Não se fala em outra coisa nos últimos dias: corona vírus é mesmo o assunto do momento. Já está no nosso radar há um tempo, mas explodiu mesmo quando os casos na Itália chamaram a atenção - pelo menos na bolha eurocêntrica em que vivemos.
O fato é que o número de infecções está crescendo a cada dia, e na Irlanda não é diferente: se há duas semanas tínhamos apenas um caso que fez uma escola no lado norte de Dublin fechar por precaução, hoje, dia em que escrevo esse post, temos quase 400 casos confirmados. Na quinta passada, dia 12 de março de 2020, o primeiro ministro decretou que todas as escolas deveriam fechar até pelo menos o fim de março, e isso girou o meu mundo de ponta-cabeça.
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A escola já estava se preparando para possivelmente fazermos aulas online, mas não esperávamos que tudo fosse acontecer tão rápido!
Quinta dia 12: decreto do primeiro-ministro
Sexta dia 13: ficamos em casa, sem receber, até o management da escola decidir o que fazer
Sexta dia 13: recebemos e-mail no fim do dia dizendo que o número de alunos caiu drasticamente e muitos professores foram mandados embora
Segunda dia 16: começamos aulas online - eu, que trabalhava 20h em sala de aula + horas de preparação e administrativas, vi minha carga reduzida pra 15h
Terça dia 17: feriado de St. Patrick's Day, pubs fechados, nada de festa
Quarta dia 18: aulas online foram modificadas, mas seguem
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Sei que meu emprego está por um fio. Muitos alunos internacionais foram embora, cancelaram o curso, e isso significa que escolas de inglês estão perdendo dinheiro. Desconfio que muitas vão quebrar ou fechar, e que dezenas de professores ficarão desempregados. E falando nisso, já são quase 150 mil trabalhadores no mercado de trabalho irlandês sem trabalho, e estima-se que ainda virão mais 200 mil. O primeiro-ministro anunciou na terça que as escolas provavelmente ficarão fechadas por muito mais tempo.
O governo liberou fundos de seguro-desemprego, mas muitos negócios vão acabar falindo, e isso dá uma tristeza profunda. Não só por pessoas que morrerão, que ficarão doentes, mas também por aquelas que perderão fonte de renda, pequenos negócios... o coronavírus trouxe consigo uma crise econômica profunda.
No meio disso tudo, R. e eu estávamos nos preparando pra casar dia 11 de julho de 2020. Agora, não sabemos mais. Ainda estamos organizando coisas, e hoje postaremos os convites no correio. Ainda faltam quatro meses até lá, e estamos tentando ser otimistas de que tudo isso terá passado, mas sabemos que a realidade pode ser bem diferente. Não surtar é difícil, mas nos demos um prazo pra tomar a decisão mais pra frente, caso realmente precisemos adiar. Nosso casamento é internacional, vem pelo menos 13 pessoas do Brasil, amigos dos EUA, Reino Unido, Itália, Holanda, Espanha, Portugal...
Então por enquanto, vamos fazendo o que dá - já tínhamos organizado muita coisa, e se tudo der errado e precisar adiar, pelo menos tá tudo pronto e escolhido.
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Estou apreensiva tanto pelo casamento como pelo meu emprego - porque perder o emprego agora não é a pior coisa do mundo não, mas isso significará que o mercado de aulas de inglês aqui sofrerá um baque que levará meses, talvez anos pra se recuperar. E eu ainda tava no meio de começar a pensar numa evolução/transição/mudança de direcionamento na carreira...
Mas eu confio no governo irlandês e sei que as medidas necessárias estão sendo tomadas. Estão recrutando muita gente pra ajudar, estão testando muita gente, e estão insistindo muito no social distancing. Sairemos dessa. A que custo ainda não sabemos, porém sairemos. Ainda não se falou sobre total lockdown, mas acho que esse momento chega logo. Enquanto isso, ainda podemos dar uma volta no quarteirão e respirar um ar fresco.