turista X morador e um texto do Estadão

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Esses dias uma galera que mora aqui na Irlanda divulgou um artigo que saiu no Estadão sobre a Irlanda e a Irlanda do Norte. A autora do texto foi convidada pela British Airways e Tourism Ireland pra escrever a matéria.

Bom, aí que quando eu li o texto fiquei pensando em como a nossa percepção é diferente quando moramos num lugar e quando somos só turista. E comentei isso com Bia e Rick e eles também tinham vários pontos interessantes sobre o tal artigo. Aí resolvemos nós três escrever sobre o assunto.

A autora começa o texto citando a coisa dos clichês, que aqui na Irlanda, têm a ver com a bebida, com os ruivos, U2, etc. Menciona também nomes de grandes escritores irlandeses como Wilde, Shaw e Joyce; beleza, a introdução tá bacana e engraçadinha. Até o momento em que ela faz um parágrafo super "classe média sofre": "Você já foi mil vezes para Londres, conhece Paris de ponta-cabeça e pega o metrô em Berlim com mais tranquilidade do que em São Paulo, mas não conhece Dublin nem Belfast. Que tipo de globetrotter é você, afinal?". Ai gente, me poupe, quanta arrogância!

Aí já fiquei desconfiada do texto, que segue falando do Temple Bar e seus pubs e música boa e sobre a questão da "paquera", dizendo que o povo aqui não é chegado numa coisa mais intensa. Discordo. Tudo bem que não sou a rainha da nightlife irlandesa, mas pelo pouco que vi e pelas histórias que ouvi, a paquera acontece sim, principalmente quando o álcool entra em ação, o que sempre rola por aqui.

Na sequência ela fala da Trinity College e sua biblioteca que exibe o Book of Kells (que morro de vergonha de dizer: ainda não fui ver!).

Depois a autora do artigo cita os arredores da cidade, mais especificamente o castelo de Malahide. Aí ela conta de uma maneira bem superficial e desdenhosa que o castelo não é nenhum "castelo de Cinderela", e que o passeio até lá vale mais do que a visita ao local. MENTIRA! O Castelo é muito legal, tem histórias interessantíssimas e jardins maravilhosos, além da praia que fica ali perto. Se a pessoa que for der sorte e pegar um dia de sol, vai curtir demais.

Por fim, o texto fala do Phoenix Park e seus dados impressionantes (um dos maiores parques da Europa, fica aberto 24h por dia, etc). Aí ela fala da cruz do papa, um monumento erguido no parque pra marcar a missa que o ex-papa João Paulo II fez no Phoenix Park em 1979. Só que ela diz que mais de 1 milhão de pessoas, "mais de um terço da população da cidade" foi à tal missa. Mas gente, 1 milhão de pessoas É A POPULAÇÃO DA CIDADE! Na verdade a autora quis dizer "mais de um terço do país", já que nos anos 70 a Irlanda tinha pouco mais de 3 milhões de pessoas.

Não vou entrar no mérito do texto conter informações erradas ou ser pretensioso ou arrogante. Eu queria era voltar no ponto inicial, que era sobre o tal do turista versus morador. Claro que hoje, depois de mais de 1 ano morando aqui, minhas percepções em relação à cidade são outras. Não acho que eu tenha perdido o encantamento, mas certamente me deparei com cenas e pessoas que me fizeram colocar os pés mais no chão. Dublin não é mil maravilhas, mas tem muitas maravilhas. A começar pelos parques: se eu fosse fazer um texto recomendando o turismo na cidade, eu certamente mencionaria o número e qualidade dos parques que existem aqui, principalmente o Stephen's Green, que fica no coração da cidade e parece que você entrou em outro mundo quando tá lá.

Aí eu também mencionaria a herança viking que a cidade tem - fazer um walking tour pra aprender mais a respeito ou até mesmo ir ao Dublinia é altamente recomendável!

E pra quem curte, aqui tem muita igreja, e igrejas lindíssimas, por sinal. Christchurch, Saint Patrick's Cathedral, só pra citar as mais centrais.

E os cafés, charmosos e cheios de coisas gostosas? E os buskers e performers na Grafton Street?

Isso porque historicamente, só citei a parte viking do negócio. Mas tem o lance da Grande Fome, tem o domínio do Império Britânico, tem as lutas pela independência, tem as guerras entre República e Império na Irlanda do Norte (a autora do texto do Estadão fala rapidamente de Belfast e nem sequer lembra desse aspecto tão essencial e importante pra entender a cidade. Ela faz uma frase sobre o Titanic e fica por isso mesmo), tem o Tigre Celta e a falsa prosperidade na economia do país... E se formos expandir pro país todo, nossa, aí eu ficaria horas aqui elencando as coisas bacanas e interessantes que dá pra conhecer e visitar.

Então é isso. Eu não gostei do texto do Estadão e queria dar o meu pitaco aqui.



E você, o que acha da relação turista X morador? Já conheceu ou morou (ou ainda mora) aqui em Dublin? Concorda com o texto que mencionei? Deixe sua opinião!
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