobre os blogs que eu já tive pela internet afora... na verdade, o blog que mantive de 2004 à 2006 está fora do ar. Porém, existem maneiras de recuperar informações de sites que existiram na internet (gente, às vezes a internet dá medo) e eu acabei encontrando algumas preciosidades.
Vi um post que escrevi um junho de 2004 e confesso que me deu um aperto no coração. Já faz mais de 10 anos que escrevi isso?
Como é que num espaço de pouco mais de 10 anos a gente pode mudar tanto, né? Quer dizer... nessa época eu tinha 16 anos e era cheia de sonhos. Não que eu não tenha sonhos agora - tenho muitos! - mas acho que agora, depois de já ter uma certa vivência, eu consigo sonhar um pouco mais com os pés no chão. A vida acaba fazendo a gente ser um pouco menos sonhador, mais realista, mas mesmo assim, eu ainda gosto muito de sonhar.
Vi um post que escrevi um junho de 2004 e confesso que me deu um aperto no coração. Já faz mais de 10 anos que escrevi isso?
Como é que num espaço de pouco mais de 10 anos a gente pode mudar tanto, né? Quer dizer... nessa época eu tinha 16 anos e era cheia de sonhos. Não que eu não tenha sonhos agora - tenho muitos! - mas acho que agora, depois de já ter uma certa vivência, eu consigo sonhar um pouco mais com os pés no chão. A vida acaba fazendo a gente ser um pouco menos sonhador, mais realista, mas mesmo assim, eu ainda gosto muito de sonhar.
Eu estava com esse post no rascunho desde outubro de 2013 - pois é, todo esse tempo! É que como eu sempre encontrei inspiração pra escrever sobre tantas outras coisas, fui deixando esse texto de lado porque ele não era "urgente". Até agora.
A verdade é que eu adoro ler/saber mais/conversar sobre línguas e os processos que se dão no nosso cérebro (e alma) quando falamos nossa língua-mãe ou outras línguas. Sempre me interessei pelo assunto (ora, aos 10 anos de idade já dizia que gostava de "música inglesa" me referindo ao fato de que eu gostava de músicas cantadas em inglês) e não à toa me tornei professora de inglês - e mesmo não exercendo a profissão aqui na Irlanda, continuo extremamente ligada nesse assunto e estou sempre refletindo e estudando a respeito disso.
Desde que meu namoro com o R. (que é irlandês) começou a ficar mais ~sério~, ele sempre disse que um dia gostaria de aprender português. Seu argumento era que minha fala, por mais fluente que eu fosse em inglês, nunca seria a mesma porque não transmitiria os sentimentos da mesma forma com a qual e os expresso na minha língua. Ele falava que eu dizer "oh, that's so cute" não seria nunca eu dizer "aiiiii, que bonitiiiiiiinho".
E ele tinha razão.
A verdade é que eu adoro ler/saber mais/conversar sobre línguas e os processos que se dão no nosso cérebro (e alma) quando falamos nossa língua-mãe ou outras línguas. Sempre me interessei pelo assunto (ora, aos 10 anos de idade já dizia que gostava de "música inglesa" me referindo ao fato de que eu gostava de músicas cantadas em inglês) e não à toa me tornei professora de inglês - e mesmo não exercendo a profissão aqui na Irlanda, continuo extremamente ligada nesse assunto e estou sempre refletindo e estudando a respeito disso.
Desde que meu namoro com o R. (que é irlandês) começou a ficar mais ~sério~, ele sempre disse que um dia gostaria de aprender português. Seu argumento era que minha fala, por mais fluente que eu fosse em inglês, nunca seria a mesma porque não transmitiria os sentimentos da mesma forma com a qual e os expresso na minha língua. Ele falava que eu dizer "oh, that's so cute" não seria nunca eu dizer "aiiiii, que bonitiiiiiiinho".
E ele tinha razão.