Quando morar fora não faz nada pelo seu inglês

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Quantas e quantas vezes, em todos esses anos como professora de inglês, ouvi de colegas, chefes e alunos que o negócio era morar fora? Que a pessoa só ficava fluente depois de passar um tempo em outro país? Que fazer "cursinho" em escola de idiomas não era a solução pro problema de falar inglês?

São tantas besteiras que vão sendo propagadas sem ninguém saber de fato o que é real e o que não é que me dá até desgosto de trabalhar com isso às vezes. É conversa em sala dos professores, é você ouvir de alunos NA SUA CARA que depois do cuso ele vai "pra fora" pra melhorar o idioma... Mas eu sou brasileira e não desisto nunca. Não desisto de tentar fazer as pessoas entenderem que não, morar fora pode não fazer absolutamente nada pelo seu inglês.

E se antes poderia parecer inveja da minha parte porque eu nunca tinha morado fora (sim, já ouvi esse argumento!), depois de 1 ano e 4 meses de Irlanda posso garantir que vi com meus próprios olhos. Chega a ser constrangedor em alguns casos; em outros me dá até dó.

Mas vamos devagar. Primeiramente, o que é ser fluente?

A maioria das pessoas vai dizer que ser fluente é certamente entender filmes, conseguir conversar com as pessoas e ler um jornal como um nativo na língua. Outras vão dizer que ser fluente é saber bem a gramática. Outras vão dizer que ser fluente é ter o mínimo de sotaque possível e não cometer erros.

Uma coisa tem que ficar clara: ser fluente não significa ter domínio de conteúdo avançado da língua. Ora, se fosse assim, uma criança brasileira não poderia ser considerada fluente na língua portuguesa por não dominar a norma culta.

Pense nas pessoas que você conhece. Elas tem domínio da norma culta da língua portuguesa? Não cometem erros gramaticais, de concordância, de ortografia?

Sim, minha gente, o nativo na língua comete erros, não decorou nenhum livro de gramática e também não sabe o significado de todas as palavras do dicionário.

O que eu quero dizer é que você pode sim ser fluente em diferentes níveis.

Você pode ser fluente no "Básico 1". Você pode ser fluente em fazer reservas pelo telefone. Você pode ser fluente em situações específicas.

Fluência é uma habilidade. E habilidade não é adquirida instantaneamente - ela exige prática e exige que você torne o processo o mais automático possível. Um jogador de futebol é treinado pra saber como e quando chutar pro gol e ele faz isso em questão de segundos, quase sem pensar. Ele praticou diversas vezes pra fazer aquilo, de modo que o chutar pro gol se tornou automático.

Vou continuar usando a analogia do futebol. O artilheiro é quem, o cara que faz gol, né? Geralmente ele é atacante (ou meia, sei lá) - ele treina incansavelmente pra fazer os gols, ele é fluente em fazer gols, entende?

Eu não tô inventando nada disso não, dá pra encontrar diversos estudos que abordam o tema.



Você quer ser fluente em inglês. Mas fluente em quê? Você quer o inglês pra quê? É pra participar de reuniões no trabalho? É pra atender telefone? É pra viajar a lazer? Tudo isso precisa estar muito claro pra que você consiga focar no seu objetivo e não se frustrar no caminho.

Depois de tudo isso sobre ser fluente, um outro ponto: morar fora te coloca numa imersão.

Claro que sim. Ora, eu jamais saberia de várias coisas que hoje sei se não estivesse morando na Irlanda. Aprendi diversas expressões linguísticas e características culturais dos irlandeses. Mas eu me interesso, eu observo, eu vou atrás. O perfil do brasileiro que vem pra cá infelizmente é outro: é o perfil do cara que quer sim morar fora, mas que por algum motivo não consegue desprender da sua própria cultura. Ele mora com brasileiros, tem amigos brasileiros, vai na festa brasileira e come comida brasileira. Parabéns! Você gastou uns 20 mil reais pra morar na Irlanda pra continuar vivendo sua vidinha de Brasil.

Talvez seja o medo de não conseguir se comunicar com os locais; medo de estar sozinho num país estranho (porque por mais tenhamos amigos, namorados, colegas, flatmates, estamos sim, sozinhos aqui); talvez seja o fato da grande maioria das escolas oferecer aulas medíocres que deixam o aluno desmotivado. Não sei.

Tive diversos alunos que tinham grande facilidade em se comunicar em inglês, cometiam poucos erros e escreviam super bem sem nunca ter colocado os pés pra fora do Brasil - eu mesma sou um exemplo. Morar fora não é a solução das suas frustrações com escolas de inglês, com as suas várias tentativas de tentar "colocar o inglês na cabeça"; morar fora não vai magicamente fazer com que você "se torne fluente" em 3, 6 meses, 1 ano. Morar fora não vai fazer nada disso se a sua atitude e receptividade estiverem erradas.
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