De facto relationship

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O visto de relacionamento é algo que eu e o R. vínhamos cogitando há um tempão. Na verdade, é um pouco estranho quando você está num relacionamento e sabe que dali a algum tempo, tudo pode acontecer. Quando conheci o R. não tinha planos de ficar na Irlanda pra sempre; comentei com ele que poderia renovar o visto como estudante de inglês e que provavelmente o faria porque tinha gostado muito da Irlanda. Mas ficou por isso mesmo, deixamos o assunto pra lá e seguimos a vida no melhor estilo "we'll cross that bridge when we come to it".

Mas não tem jeito. O assunto "o que faremos quando o visto acabar" rondava nossas cabeças e nossas vidas como uma nuvem de chuva, e quanto mais o tempo passava e mais próximos nos tornávamos, mas eminente se tornava a necessidade de falar sobre o depois. Renovei o meu visto, completamos um ano de namoro, o R. foi comigo ao Brasil pela primeira vez (e desde então ele já foi três vezes!) e lá pelo 1 ano e meio sentamos pra ter a conversa: o que faríamos quando meu visto acabasse?

A ideia de namorar à distância não nos interessava e não cogitávamos ir ao Brasil permanentemente, pelo menos não naquele momento. Também não queríamos nos casar apenas para ter um visto - nem eu e nem ele. Não que tenhamos uma visão mega romântica de casamento, mas é uma coisa séria e levamos esse compromisso a sério. 


Ao mesmo tempo, eu já tinha ouvido falar do visto de relacionamento e o R. também tinha pesquisado a respeito. Na época em que conversamos sobre isso (segundo semestre de 2014), o governo irlandês concedia vistos de residente (stamp 4) para pessoas que estivessem em relacionamento com cidadãos irlandeses, desde que o casal provasse que tinham um relacionamento verídico e que estivessem morando juntos há pelo menos dois anos.

Sendo assim, fizemos nossas contas e calculamos algumas datas e vimos que sim, era possível aplicarmos para esse visto, mas teríamos que começar a morar juntos logo. Sendo assim, deixamos o fim do ano passar e no começo de 2015 começamos a busca por um lar - já inclusive falei sobre nesse post aqui.

Pois bem. Minha família não deu pulinhos de alegria não. Primeiro porque explicamos que estávamos indo morar juntos com esse objetivo em mente - obter o visto de relacionamento pra mim. Se não tivéssemos essa pressão de "ter que" morar juntos, provavelmente teríamos demorado um pouco mais pra tomarmos a decisão de juntar os trapos. Mas ao mesmo tempo, já passávamos tanto tempo juntos aos fins de semana e também alguns dias da semana! Eu sempre dormia na casa do R. na sexta, sábado e domingo e inclusive se despedir na segunda de manhã era sempre uma tristeza, eu ficava tooooda chororô, hahaha. Então acho que não teria demorado muito pra gente querer morar junto mesmo, mas ter o objetivo do visto em mente nos forçou a fazer isso mais cedo.

Minha mãe não gostou muito a princípio não, acho que ela ficou meio chocada. Talvez esperava que eu voltasse ao Brasil logo, sei lá. O fato é que no fim das contas, minha família sabia que eu estava feliz aqui, e por isso não se opuseram à nossa decisão.

Em fevereiro de 2015 o relógio começou a contar pra nós. Abrimos uma conta conjunta - com a qual pagamos nossas contas, compras de supermercado e viagens juntos - e passamos a guardar todas as contas, recibos, fotos, etc, etc. Documentávamos tudo. Os papéis físicos guardávamos numa pasta; os digitais, organizávamos numa pasta compartilhada no Dropbox. E fomos indo assim por todo ano de 2015 e 2016.

No fim de 2016 começamos a organizar tudo pra mandar pra imigração e cara, foi uma trabalheira - e olha que já tínhamos muita coisa super organizada. Mas o fato é que queríamos mandar os documentos de maneira ultra organizada e impecável. Então lemos o site da imigração de cabo a rabo pra saber a melhor forma de mandar os documentos. Também conversei com algumas pessoas que já tinham passado pelo processo, mas no fim, encontramos o nosso jeito de ajeitar tudo.



Mandamos tudo digital e físico, com exceção das fotos. Como eram muitas, não imprimimos estas, já que ocuparia muito espaço numa pasta. Então seguindo as orientações que vimos no site da imigração, escrevemos uma carta contando a história do nosso relacionamento, outra explicando do porquê queríamos o visto pra mim... fora todas as contas nos nossos nomes organizadas de maneira cronológica, extratos da nossa conta conjunta, prova de antecedentes criminais pra mim (feito no site da justiça brasileira, traduzidos oficialmente e tal), prova de seguro saúde pra mim... enfim, muita coisa. No fim, mandamos uma pasta enorme, mas mega organizada com provas de que morávamos juntos há dois anos.

Digitalmente, mandamos um cd com TODOS os documentos escaneados e organizados cronologicamente, além de fotos (com devidas explicações do que era a foto, quem tava na foto, onde foi tirada....) e também um arquivo que continha um índice de tudo que estávamos mandando com links para os arquivos. Sério, tava profissional o negócio!



Postamos a documentação na primeira semana de março desse ano e esperamos. A imigração dá o prazo de 6 meses para dar resposta, e assim foi. Quando foi lá pro fim de julho, recebemos uma carta dizendo que precisávamos mandar mais documentos - no caso, eles queriam provas de que morávamos juntos desde fevereiro de 2017 (obviamente, desde quando mandamos os documentos). Mandamos mais contas, mais extratos de banco e a apólice do seguro novamente. 

Em duas semanas, chegou a famigerada cartinha: nosso visto foi aprovado!

Pra ser honesta, foi até meio anti-climático. Como tínhamos mandado tudo certinho, bem organizado, bem impecável, sabíamos que ia dar certo, sabe? Ainda mais que tenho amigas que mandaram os documentos na mesma época que eu e conseguiram também. 

Então lemos a carta, ficamos felizes, mas era um resultado que já esperávamos. Mas ok. Fomos no site da imigração, marcamos uma data pra ir lá (só conseguimos um mês depois!) e em setembro lá estávamos nós em posse da carta, apólice do meu seguro e nossos passaportes.

O cara da imigração mal olhou pra nossa cara, mas ficou horas olhando a apólice do seguro. No fim das contas, pagamos os 300 euros e saí de lá com o meu mais novo carimbo no passaporte e o cartão do GNIB: stamp 4. Com esse visto, não tenho absolutamente nenhuma restrição de trabalho, posso fazer praticamente tudo que um cidadão irlandês pode fazer no país. Esse visto pode ser renovado todo ano - desde que o R. vá comigo na imigração, claro. Esse visto é dado com base no relacionamento, então se você terminar, o visto pode ser cancelado, sabe?



Uma outra que vale lembrar é que, por conta deu estar com um cidadão irlandês, estamos sob as leis irlandesas - por isso tenho que renovar o visto todo ano e pagar 300 pau. Minhas amigas em relacionamentos com europeus não-irlandeses pegaram o visto para 5 anos direto e não precisaram pagar - e nem precisarão voltar à imigração até o visto expirar em 5 anos! Isso porque eles estão sob leis da União Europeia.

Estamos muito felizes e aliviados, apesar de, na prática, esse visto não mudar nada pra nós... temos nossa rotina estabelecida, e como eu já estava com o visto 1G, que é de trabalho, já podia trabalhar sem restrição, viver a vida normalmente.

Então oficialmente sou residente nesse país, mas apesar do visto me dar o direito de morar aqui, legalmente falando não somos um casal aos olhos do governo: somos de facto partners, e não civil parters, então mãe, não casei! hahaha

Pra quem não queria dar as caras no meu blog... tá bem famoso por aqui, né, R.?

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