De mão-beijada

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Cara, cuidar de criança às vezes é um saco. Principalmente porque você quer o melhor dela, quer que ela se desenvolva, que cresça bem... logo, tem que escolher sempre o caminho mais difícil. 

Por exemplo: é muito mais fácil dar a comida na boca do que fazer elas próprias comerem. Parece um clichêzaço falar isso, mas é verdade. Quando elas comem sozinhas, fazem bagunça, sujam a cara, o cabelo, a roupa, a mesa, absolutamente tudo. Quando você dá na boca, vai diminuir muito a chance de sujar as coisas. Outro exemplo: é mais fácil enfiar a criança num carrinho e empurrá-la do que fazer ela andar - há o perigo dela soltar da sua mão e sair correndo (já aconteceu comigo), de ficar com frescura e não querer andar, enfim.

São pequenas coisas que a gente tem vontade de fazer por eles, mas que no fundo, são eles mesmos que tem fazer - tentar, errar, aprender. 



Parecem inofensivas, né? RISOS

Eu trabalho 8h por dia com as meninas aqui em Dublin. Tenho todo o tempo do mundo, né? Então eu deixo comer sozinha, levo um tempão pra arrumar os brinquedos com a ajuda delas, tento ao máximo não me estressar, porque afinal de contas, sou paga pra isso, certo? Mas eu fico pensando numa mãe, num pai, que tem mil coisas pra fazer (só porque você teve um filho não significa que a vida pessoal parou) e ainda tem que fazer a mágica da paciência e deixar as crianças fazerem algumas coisas por si. Difícil! 

Eu vejo que os pais aqui onde eu trabalho tentam compensar um pouco a falta deles em casa com regalias pras meninas. De manhã a É. geralmente não tá no seu melhor humor e não quer comer, não quer se trocar e eles sempre estão atrasados pra escola. O pai pede, diz que estão atrasados mas nunca fala mais firme com ela - aí dá comida na boca, veste ela, enfim, faz tudo. Ele vive me perguntando se ela tem esses tantrums (quando criança dá xilique) comigo e eu fico até sem graça em dizer que não - não que eu seja melhor que eles, meu deus, não! - mas ela sabe que pode passar um pouco dos limites com os pais. 

Comigo, se não quer comer, eu não dou comida. Espero o tempo que for e se não quer mesmo, tiro o prato da mesa, me mantenho firme nas coisas que eu digo porque se não o fizer, aí elas acabam comigo! Esses dias fez um escândalo DO NADA porque não queria entrar no prédio. O bizarro é que ela tava de bom humor o caminho todo - foi chegar lá, fechou a cara, começou a chorar e não queria entrar. Arrastei a menina pelo braço (não foi cena bonita de se ver, ainda bem que não tinha ninguém por perto), coloquei no elevador e quando entramos em casa tentei conversar, perguntei o porquê dela estar chorando. Perguntas abertas geralmente não funcionam, então comecei com perguntas específicas: "você tá com fome? tá cansada? tá feliz? tá triste" até que ela começa a falar. Mas ela não queria, então deixei chorando uns 10 minutos e fui pra cozinha brincar com a mais nova. Pois não é que ela veio toda chorosa pedindo o blankely dela? Aí conversamos e ela disse que tava chorando porque queria ficar lá fora. Pronto, problema resolvido! 

Não é somente esse o motivo, mas é certamente um dos que me fazem não querer ter filhos - é muita responsabilidade, muito trabalho e constante cuidado pra ensiná-los a serem pessoas boas não somente pra eles mesmos e pro mundo. Not for me!
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