Além de Guinness e chuva, tem muita literatura por aqui

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Meu último passeio com a Bia aqui na Irlanda foi no Dublin Writers Museum. Fica perto do Garden of Remembrance, ao lado da Hugh Lane.

Eu já adianto que foi muito enriquecedor e que fiquei inspirada pra escrever a respeito. Se você não curte muito literatura, não tem problema! Tem umas curiosidades bem legais aqui (tipo Swift trocando cartinhas com menores de idade e Joyce escrevendo cartas calientes pra esposa! hahahaha)!



A Irlanda, e Dublin mais especificamente, é bem conhecida por sua literatura e autores aclamados por público e crítica. Vai dizer que você nunca ouviu falar de James Joyce, Yeats ou Bram Stocker?

O museu é pequeno: são duas salas no térreo e outras duas no andar de cima. A entrada, assim como no Museu do Leprechaun, é muito superfaturada: 6,30 euros para estudante. Tudo bem, eu não reclamo pagar pra entrar em museu, mas cara, o que o museu oferece não vale essa grana toda. De qualquer modo, lá fomos nós com os áudio-guias e o coração aberto.

O museu começa a falar da literatura na Irlanda desde o começo. Você pode ler o texto grandão na placa, ler um resumo em baixo ou ouvir o áudio-guia - todos continham informações diferentes. Como fiquei com medo de esquecer as coisas, tomei nota do que mais me chamava a atenção. A primeira delas foi uma frase num dos primeiros textos que falava do Reino Unido na Irlanda e dizia: "a maior arma que os ingleses deram pros irlandeses foi sua própria língua".

Ainda no primeiro andar você começa a ver placas e resumos sobre escritores e poetas específicos. Um deles é Jonathan Swift. Segundo as informações do museu, Swift era um cara melancólico e no fim da vida ficou louco e teve um derrame. Mas antes disso, o cara era bem do safadinho: homem barbado e desempregado, mudou-se pra Inglaterra e tornou-se secretário de um grande escritor chamado Willian Temple. Lá ele acabou conhecendo uma menina de oito anos chamada Esther Johnson - que as más línguas diziam ser filha do Temple com uma das amas da casa.

Só que aí o Swift desenvolveu um grande "afeto" por ela - dedicava seus poemas à menina e a chamada de Stella. GENTE!

Ele acabou indo morar em Londres e anos depois, ainda trocava cartas com a tal da Stella. Nas cartas ele citava encontros com políticos, a corte, a invasão do Rio de Janeiro pelos franceses nos idos de 1700 (oi?), seus sonhos e medos. Quando queria falar de assuntos ~íntimos~, se expressava numa linguagem cifrada - o que mais tarde acabou gerando a obra "As viagens de Gulliver" - que tem cara de infantil, mas fala sobre política e sociedade.

Uma pequena nota, mudando da água pro vinho: o teatro britânico no século 18 era dominado por peças irlandesas. Ironia definindo sempre.

Mudando de assunto mais uma vez: aqui em Dublin, perto da Grafton Street, tem uma estátua de uma mulher um tanto quanto voluptuosa chamada Molly Malone (aqui no Vida na Irlanda a Tarsila dá todos os detalhes). Ela na verdade é uma personagem fictícia e tem até música própria. Esse tipo de música no passado retratava os irlandeses como personagens e reforçava o esteriótipo de preguiçosos e beberrões dos locais - fato bastante contestado por escritores irlandeses posteriormente.

A música da Molly Malone é muito legal. Pior é que quando ouço essa música, imagino pessoas bêbadas com seus grandes canecos se abraçando e cantando.

Andando pelo museu ainda li bastante sobre Bram Stocker e a origem do "Drácula" (obra publicada em 1897 e que foi baseada numa história ainda mais antiga chamada "Carmilla"). Li também sobre George Shaw (sua única peça que fala sobre Dublin, por tratar de temas da época, foi vista por muitas figuras britânicas importantes - inclusive Rei Eduardo VII, que riu tanto quando viu a peça que quebrou a cadeira! hahaha).

Além desses autores, há um destaque para Yeats (tadinho, conheceu Maud Gonne, ativista e revolucionária irlandesa, escreveu poemas dedicados à ela, pediu em casamento diversas vezes e só levou não). Tem também John Synge, que com sua comédia "The playboy of the western world" levou a galera a loucura em 1907, quando 500 policiais foram solicitados pra controlar o povo nas ruas - que foi protestar porque considerou a peça uma ofensa à Irlanda.

Massssss, eu não podia falar desse monte de escritor irlandês sem falar do clássico James Joyce. Lá no museu eles dizem que há muito mais coisas escritas sobre Joyce do que sobre Shakespeare (hmmm). Além disso, dá pra saber bastante sobre sua obra mais famosa, "Ulisses" e como ela foi meio que "banida" aqui na Irlanda. Entre aspas porque não foi proibida oficialmente, mas também não era vendida nas lojas. Logo após publicar "Ulisses", Joyce disse: "For myself, I always write about Dublin, because if I can get to the heart of Dublin I can get to the heart of all the cities of the world. In the particular is contained the universal." 

Lindo, né?

Mas o grande momento (esse sim, de pura emoção) foi quando li a seguinte informação: "Joyce perdeu a virgindade com prostitutas aos 14 anos de idade".

ÃHN?

Revoltada e curiosa com essa informação, comentei com o R. mais tarde sobre isso. Ele me disse que é natural o museu dar uma palhinha desse lado do Joyce - segundo ele, o cara era safadiiinho (pelo jeito mais que o Swift, que comentei ali em cima). Safadinho não, o cara era taradão mesmo. Ele escrevia cartas à esposa. Não consigo nem descrever, porque o negócio é baixo, mas não deixa de ser engraçado, porque ele mistura uns "you're mine, baby, I love you" com "my little fucking whore" - HAHAHAHA!

Dá pra ler as cartas nesse link aqui

Por fim, duas outras curiosidades - estou falando de diversos autores irlandeses mas não mencionei Máirtín Ó Cadhain, nascido na região de Connemara (onde a presença do gaélico é muito forte) e que só escrevia nessa língua. Ele dizia que a língua era um instrumento flexível, capaz de transmitir emoções e pensamentos modernos. Seu romance "Cré na Cille" foi bastante comparado com "Ulisses".

A outra é sobre Samuel Beckett, que é considerado um dos autores mais importantes do século 20. Ele não gostava de publicidade em 1969 não participou da cerimônia do Prêmio Nobel, que ele ganhou. Ui!

No segundo andar do museu há basicamente galerias de pinturas e alguns objetos que pertenciam aos caras que mencinonei no post (e outros também).




De lá, voltamos ao térreo e ficamos um tempão babando nas coisas fofas da lojinha, que além de lojinha de coisas fofas, vende livros - livros de todos os autores irlandeses que você conhece no museu. Como boas intercambistas brasileiras, ficamos só na vontade, mas saímos muito, muito ricas.


Os caras
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