Instrução, modelos e repetição

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Eu sou professora de inglês desde os 17 anos de idade e já participei de inúmeros treinamentos. Sério, não consigo nem contabilizar porque foram muitos meeeesmo. E sobre todo tipo de assunto relacionado ao ensino de língua que você possa imaginar.

Quando eu trabalhava na Cultura sempre rolava treinamento e coaching (alguns professores eram "acompanhados" semanalmente por outro professor mais experiente ou do departamento acadêmico a fim de melhorar suas aulas e tal) e sempre rolava um papo que eu já tava cansada de ouvir: instrução, modelos e repetição. Eu não aguentava mais ouvir esses termos ou seus sinônimos, por mais que eu acreditasse neles - era bem aquela coisa "ahhh meu, já sei disso, já sei, não quero mais ouvir falar!!!".

Só que só agora, na pele de aluna (de básico 1 de alemão) eu vejo ali na minha frente o quão certeiro é esse tal "mantra".

Numa turma de básico 1 onde o cara tá aprendendo a se apresentar, falar sua idade, de onde vem, o que gosta, é essencial que o professor explique e deixe bem claro o que espera do aluno nos exercícios. Não adianta o professor falar um monte de blá blá blá do tipo "agora abram o livro na página x, nós vamos ouvir duas pessoas conversando e você tem que marcar verdadeiro ou falso". Numa sala de alunos iniciantes, tem que quebrar essas instruções e mostrar o passo-a-passo e garantir que tá todo mundo ciente do que tem que ser feito. Há várias maneiras de checar se os alunos estão "com você", várias técnicas que não convém descrever aqui porque senão ninguém lê mais o post. O que eu quero dizer com tudo isso é que eu vejo a minha professora de alemão e quero morrer com as instruções que ela dá. Primeiro que não é nem pelo alemão em si, já que ela acaba falando muita coisa em inglês mesmo. O foda é que ela não explica direito como quer os exercícios e as pessoas ficam perdidas sem saber como faz, é muito constrangedor e tenho certeza que os outros alunos ficam sem graça também. Eu já sabia da importância da clareza nas instruções quando eu dava aula pra turmas de básico, mas agora eu tenho ainda mais certeza dela.

Além disso, tem a questão de providenciar o modelo pro aluno. O cara que tá no básico está inseguro com pronúncia, vocabulário, gramática, um monte de coisa acontecendo ao mesmo tempo. Aí o professor manda fazer o exercício x ou pede para os alunos conversarem sobre o assunto y, quando ele não sabe nem por onde começar. Os professores de italiano que tive no Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro, em São Paulo, também eram mestres em pedir pros alunos falarem sem sabermos exatamente o que falar.

Um exemplo: na última aula de alemão a professora nos deu cartões com a descrição do clima de algumas cidades. Cada pessoa tinha uma cidade e deveria perguntar pra outra sobre o clima da cidade do cartão dela e anotar as informações. Bem, aí que ela não praticou a pergunta que deveríamos fazer ("como é o clima na sua cidade?") e ainda interrompeu o exercício váááárias vezes pra ir acrescendo vocabulário na lousa. Totalmente bagunçado, sabe? Ela deveria ter colocado as perguntas na lousa ou escrito no próprio cartão que tínhamos em mão, assim como o modelo da resposta, tipo "o clima na minha cidade é ____". Num nível básico providenciar esse modelo é fundamental pra que o aluno fique mais confiante e consiga estruturar melhor suas frases.

Por fim, a questão da repetição, que é a que mais me incomoda. A professora fala fala fala fala e NUNCA PEDE pra gente repetir. Quando pede, é sempre uma repetição por grupo e repetição individual. Não tem variação disso, aliás, mal tem isso. Estamos no básico 1, porra, precisamos repetir tudo! Eu sei ler, eu sei como a palavra soa na minha cabeça, mas eu preciso falar com a boca, sabe? Isso é essencial pra quem tá começando a aprender um idioma. Fico totalmente insegura com a minha pronúncia, chateada mesmo.

A gente sempre inventava modos de fazer os alunos repetirem de uma forma não cansativa - afinal de contas, a repetição, além de ajudar na pronúncia, também faz com que o vocabulário/gramática fixem melhor na memória. Tinha sempre um papo na sala dos professores sobre alguma atividade que um ou outro fez pra executar melhor esse aspecto das aulas. E ó, não é me gabando não, mas eu acho que fazia um bom trabalho nisso - como eu amava dar aula pra turmas de básico e pré-intermediário! Eu gostava dos mais avançados também, mas putz, que gostoso ver os alunos começando do zero e aprendendo o idioma.

Um dos segredos do ~sucesso~


Enfim, agora que estou do outro lado da história fico pensando que os tais treinamentos chatos e coaching infinitos eram uó, mas tinham fundamento. Tem coisa que faz uma puta diferença na aula, mesmo.
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