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Dublin é uma boa cidade pra se morar?

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Tenho pensado muito sobre como é morar em Dublin ultimamente. Não sei se foi por causa de conversas que tive com algumas professoras na escola de verão, mas o fato é que quanto mais o tempo passa, mais parece que eu consigo enxergar essa cidade pelo que ela realmente é.

Porque não tem jeito. Vindo de uma cidade como São Paulo, onde nasci e cresci, e vindo parar numa ilha do tamanho da Irlanda, não tem como não comparar. Mas obviamente eu nunca vim pra cá achando que moraria aqui. Pra mim eu tava fazendo um intercâmbio, ficaria um ano, no máximo uns dois, e voltaria pra casa.

Mas o conceito de casa já mudou faz tempo e quanto mais os anos passam, mais eu me sinto à vontade na capital da Irlanda. Sei onde comprar tudo que preciso, conheço vários lugares (mercado, padaria, cafés, etc), sei os nomes das ruas, essas coisas que passam desapercebidas no dia-a-dia, que a gente nem se dá conta, sabe? No entanto, se por um lado eu me sinto à vontade em morar em Dublin, parece que por outro, só agora os rose tinted glasses caíram.

Falando assim parece que tô fazendo um puta drama, que hoje acho a cidade uó, perigosa, suja, e outras coisas negativas. E não vou mentir não. Dublin é sim uma cidade perigosa, suja, e outras coisas negativas. Mas não na proporção que a minha cultura brasileira/paulistana enxerga. Quando cheguei aqui, fiquei deslumbrada com a arquitetura, com as casinhas, com os prédios baixos do centro, com as lojas fofas da região da South William Street. E ainda sou. Ainda paro pra ouvir os músicos na Grafton, ainda acho a Fitzwilliam Square uma graça, ainda me vejo tirando fotos no centro da cidade quando vejo algo que me agrada os olhos.


Quando o intercâmbio chega ao fim

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Ontem eu completei 3 anos e 8 meses de Irlanda e comemorei não só mais um mês vivendo nessa ilha gelada, mas também o fim do meu intercâmbio.

Quando eu pensei em morar na Irlanda, era pra fazer um intercâmbio, mas mais ou menos. Eu já falava inglês e só queria mesmo morar num país diferente, viajar um pouco e voltar pra casa. No entanto, a vida dá muitas voltas: me vi completamente apaixonada por esse país e soube, desde o início, que minha jornada aqui não duraria somente os 12 meses do visto de estudante.

Renovei o visto com a escola de inglês por mais duas vezes, na última tendo sofrido um golpe com outros muitos alunos e perdido dinheiro, já que a escola fechou. Mas, como há males que vem pro bem, foi o empurrão que eu precisava pra colocar em prática um plano que eu tinha para o ano seguinte: fazer um mestrado.


Como não querer morar num país que tem esse nascer do sol?

Tem muito brasileiro na Irlanda?

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A Irlanda nunca foi um país muito procurado como destino imigratório no Brasil. Devido à distância entre os dois países e restritas relações econômicas e históricas, é curioso pensar porque tantos brasileiros buscam a Ilha Esmeralda pra chamar de casa. 


O Tigre Celta e Gort 


De fato, o primeiro consulado brasileiro no país foi aberto em 1930, mas somente durante o Tigre Celta, nos anos 90, quando a Irlanda gozava de rápido crescimento econômico, é que o número de brasileiros no país aumentou. Tudo começou numa cidadezinha do interior no oeste irlandês chamada Gort. Aproximadamente 70 brasileiros chegaram em Gort entre 1999 e 2000 para trabalhar em fábricas de processamento de carne que estavam prestes a fechar. Os donos de fábricas procuraram brasileiros justamente porque o Brasil é o maior exportador de carne bovina do mundo e também por conta da ausência de mão de obra local. 

Aos poucos o número de brasileiros na cidade foi aumentando e em poucos anos, a proporção já era de 1 brasileiro para 2 irlandeses na cidade. Festas como Carnaval e Festa Junina eram celebradas na comunidade, lojas que vendiam produtos brasileiros empregavam várias pessoas e vários brasileiros faziam seu pé-de-meia para voltar ao Brasil em melhores condições financeiras. Até a crise que assolou o país em 2008, muitos desses brasileiros acabaram voltando ao seu país de origem e aos poucos, a população brasileira de Gort (também chamada de Little Brazil) foi diminuindo: no censo de 2011, por exemplo, registrou-se cerca de 417 brasileiros na cidade, quando no ápice da imigração brasileira lá, esse número era quatro vezes maior. 


Aprender um idioma por imersão: a grande verdade

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Em janeiro de 2015 eu escrevi um post intitulado "Meu irlandês falando português" sobre o fato do meu namorado, o R. estar aprendendo português meio sem querer, só pela convivência comigo

A verdade é que esses dias eu estava conversando com ele e cheguei à uma conclusão: o R. aprendeu português por imersão. Vivendo em Dublin!

Calma, eu explico: as pessoas tem um conceito errado de imersão. Elas acham que vão morar no país que fala a língua que elas querem aprender (geralmente, inglês) e que fazendo as coisas do dia-a-dia, indo no pub, vão aprender. É o famoso "aprender na rua". Quantas vezes não ouvi gente dizendo que o inglês mesmo se aprende na rua, convivendo com os locais? 

Só que o que essas pessoas não sabem é que ninguém vai ter paciência de ajudá-las a melhorar a fluência no idioma. Você acha que o fulano do pub vai te corrigir se você falar errado? Aliás, você acha que dá pra confiar no fulano do pub, só porque ele é nativo no idioma? Já parou pra pensar que, se um estrangeiro estivesse num bar ou balada no Brasil, ele conseguiria melhorar o seu português tranquilamente com qualquer um naquele estabelecimento?

Acho que você sabe a resposta, né?

Sobre ser (finalmente?) uma adulta

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Venho pensando bastante nessa questão de ser adulta, já que daqui a menos de 1 mês completo 27 anos de idade. Nossa, com 27 eu achava que teria minha casa, meu carro, seria casada... sabe essas coisas que a gente fica pensando quando mais novo?

Minha mãe, por exemplo, já tinha saído de casa, mudado de estado, casado, comprado casa e engravidado aos 27. Eu na mesma idade tenho uma história diferente: saí de casa recentemente e não tenho nenhum bem material - todo meu dinheiro foi gasto na minha educação/formação (curso superior, pós-graduação, cursos de língua, etc). A verdade é que eu ainda acho estranho me descrever como 'mulher', já que muitas vezes eu me diria 'menina'.

Só que desde que saí de casa pra viver aqui na Irlanda, a vida fica cada vez mais adulta.

Quer dizer, no Brasil eu também pagava conta, também cozinhava, também cuidava das minhas coisas, mas numa proporção muito menor, já que minha mãe arcava com a maior parte dos custos e das tarefas. Aqui na Irlanda eu tenho que fazer absolutamente tudo pra mim, já que, se eu não o fizer, ninguém vai fazer.

Quem foi que disse?

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Quem foi que disse que preciso morar no mesmo lugar a vida inteira?

Quem foi que disse que devemos fazer faculdade logo ao terminar a escola?

Quem foi que disse que temos que trabalhar na nossa área a vida toda?

Quem foi que disse que preciso ganhar muito bem pra ser feliz?

Quem foi que disse que ter carro é importante?

Quem foi que disse que baixinha não pode usar saia longa?

Quem foi que disse que brasileira é mulher fácil?

Quem foi que disse que todos os irlandeses bebem muito?

Quem foi que disse que intercâmbio é fácil?

Quem foi que disse que ter casa própria é sinal de sucesso?

Quem foi que disse que viajar uma vez por ano nas férias é suficiente?

Quem foi que disse que pagar mais de 200 reais numa calça jeans é o comum?

Quem foi que disse que eu preciso usar calça jeans mesmo?

Quem foi que disse que não posso assistir vários seriados ao mesmo tempo?

Quem foi que disse que tenho que casar e ter filhos?

Quem foi que disse que não posso ir dormir tarde todo dia?

Quem foi que disse que não posso comer um docinho após o jantar?

Quem foi que disse que chove todo dia na Irlanda mesmo?

Quem foi que disse que ser professora de inglês é glamouroso?

Quem foi que disse que a Europa é melhor que o Brasil?

Quem foi que disse que o Brasil é melhor que a Europa?

Quem foi que disse que a distância separa amizades?

Quem foi que disse que eu me arrependeria de "largar" meu emprego no Brasil ao vir pra cá?

Quem foi que disse que eu não ficaria só um ano na Irlanda?

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Eu sou rica! (?)

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Esse post foi escrito há muuuuito tempo, mesmo. Eu tava arrumando uns rascunhos que tinha por aqui e levei um susto: não tinha publicado esse texto! Bom, como muita coisa nele ainda é válida, resolvi postar...

Um dia desses (quer dizer, há uns meses) comentaram comigo "nossa, mas como você viaja, hein?", dando a entender que eu era muito rica e que tava só no bem bom. Não que eu me importe se as pessoas estão me achando rica (se soubessem o quanto tenho na minha conta, não acreditariam), mas eu fiquei incomodada. Até porque, não foi o primeiro comentário que fizeram a respeito.

Acho que as pessoas esquecem de algumas coisas.

Um dos meus objetivos primordiais durante o intercâmbio era viajar. E eu tô viajando! Junto meu dinheirinho suado e viajo. Não sei quando voltarei ao Brasil, mas sei que viajar de lá pra cá é caro, então tô aproveitando todas as oportunidades agora. Já fui pra Liverpool, Paris, Roma, Bratislava, Viena, Salzburgo, Praga, Berlin, Belfast e Edimburgo - todas viagens pagas com o meu salário de babá, que vale lembrar, É MENOR do que o salário mínimo na Irlanda (pelo menos na época em que fiz essas viagens todas).

1 ano como childminder - e aí?

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Quando vim pra Irlanda, sabia que teria trabalhar com coisas que não tinham absolutamente nada a ver com a minha área de atuação no Brasil. Estava disposta a encarar qualquer coisa, assim como muitos intercambistas que vem pra cá. Aquele espírito de "topo qualquer desafio" era o meu lema.

De todas as possibilidades aqui (cleaner, recepcionista, trabalhar em pub, garçonete, etc), a única da qual fugi foi ser babá. Eu já tinha dado aula pra criança no Brasil, nunca gostei de criança na vida e me dava arrepios pensar em exercer essa função aqui. Só que os meses foram passando e só saber falar inglês não era suficiente pras vagas de emprego para as quais eu aplicava. Me restou a última solução: ser childminder.

Bom, primeiramente devo dizer que não considerei ser au pair, ou seja, viver com a família. Eles pagam muito pouco (por volta de 100 euros por semana, quando não menos) e eu simplesmente não queria perder minha liberdade de ir e vir. Conheço muita gente que trabalhou de au pair aqui e sempre se sentiu sem graça na casa "dos outros". O fato é que pra muita gente que chega aqui sem saber falar inglês, ser au pair acaba sendo uma opção bacana pra imersão na cultura irlandesa e ter uma casa sem contas pra pagar. Conheço gente, inclusive, que mesmo ganhando esse pouco salário fez várias viagens pela Europa.

Preguiçosos, e preguiçosos intelectuais

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Sempre fui uma pessoa curiosa. Desde criança, gostava de responder desafios da minha mãe (e confundia as palavas "pergunta" com "resposta" e pedia "mããããe, faz resposta!"), gostava de ouvir meu pai explicando o universo com as laranjas e adorava perguntar o porquê das coisas. Eu cresci e a curiosidade sempre esteve presente na minha vida.

Quando decidi fazer intercâmbio, comecei uma pesquisa incansável sobre a Irlanda. Li todos os blogs possíveis (até os mal-escritos! hahaha), li os grandes portais, contatei quem eu conhecia que já morava ou havia morado aqui... comprei guias turísticos, enfim, tentei me munir do máximo de informações e mesmo estando aqui, aprendo coisas novas o tempo todo.

Mas porque eu sou curiosa, mesmo antes de pensar em morar na Irlanda, eu já sabia algumas coisas sobre o país: passado tenso com a Inglaterra, A Grande Fome, Tigre Celta; já sabia alguma coisa de música: U2, Westlife (me julguem), Cranberries, Glen Hansard; já sabia vagamente sobre os grandes escritores - Joyce, Swift, Yeats; já tinha visto um ou outro filme irlandês/sobre a Irlanda.


Teria eu me rendido aos brasileiros?

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Pra quem lê o blog desde quando pisei na Irlanda, já conhece o meu discurso "não fazer coisas brasileiras". Já expliquei que eu amo o Brasil, amo a língua portuguesa, amo a comida e coisa e tal, mas acho muito bizarro as pessoas gastarem um dinheirão pra fazer intercâmbio e continuar a vidinha de Brasil, frequentando baladas brasileiras, comendo comida brasileira e muitos etc.

R. tenta me convencer de que tudo bem eu querer fazer coisas brasileiras de vez em quando. E ele tá certo. Se fiquei um ano sem comprar guaraná aqui, tudo bem tomar um às vezes. Ou comer num brasileiro vez ou outra. É minha cultura, faz parte de quem eu sou. Ele tem razão - não faz mal, já que eu tento fazer tudo irlandês desde que cheguei (menos lavar a louça do jeito deles! hahahaha).

E na última semana eu acabei fazendo duas coisas que eu tentava ao máximo não fazer aqui.

Não, ir pra um sambão é a última coisa que eu faria na Irlan... na vida!

Quando morar fora não faz nada pelo seu inglês

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Quantas e quantas vezes, em todos esses anos como professora de inglês, ouvi de colegas, chefes e alunos que o negócio era morar fora? Que a pessoa só ficava fluente depois de passar um tempo em outro país? Que fazer "cursinho" em escola de idiomas não era a solução pro problema de falar inglês?

São tantas besteiras que vão sendo propagadas sem ninguém saber de fato o que é real e o que não é que me dá até desgosto de trabalhar com isso às vezes. É conversa em sala dos professores, é você ouvir de alunos NA SUA CARA que depois do cuso ele vai "pra fora" pra melhorar o idioma... Mas eu sou brasileira e não desisto nunca. Não desisto de tentar fazer as pessoas entenderem que não, morar fora pode não fazer absolutamente nada pelo seu inglês.

E se antes poderia parecer inveja da minha parte porque eu nunca tinha morado fora (sim, já ouvi esse argumento!), depois de 1 ano e 4 meses de Irlanda posso garantir que vi com meus próprios olhos. Chega a ser constrangedor em alguns casos; em outros me dá até dó.

Mas vamos devagar. Primeiramente, o que é ser fluente?

E como eu me senti no Brasil?

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As férias no Brasil foram ótimas. Extremamente cansativas e no início um pouco estranhas, mas ótimas. É que como já comentei por aqui, alguns amigos ficaram bravos comigo por eu ter feito surpresa e não ter contado que eu ia pra lá. Além disso, me senti extremamente dividida, tendo que passar tempo com família e amigos e sendo cobrada por isso. Não vou me alongar nessa parte porque vai parecer indireta e pode causar mal-entendidos, o que não é a intenção.

Ao sair do aeroporto já fiquei estressada com o trânsito, que tava bem pesado por conta de uma chuva.

Nos dias subsequentes também tive pequenos ataques de nervoso e ódio com o trânsito e com a demora pra chegar em qualquer lugar da cidade. Tudo bem, eu moro na periferia, meio longe de tudo, mas mesmo assim, é foda.


Volta a Dublin e pequenas reflexões

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Ah, que saudade de escrever aqui no blog! Tava com muita muita muita saudade mesmo. Mas como eu comentei por aqui, passei quase 3 semanas no Brasil e simplesmente não tive um minuto pra escrever nem postar. Na verdade, até tive, que foi quando subi o post do último dia em Lisboa. E só. Pra ser sincera, acho que os únicos momentos em que estive sozinha no Brasil é quando ia ao banheiro. Sério.

Esse começo pareceu meio carrancudo, mas é que eu cheguei ontem vindo de um vôo não muito legal. Não sei o que tem acontecido comigo, não consigo mais dormir profundamente em avião. Foram longas 11 horas de vôo preenchidas por 1 horinha de cochilo no inicio, algumas refeições (gostei mais do sorvete da KLM na ida do que o picolé da Air France na volta) e um filho da puta do meu lado que julgava ter um "dito cujo" muito grande, já que ele ficou tomando o meu espaço o tempo todo abrindo suas pernas. Além disso, roncou PRA CARALHO do meu lado. Que ódio!

Tá, ainda tô parecendo irritada, né? Mas imagina que eu não aguentava mais ficar sentada no avião - as costas doíam, as pernas doíam, os olhos doíam. Assisti um episódio de Friends, um de Louie, um de Modern Family, além de ter visto dois filmes: "The secret life of Walter Mitty" (filme de auto-ajuda meio água com açúcar mas com paisagens de tirar o fôlego) e "Frozen" (eu era a única que ainda não havia visto e logicamente, quis sair cantando e dançando as músicas do filme pelos corredores do Boeing da Air France).


turista X morador e um texto do Estadão

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Esses dias uma galera que mora aqui na Irlanda divulgou um artigo que saiu no Estadão sobre a Irlanda e a Irlanda do Norte. A autora do texto foi convidada pela British Airways e Tourism Ireland pra escrever a matéria.

Bom, aí que quando eu li o texto fiquei pensando em como a nossa percepção é diferente quando moramos num lugar e quando somos só turista. E comentei isso com Bia e Rick e eles também tinham vários pontos interessantes sobre o tal artigo. Aí resolvemos nós três escrever sobre o assunto.

A autora começa o texto citando a coisa dos clichês, que aqui na Irlanda, têm a ver com a bebida, com os ruivos, U2, etc. Menciona também nomes de grandes escritores irlandeses como Wilde, Shaw e Joyce; beleza, a introdução tá bacana e engraçadinha. Até o momento em que ela faz um parágrafo super "classe média sofre": "Você já foi mil vezes para Londres, conhece Paris de ponta-cabeça e pega o metrô em Berlim com mais tranquilidade do que em São Paulo, mas não conhece Dublin nem Belfast. Que tipo de globetrotter é você, afinal?". Ai gente, me poupe, quanta arrogância!

Vergonha e orgulho

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Pode parecer bobagem, mas quando algum não-intercambista aqui pergunta com o quê eu trabalho, fico envergonhada de dizer que sou babá.

Nunca ninguém me distratou ou fez algum comentário que diminuísse esse fato, pelo contrário; sempre demonstram interesse e perguntam. Mas a verdade é que no fundo, no fundo, uma parte de mim se sente um pouco com vergonha de dizer se sou babá sim. Besteira, né? É um trabalho como qualquer outro. Um trabalho, aliás, que me permitiu viajar pra um monte de lugares na Irlanda e na Europa toda, que me permite pagar o aluguel, as contas, que dá conta da minha alimentação e de todos os meus passeios. Ora, no Brasil eu não conseguiria fazer nada disso com o meu salário de professora. 


Sempre sem dinheiro, mas pelo menos aqui, viajando.

As distâncias mais curtas

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Desde muito cedo aprendi a gostar de tecnologia. Meu pai adorava ser o primeiro a ter as coisas e sempre investia em novidades: lembro de nosso Windows 95, do nosso VHS 6 cabeças, do cd player de última geração da Sony. O fato é que por ter sempre sido exposta a tudo isso, me apaixonei pela magia da tecnologia muito cedo. Com nosso Windows 98 já tínhamos acesso a internet e com isso, eu passava horas pesquisando sobre coalas e Backstreet Boys. 

Minha primeira conta de e-mail foi criada em 1999 (saudades BOL, todo brasileiro tem direito a internet grátis) e desde então, nunca mais larguei a internet. Foi através dela que fiz grandes amigos, que aprendi muita coisa, que pesquisei inúmeros assuntos pra trabalhos de escola e faculdade, que baixei músicas e seriados, etc etc etc. 

Tudo isso pra contextualizar uma coisa que eu venho pensando há um tempo: como o intercâmbio seria diferente se a tecnologia não fosse como é hoje!

Professor tem que ser professor de verdade

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O meu post sobre professores nativos e não-nativos teve muitas visualizações e repercutiu um pouco na sessão de comentários e no meu facebook também. Por isso, resolvi escrever sobre uma coisa que acabei deixando meio de lado no primeiro post e que faz toda a diferença no que diz respeito ao ensino de línguas: ter aptidão e "talento" pra ensinar. 

Não importa se o professor é nativo ou não, não importa se tem mil qualificações ou só uma. Se ele/ela não tem o jeito pra coisa, não vai rolar. Ora, quantos professores você já teve (tanto na escola como em cursos livres ou faculdade) que tinham um puta currículo mas uma aula de merda? Desculpa usar esse termo, "de merda", mas não é a verdade? 

Professores mestres, doutores, com pós-doutorados internacionais e uma aulinha medíocre. Professores com o básico de formação com aulas incríveis. O fato é que, sim, ter habilitações e boa formação dá credibilidade e conhecimento ao professor - não quero ter aula de matemática com uma pessoa que não seja formada em matemática, sabe? É o mínimo. Agora, ser formado em matemática não significa que a aula dessa pessoa será boa, sabe? Não funciona assim.


Professores nativos ou não-nativos: o que é melhor?

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Eu tava pensando nesse assunto umas semanas atrás, depois de ter feito minha primeira aula de alemão. Na verdade, sempre penso e falo sobre isso com amigos... Qual a diferença de ter aula com um professor nativo e um não-nativo no idioma que ele ensina?

Primeiro quero deixar claro que, talvez inconscientemente, eu defenda o não-nativo por ser brasileira e dar aula de inglês, mas o fato é que depois de quase 10 anos como professora (gente, tudo isso?!), de
conhecer muita gente na área e de ver professores nativos em ação aqui na Irlanda, não tem como não defender a minha classe. 

Já começa por um pequeno detalhe que faz uma puta diferença: geralmente o professor nativo não estudou pra ser professor. Ele trabalha com qualquer outra coisa e resolveu dar aula (seja em seu país de origem ou fora) pra ganhar uma graninha a mais. Eu disse geralmente porque sim, existem professores que estudaram pra exercer essa profissão. 

Morar com estranhos é foda

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Eu não queria postar texto reclamão logo no começo do ano, ainda mais porque tô com uma lista enorme de posts super legais pra colocar aqui (as viagens, o Natal, meus 10 meses de Irlanda), mas cara, eu precisava interromper tudo isso pra desabafar: tô de saco cheio de morar com estranhos.

Sim, podia ser pior: tem casa de estudante que faz festa todo dia, que a galera não limpa de jeito nenhum, que o povo fuma maconha na sua sala, e aí por diante. Nesse aspecto, tive "sorte", já que nunca enfrentei problemas do tipo. No entanto, apesar de já ter morado/morar com pessoas eu gosto, nem todas são minhas amigas, né?

Depois de 9 meses você vê o resultado

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Eu tinha toda uma piadinha engraçada com a música do saudoso É o Tchan e os meus 9 meses de Irlanda, mas a Jamile falou primeiro. Além disso, uma recente notícia me abalou e quase esqueci que hoje celebrava mais um mês de Irlanda. Mas a vida continua, o blog me ajuda a desabafar, então eu vim escrever, nem que seja só um pouquinho.

Do meu oitavo mês pra cá, poucas coisas mudaram. Continuei na rotina do trabalho e entrei de férias semana passada, o frio se manteve (com a exceção de uma semana de muito calor em pleno dezembro), não visitei mais nada em Dublin. Em compensação, vi o show da nova turnê da Laura Pausini e conheci Roma e acabei de chegar de uma viagem pra Bratislava, na Eslováquia e Viena e Salzburgo, na Áustria - que foi maravilhosa! Comemorei meu primeiro aniversário longe de casa e comecei a contagem regressiva pra minha viagem de Ano Novo com a família.

No entanto, nem tudo foram flores. No último dia 18 recebi a notícia do falecimento de uma pessoa muito próxima, mas que por diversos percalços e desvios da vida, já não era tão mais próxima. Mas ele era meu pai, sempre foi e sempre vai ser. E foi ele que sempre me incentivou a falar inglês, a ler, a escrever (como ele gostava de escrever!). E isso não foi pouca herança não: grande parte do que sou e do que faço deve-se a isso. Foi e está sendo difícil lidar com essa perda tão longe da família, mas me conforta saber que não estou sozinha (R., não preciso nem falar, né?) e que logo minha mãe e irmão estarão aqui comigo.

No meu aniversário minha amiga enviou alguns vídeos com depoimentos de familiares e amigos desejando "parabéns". No depoimento do meu pai, ele diz que eu tava "saindo melhor que a encomenda" e que ele estava muito orgulhoso de mim. Isso me conforta também.

9 meses de Irlanda, muitas alegrias, algumas tristezas, mas a vida continua! Que venham os 10.
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