Já tive a oportunidade de conhecer os castelos de Malahide, Kilkenny, Blarney e agora o de Trim. Me sinto muito, muito sortuda por poder ver essas maravilhas todas de perto, já que nunca tinha visto nada parecido pessoalmente (ainda mais porque o Brasil é mais novo do que esses monumentos todos, aí fica mais difícil, né?).
Trim fica no condado de Meath, a uns 45km de Dublin. Dá pra pegar ônibus na rodoviária (praticamente de meia em meia hora) e ele custa 14 euros e alguns centavos ida e volta (que valem para o dia todo, sem horários marcados). O Castelo de Trim é considerado um dos mais antigos e maiores do país.
Como o tour demoraria mais de meia hora pra começar, ficamos andando por ali e aproveitamos o lindo dia pra tirar umas fotos:
Às 12h30 o tour começou. A guia, chamada Eleanor, era uma fofa e falava muito, muito bem. O sotaque era bem leve (ou será que eu é que acostumei?) e durante todo o tempo ela demonstra muita paixão e intensidade na sua fala - o que acaba sendo bem inspirador e te faz ficar interessado no que ela tem pra falar.
Durante o tour, ela conta diversas curiosidades e pontos interessantes sobre o castelo, que tem mais de 600 anos e foi construído pelos normandos para causar algum tipo de imposição na Irlanda, pra marcar território mesmo. Só que eles eram meio paranóicos com segurança. As portas, por exemplo, podiam ter 90cm de largura; as paredes eram brancas para que a pouca luz do sol que entrasse refletisse nos cômodos e as janelas não eram muito largas pra evitar que os "inimigos" usassem as janelas para invadir o local; aliás, falando em inimigos, o mais bizarro é que toda essa preocupação com a segurança era contra os próprios normandos, já que não havia motivo pra temer ninguém mais querendo chegar por ali.
Aproximadamente 15 pessoas viviam ali e acredito que passavam um bom frio, porque 1) na Irlanda faz frio e venta muito e 2) não havia sistema de aquecimento pelos cômodos, a não ser na sala principal. Apesar disso, o castelo contava com sistema desenvolvido de abastecimento de água e até "banheiros" parecidos com o que temos hoje em dia: um espaço no quarto continha um buraco no chão, que recebia os dejetos e os levava para uma fossa láááá em baixo. Sendo assim, ninguém precisaria remover nada do quarto como era feito em casas nos tempos medievais. Só que mal cheiro poderia subir pelo "cano" até o quarto, então por isso havia uma porta que separava esse pequeno espaço do resto do quarto.
Ao subir as escadas até a torre, a guia deu mais um exemplo de como os caras eram loucos por segurança: os degraus tem diferentes tamanho e formas, dificultando a subida/descida pra quem não está familiarizado com os mesmos. E mais: a forma como as escadas foram feitas, em forma de caracol no sentido anti-horário, faz com que um suposto inimigo, carregando uma espada na mão direita (já que nenhum soldado seria canhoto, pois acreditava-se que canhotos eram compactuados com o diabo e essas pessoas acabavam forçadas a usar a mão direita) tivesse dificuldade de subir e utilizar a espada ao mesmo tempo, facilitando a defesa de alguém de cima, já que o ângulo das escadas favoreceria os moradores de lá. Lá em cima tivemos uma bela visão de Trim e de algumas igrejas ao redor do local.
Ao final do tour, ouvi uma moça conversando com a guia e ela disse que estudou Literatura e História e que já trabalhou na Kilmainham Gaol. A mulher sabia muito mesmo! As pessoas faziam as perguntas mais absurdas sobre o castelo e ela sabia responder todas. Até agradecemos no final e saímos felizes da vida do castelo.
Depois de comer nosso lanchinho no sol, resolvemos andar por ali pois havia uma linda ponte e várias ruínas no local. Tiramos nossas fotos e começamos a caminhar pelo rio, quando um senhor com duas bengalas nos perguntou:
- Enjoying the sunshine, girls?
Ele parecia um velhinho simpático e respondemos que sim, que tava um dia lindo. Aí ele perguntou de que parte da Irlanda nós éramos (oi?) e quando respondemos "Brasil", ele abriu um sorriso e disse que sempre foi impressionado pela magnitude do nosso país. Ele sentou numas ruínas ali perto e começamos a conversar. Ele contou que viajou muito pelo mundo, ficou surpreso quando dissemos que a Copa do Mundo será lá no ano que vem e nos convidou pra tomar um café na casa dele. Sem a menor cerimônia, foi logo dizendo: "então, eu moro aqui perto, não querem dar uma passadinha lá em casa?". Tadinho, acho que ele era mesmo um velhinho solitário, porque né? A Letícia já tava fazendo cara de assustada e murmurou que o ônibus ia passar logo e que precisávamos ir. O velhinho coitado, insistiu e disse que ele tá sempre em Dublin e que podíamos sair pr'um café qualquer dia desses. Pegou sua carteira que tinha um papelzinho com um número e pediu pra eu anotar. Anotei, perguntei o nome dele - Martin - e nos despedimos com um aperto de mão.
Brincadeira esse país, viu?
Ainda deu tempo de pegar o ônibus das 15h que vinha passando na avenida.