Se você for contar o número de posts que eu tenho aqui sobre as meninas que eu cuidei por 1 ano (2013/14) e dos meninos que já cuido há mais de 1 ano (2014/15), vai notar que tenho muito mais posts sobre elas. A verdade é que, por ser uma novidade (cuidar de criança), tudo era muito interessante e eu escrevi sobre diversos aspectos de conviver com elas como preconceito linguístico dentro de casa, pequenos diálogos com as meninas, evolução da fala, fofura overload, músicas infantis, etc, etc, etc.
Não escrevi tanto sobre os meninos porque eu já estava mais acostumada, eles já eram um pouco mais velhos e não me despertaram tanto "interesse investigativo" quanto elas, principalmente no que diz respeito à língua, que é a minha área.
Na verdade, desde o começo observo e comparo o desempenho linguístico do S., que agora tem 3 anos e meio e da C., que na época em que eu saí tinha 2 anos e falava muito mais frases coerentes do que ele. Vantagem de menina sobre menino? Pode ser. O que tenho aprendido é que essa coisa da fala é muito particular e não dá pra ficar comparando criança não. O R. tem um sobrinho da mesma idade do menino mais novo que eu cuido que tem a fala muito mais fluída e clara, por exemplo.
Mas desde que comecei a estudar na UCD e ler aquela porrada de livros, comecei a rever vários conceitos que já tinha aprendido e também a aprender novos. E um deles linkou perfeitamente com o que tenho visto do pequeno S. ultimamente: sua ordem de aquisição linguística.
Basicamente e resumidamente, nos anos 60 alguns pesquisadores estudaram de perto o desenvolvimento de algumas crianças de diferentes idade e perceberam que elas adquiriam os morfemas gramaticais numa sequência parecida:
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Antes de ir ao Brasil por 3 semanas, aconteceu um lance no trabalho que me intrigou demais. Intrigou na verdade é modesto, o lance me deixou revoltada mesmo. Mas vamos aos poucos.
Você já ouviu falar em preconceito linguístico?
De maneira simplificada, preconceito linguístico é o julgar alguém ou um grupo por conta de seu modo de falar. Ele pode vir disfarçado de tom de brincadeira, pode ser mais direto e desrespeitoso, mas ele tá sempre lá. Quer ver como? Gente que tira sarro de quem faz o R caipira, gente do sul/sudeste que imita algum sotaque do norte/nordeste, gente que julga o nível intelectual do outro por ele cometer erros gramaticais como não usar plural, só pra citar alguns exemplos.
O assunto é longo e complexo e como o blog não é tese de monografia, não vou me alongar nisso. Mas antes de contar o porquê deu estar falando desse assunto, recomendo MUITO a leitura desse texto da Revista Galileu (é um texto curtinho e muito elucidativo).
Apesar de brasileira, quando falo inglês acabo usando um sotaque meio americano, ou como já ouvi muitas vezes aqui, tenho um tal de American twang (tendo crescido e passado anos assistindo filmes e seriados americanos, não podia dar em outra). Aí inevitavelmente eu falo wárer ao invés de watttter, burer ao invés de buttter, etc. Só que por trabalhar e viver na Irlanda, às vezes acabo misturando um pouco com a forma que os irlandeses usam, principalmente com as meninas, que estão mais acostumadas e expostas à maneira local de falar.
Você já ouviu falar em preconceito linguístico?
De maneira simplificada, preconceito linguístico é o julgar alguém ou um grupo por conta de seu modo de falar. Ele pode vir disfarçado de tom de brincadeira, pode ser mais direto e desrespeitoso, mas ele tá sempre lá. Quer ver como? Gente que tira sarro de quem faz o R caipira, gente do sul/sudeste que imita algum sotaque do norte/nordeste, gente que julga o nível intelectual do outro por ele cometer erros gramaticais como não usar plural, só pra citar alguns exemplos.
O assunto é longo e complexo e como o blog não é tese de monografia, não vou me alongar nisso. Mas antes de contar o porquê deu estar falando desse assunto, recomendo MUITO a leitura desse texto da Revista Galileu (é um texto curtinho e muito elucidativo).
Apesar de brasileira, quando falo inglês acabo usando um sotaque meio americano, ou como já ouvi muitas vezes aqui, tenho um tal de American twang (tendo crescido e passado anos assistindo filmes e seriados americanos, não podia dar em outra). Aí inevitavelmente eu falo wárer ao invés de watttter, burer ao invés de buttter, etc. Só que por trabalhar e viver na Irlanda, às vezes acabo misturando um pouco com a forma que os irlandeses usam, principalmente com as meninas, que estão mais acostumadas e expostas à maneira local de falar.
Eu sei, vivo falando da fala das meninas de 3 e quase 2 anos que cuido. Mas é que elas não páram de me surpreender. A cada dia, a cada semana, eu vou vendo o quão fluída é a fala delas e o quão esperta elas são e fico me perguntando: como não vi isso acontecer?
Quando comecei a trabalhar lá, a mais velha, na época com pouco menos de 2 e meio, já falava tudo. A mais nova só tinha algumas palavrinhas e aos poucos foi adquirindo linguagem de uma maneira espantosa. Muito disso certamente deve-se ao fato de que ela tem a irmã pra usar de exemplo: a C. é um verdadeiro papagaio, copia TUDO que ouve ao seu redor. Aliás, tenho que tomar cuidado com o que falo porque ela repete tudo e acha a maior graça.
Quando comecei a trabalhar lá, a mais velha, na época com pouco menos de 2 e meio, já falava tudo. A mais nova só tinha algumas palavrinhas e aos poucos foi adquirindo linguagem de uma maneira espantosa. Muito disso certamente deve-se ao fato de que ela tem a irmã pra usar de exemplo: a C. é um verdadeiro papagaio, copia TUDO que ouve ao seu redor. Aliás, tenho que tomar cuidado com o que falo porque ela repete tudo e acha a maior graça.
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| Não vou expô-las, mas acredite, elas são lindas! |
Como cêis sabem, eu trabalho como babá aqui na Irlanda e o que mais gosto de fazer é conversar com as meninas e perguntar o que se passa na cabecinha delas. Todo dia tem alguma pérola ou coisa engraçada, mas nunca lembro de colocar no papel. Aí fiz um esforcinho de memória e reuni alguns diálogos e situações pelas quais passei com elas...
1) Indo pro parque outro dia, eu perguntava sobre o que elas haviam feito no St. Patrick's Day:
Eu: I went to the parade too! I went to the one in Dublin with my friends and my boyfriend.
É.: Boyfriend? What's your boyfriend's name, Barbar?
Eu: It's R.
É.: And your girlfriend?
Porque amor não tem barreiras de gênero!
1) Indo pro parque outro dia, eu perguntava sobre o que elas haviam feito no St. Patrick's Day:
Eu: I went to the parade too! I went to the one in Dublin with my friends and my boyfriend.
É.: Boyfriend? What's your boyfriend's name, Barbar?
Eu: It's R.
É.: And your girlfriend?
Porque amor não tem barreiras de gênero!
A minha parte preferida de ser babá é sem dúvidas poder observar a evolução linguística das meninas. Quando comecei pra trabalhar pra essa família em agosto, a mais velha na época com mais ou menos 2 anos e meio, já falava tudo e se expressava muito bem, embora cometesse alguns erros de gramática.
Já a pequena C. tinha um ano e pouco e entendia tudo, mas seu vocabulário se restringia a poucas palavras e a cada semana este expandia pra mais palavras e pra combinações também (I'm laughing, more water, not apple, etc).
Até fiz um post falando sobre os erros e acertos gramaticais que elas cometiam aqui.
Pensa numa coisa fofa, bem fofinha. Uma coisa adorável, uma coisa que não tem como não dizer "owww" quando você vê. Então. Eu tenho vááááários desses momentos no meu dia-a-dia com as meninas - quando elas falam alguma coisa engraçadinha, quando fazem uma cara bonitinha, enfim... até o marmanjo dos marmanjos derreteria diante da fofura que elas são às vezes.
E aí eu me peguei aprendendo/usando um vocabulário totalmente novo no meu mundo: se antes eu usava a palavra "cute" pra descrever uma coisa fofa, hoje eu uso várias variações com as pequenas É. e C.:
cutie
cutie pie
sweetie
sweetie pie
cutest thing
cutie lovie
Eu já dei aula pra criança e por conta disso sabia uma ou outra música infantil, mas o fato é que como eu nunca dei aula pra criança muito pequena (com exceção de uma turminha na Fisk no segundo horário da manhã - que bonitinhos!), sabia mais as músicas as que já tem versões brasileiras (a música da aranha que subiu pela parede e a da estrelinha lá no céu). Ah, sem deixar de lado a música que mais cantei em sala de aula: a música do alfabeto.
Quando comecei a trabalhar com a família M. aqui na Irlanda fui apresentada ao mundo das nursery rhymes - assim são chamadas as canções de ninar. A mãe das meninas canta várias pra elas e elas são muito musicais (ambos os pais tocam instrumentos) e cantam o tempo todo. Logo de cara, aprendi a música do peixe, a da black sheep e a do humpty dumpty. Além disso, com a ida à biblioteca toda quinta-feira, meu repertório aumentou bastante: já sei cantar a do wheels on the bus, a jelly on the plate (minha preferida) e a row row row your boat.
E venho aqui contar mais um episódio das menininhas que eu cuido aqui na Irlanda. Não é bem um episódio em específico, mas um apanhado do vocabulário especificamente infantil que elas usam. Lembra, por exemplo, quando você era criança e falava "pepeta" ao invés de "chupeta"? Tipo isso.
Como eu sei que você gostam quando eu falo das menininhas que eu cuido, resolvi gravar mais um vídeo. O foda é que quando a É. fala as pérolas dela tô longe do celular e não dá pra pedir pra falar de novo, perde toda a espontaneidade, né? Esses dias resolvi fazer umas perguntas aleatórias pra ver se saía alguma coisa engraçada, e como sempre, saiu.
Antes, vou contextualizar: a É. vai fazer 3 anos em fevereiro é super tagarela - fala e canta o dia inteiro, pergunta o porquê das coisas e tem boa memória. Um exemplo: os pais dela tem amigos na Noruega e já levaram as meninas pra lá numa viagem. Pois até hoje ela fala da "Norway" (ainda que erre o tempo correto da viagem - às vezes diz que foi pra lá "ontem", às vezes "semana passada", às vezes "quando era bebê"), das coisas que fez lá e das pessoas que conheceu.
Eu tava com ela na sala e perguntei onde estava a mãe dela, a irmã e o pai. O pai das meninas é músico e está em turnê pela Europa e ela sabia até o lugar onde ele tava naquele dia! Na parte em que ela fala da irmã no vídeo dá pra observar um dos erros que citei nesse post aqui.
Antes, vou contextualizar: a É. vai fazer 3 anos em fevereiro é super tagarela - fala e canta o dia inteiro, pergunta o porquê das coisas e tem boa memória. Um exemplo: os pais dela tem amigos na Noruega e já levaram as meninas pra lá numa viagem. Pois até hoje ela fala da "Norway" (ainda que erre o tempo correto da viagem - às vezes diz que foi pra lá "ontem", às vezes "semana passada", às vezes "quando era bebê"), das coisas que fez lá e das pessoas que conheceu.
Eu tava com ela na sala e perguntei onde estava a mãe dela, a irmã e o pai. O pai das meninas é músico e está em turnê pela Europa e ela sabia até o lugar onde ele tava naquele dia! Na parte em que ela fala da irmã no vídeo dá pra observar um dos erros que citei nesse post aqui.
Sim, eu já falei que adoro cuidar da É. e da C., que elas são fofinhas e mordíveis e tal tal tal. O que eu nunca contei é que a parte preferida de conviver com elas é ver as bichinhas falando inglês. A É. já me surpreendeu de cara, pois eu jamais imaginei que uma criança de 2 anos e meio pudesse ser tão falante e tão eloqüente. A C. tinha poucas palavrinhas mas em 3 meses consegui ver uma evolução absurda: hoje, além de ter vááárias palavras e inclusive juntar 2 ou mais palavras (more juice ou look at this), entende tudo, tudo. Se eu fizer perguntas fechadas (você quer o x ou o y? quer colocar ou tirar a blusa?) ela sempre entende e responde.
Mas elas são crianças e por serem crianças, comentem erros de gramática. O interessante, nesse caso, é que venho observando que os erros que a É. comente são erros que os meus alunos brasileiros cometiam. Se há alguma relação ou motivo pra esses erros acontecerem tanto com uma criança nativa no idioma como para alguém que está aprendendo o inglês como segunda língua já adolescente ou adulto não sei, mas o assunto me intriga bastante.
Por outro lado, ela utiliza palavras e pequenas construções que costumam ser ensinadas em níveis um pouco mais avançados no estudo de línguas; É. também faz uso de coisas que meus alunos viviam esquecendo ou ignorando.
Tomei nota de três erros constantes que ela comente, assim como três coisas positivas.
Mas elas são crianças e por serem crianças, comentem erros de gramática. O interessante, nesse caso, é que venho observando que os erros que a É. comente são erros que os meus alunos brasileiros cometiam. Se há alguma relação ou motivo pra esses erros acontecerem tanto com uma criança nativa no idioma como para alguém que está aprendendo o inglês como segunda língua já adolescente ou adulto não sei, mas o assunto me intriga bastante.
Por outro lado, ela utiliza palavras e pequenas construções que costumam ser ensinadas em níveis um pouco mais avançados no estudo de línguas; É. também faz uso de coisas que meus alunos viviam esquecendo ou ignorando.
Tomei nota de três erros constantes que ela comente, assim como três coisas positivas.
Lembra do Zequinha do Castelo Rá-tim-bum?
E assim até o infinito.
Pois é. Tenho que lidar com coisa parecida todo dia.
É uma gracinha a É. perguntando as coisas, mas depois de você responder, ela continua perguntando. Se tá chovendo e eu falo "look É., it's raining!", pronto - aí começa o festival de "why":
- why?
- because water is falling from the sky.
- why?
- because it's raining!
- why?
- it's raining because it's not sunny!
- why?
- because water is falling from the sky.
E assim até o infinito.
Eu não sou a maior fã de criança do universo - apesar de já ter dado aula pra pequenos e de estar trabalhando full-time com duas mocinhas: uma de 15 meses e uma de 2 anos e meio.
No entanto, o mais interessante e fascinante pra mim é acompanhar a evolução da fala das crianças. Acho impressionante, por exemplo, como a E., mais velha que eu cuido, tem até um sotaquinho irlandês. Ela fala, fala, conversa pelos cotovelos. O vocabulário dela é bem extenso e apesar dela cometer alguns errinhos de gramática (como verbos no passado), E. conhece diferentes estruturas da língua.
Ela pega o telefone de brinquedo, finge que tá ligando pro tio e diz "what's the craic?!", hahaha! Claro que, por ser uma criança, nem sempre entendo o que ela fala. Quando isso acontece, peço pra ela me mostrar ou apontar o que ela quer, funciona sempre.
Outro dia brincávamos com o canguru de pelúcia. Eu comecei:
