Aquele da mudança de carreira

/

Eu NUNCA pensei que mudar de carreira de fato me aconteceria um dia. Mesmo. Apesar de já falar do assunto com amigos, ter tido inúmeras conversas com o R. sobre o assunto, no fundo eu achava que o meu amor pela profissão venceria e eu seria professora para o resto da vida.


Bem, pra quem lê esse blog há um tempo ou me conhece, sabe que eu encho a boca pra falar que sou professora de inglês. Era um sonho de adolescência, e mesmo tendo estudado originalmente Comunicação Social, eu trabalho como professora desde os 17 anos e após a faculdade fiz a pós e mestrado em Ensino de Inglês porque era ali onde tava a minha paixão. 


Além disso, eu sempre associei o meu trabalho à minha própria identidade - é só você ler a descrição que tenho aqui no blog e em redes sociais. É sempre "professora de inglês" que vem na primeira linha.


Quando vim pra Irlanda não era minha intenção morar aqui de fato. Mas desde o começo eu sempre soube que ficaria mais, mas não sabia que ia me apaixonar pelo país, depois conhecer alguém e me apaixonar de novo, planejar em ficar aqui permanentemente, etc. Então eu tava bem ok em não exercer a minha profissão aqui, porque sabia que teria que passar por umas série de desafios pra conseguir ser professora de inglês vivendo num país de língua inglesa.


E assim foi feito. Mesmo com quase 10 anos de sala de aula, meti as caras e fiz todos os processos necessários pra conseguir dar aula aqui: tirei o CPE que atestava meu nível C2 (proficiência - quase nativa), fiz o CELT (curso para professores de inglês válido no mundo todo), mestrado na UCD... e por meter as caras, fazer contatos, me enfiar em conferências, acabei ficando "conhecida" e as oportunidades surgiram. Entre 2015 e 2016 consegui uns bicos, dando aula no verão, e em 2017 finalmente consegui um emprego numa escola legal.


Eu amava trabalhar nessa escola. Os alunos eram muito queridos em sua grandessíssima maioria, eu me sentia super bem e tive até a oportunidade de trabalhar como coordenadora por dois anos consecutivos no curso de verão. 


Festa de aniversário surpresa quando fiz 30, em 2017

Cantando música de Natal em 2019



Em 2019 eu meio que cheguei no meu ápice por lá, porque recebia elogios constantemente, e até mesmo alunos que não eram meus, mas tinham ouvido falar de mim, vinham conversar comigo na cantina na hora do intervalo. Juro! Foram meses e meses assim, eu tava muito feliz e realizada por esse lado pessoal - de saber que eu tava fazendo a diferença na vida dos alunos, que tava ajudando eles a melhorar o inglês, que tava fazendo não só o que gosto, mas o que sou boa em fazer.


Só que durante todos esses anos, trabalhar como professora aqui na Irlanda sempre me trouxe frustração também. Infelizmente a indústria aqui ainda é extremamente precária, as escolas não oferecem contrato, não temos benefícios, nada. Eu tava participando de um grupo que protestava por melhores condições de trabalho, e também me afiliei ao sindicato de professores de inglês. Participei de reuniões e protestos, mas a mudança acontecia muito lentamente.


Fonte


Enquanto isso, eu via amigas que mudaram de carreira, que fizeram cursos pra trabalhar em empresas de tecnologia e que estavam em bons cargos, ganhando bons salários, com vários benefícios e extras... e eu sabia que jamais teria nada disso trabalhando em escola.


Bom, no começo de 2020, antes da gente imaginar que a pandemia seria o que foi, eu pensei seriamente em mudar de emprego. Já tinha namorado essa possibilidade antes, mas não conseguia me ver fazendo mais nada. Devo dizer que tinha o privilégio de ter um parceiro num emprego estável há anos, o que me dava uma rede de segurança caso eu quisesse fazer essa transição. Mas aí surgiram algumas oportunidades interessantes, ambas para eu seguir na mesma área, porém trabalhando com treinamento de professores.


Então eu comecei o ano passado com um convite pra começar a me enveredar por esse caminho na escola. Mas ao mesmo tempo, estava com uma proposta de uma conhecida (que na época estava como coordenadora numa escola aqui) pra ir trabalhar lá exclusivamente com treinamento de professores. Ainda seria essa indústria de ensino de inglês, mas com um plus, né? De repente mais oportunidade de crescimento, talvez um salário um pouco melhor...


Mas eis que veio a pandemia. E com ela, eu tinha certeza que as escolas não durariam muito. E de fato, o número de alunos caiu drasticamente. Se antes não tínhamos mais espaço físico pra receber mais alunos, ao longo da pandemia turmas acabaram, professores foram mandados embora, e eu só me mantive empregada graças à um esquema do governo que beneficiava empresas a aguentarem o tranco. E assim foi passando 2020... só que conforme a pandemia ia se desenrolando, eu fui perdendo cada vez mais meu tesão em dar aula.


Não me leve a mal - eu ainda gostava muito! Mas aquela coisa de sala cheia, aquele burburinho da escola, nada disso existia mais. E eu, que já vinha num esquema de altos e baixos com meu trabalho, resolvi entrar de cabeça na terapia pra tentar entender o que tava acontecendo, que caminhos eu poderia seguir, etc.


Sala de aula super vazia com distanciamento em 2020/2021



Foi um processo longo - nesse um ano de terapia, isso era um assunto constante. Mas além disso, eu também falava sobre o assunto com amigos, discutia possibilidades... trocava umas figurinhas no instagram também. Fui coletando informação, tentando entender mais sobre o assunto, sobre o que eu gostava, sobre o que eu poderia fazer. Cheguei a procurar até coach também, mas não fui adiante. O que eu queria era alguém que olhasse o meu currículo de professora e falasse: olha, com esse currículo e habilidades você seria ótima nas profissões x, y e z.


Bom, então nesse processo de autoanálise entre 2020 e 2021, foi lá pro meio deste ano que comecei a me sentir pronta pra procurar outras coisas. Cheguei a olhar a possibilidade de me inscrever com o Teaching Council pra dar aula em escola regular aqui, mas seria quase impossível por não ter estudado Pedagogia/Letras. E pra dar aula de espanhol ou italiano, apesar deu ter o nível exigido, não estudei Literatura nessas línguas, o que é um requisito.


Nesse meio tempo uma conhecida me mandou uma vaga que ela viu e tinha pensado em mim, que na verdade era pra trabalhar como servidora pública! Era uma vaga relacionada à expansão de algumas línguas no currículo escolar aqui (e você tinha que falar português fluentemente), mas focado na parte de Avaliação. Eu preenchi um formulário ENORME, respondi longas perguntas e me candidatei, mas apesar de ter recebido um follow-up confirmando o status do meu visto, não ouvi mais nada.


Campaign IdApplication Form(s)ContactSubmitted Date
Examinations and Assessment Manager New Curricular Languages.............28/07/2021


Mas enfim, em agosto, num dia que eu tava super chateada com o meu trabalho e frustrada com a situação na qual me encontrava, recebi uma mensagem de uma amiga que mudou tudo. Mas essa história deixo pra outro post!

Web Analytics
Back to Top