O Vaticano e a saturação da arte

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Meu último dia em Roma foi dedicado a conhecer o menor país do mundo, tanto em população como em área: o Vaticano.

Eu não sou católica, mas ir à Roma e não visitar o Vaticano não dá, né? Ainda mais depois que o R. me disse que eu tinha que ir ver a riqueza e a arte do lugar. Sendo assim, saímos de casa umas 10 e pouco da manhã e pegamos o metrô.

Descendo na estação Otaviano você dá de cara com milhaaaares de guias tentando vender a visita guiada pro Vaticano. É que funciona assim: você pode simplesmente pagar 16 euros e visitar o Museu, a Capela Sistina e a Basília de São Pedro, mas em nenhum desses lugares há muita informação escrita, então sem visita guiada ou áudio-guia perde-se muito. R. já tinha feito a visita guiada e recomendou demais, disse que aprendeu muita coisa interessante, então tá: eu tava disposta a fazer a tal visita. Na minha cabecinha pobre de estudante, imaginei que a entrada fosse uns 10 e a visita + entrada uns 20. Coitada de mim. Um dos vendedores que nos ofereceu o tour deu o preço: 46 euros.

QUARENTA E SEIS EUROS? PUTA QUE PARIU!

Na hora eu brochei. É muito caro e por mais que valha a pena, é muito caro. Olhei pro R. com desânimo e ele disse ao vendedor que procuraríamos outra empresa, agradeceu e continuamos andando. O vendedor nos seguiu e começou a oferecer desconto ("I give discount! I give discount!"), mas continuamos andando. O cara não desistiu e disse que faria por 40. R. agradeceu e disse que não estávamos interessados (e de fato não estávamos, não era tentativa de barganhar não). Aí o cara disse que fazia pelo preço infantil, 36 euros. Conversei com R. e ele disse que preço mais baixo que esse, não acharíamos. Pensei: porra, 36 é dinheiro demais, mas já tô aqui e o R. recomenda o tour. Nunca mais voltarei ao Vaticano, é coisa de uma vez na vida, né? Ah, tá bom, vamos!

No nosso grupo havia um casal asiático (Japão, China, Coréia? Não sei...), três amigos de Taiwan e México e uma família australiana. A guia era uma italiana fofa que falava com o maior sotaque e misturava palavras em italiano no meio da explicação em inglês.

Antes mesmo de entrarmos ela explica váááárias coisas sobre a Basílica e mostra como será o tour: Museu do Vaticano e jardins, Capela Sistina e Basília. Dura em torno de 2h e meia e confesso, é um pouco cansativo, mas acho que valeu a pena. Além disso, rolou um mega barraco com o casal de asiáticos, veja só! Quando entramos no Museu do Vaticano passamos pela segurança (e bolsas vão numa esteira tipo aeroporto) enquanto a guia "pagava" as nossas entradas (já havíamos pagado a empresa do tour, que usa uma parte dessa grana pra comprar a entrada oficial). Quando ela nos entregou os bilhetes pra passarmos nas catracas, o casal surtou! Eles começaram a questionar o porquê do bilhete ser 16 euros se eles pagaram 46 pra empresa do tour.

Tadinhos. Eles não tavam entendendo que 16 era só a entrada, mas que os 46 que eles pagaram era pelo serviço da guia, né? Aí o australiano entrou no meio e achou ruim também, dizendo que haviam dito pra ele que ele não poderia entrar no Vaticano sem um tour desse, blá blá blá. Os asiáticos falavam alto e apontavam pra guia ("You liar! you liar! You lie to us, we pay 46 dollars!!!"), um horror. Ficaram putos mas começamos o tour, e logo no começo fomos levados pros jardins do local pra que a guia pudesse explicar sobre a Capela Sistina. É que na Capela não pode fazer barulho, então os guias explicam antes, sabe?

Ela falou muita coisa interessante, coisas que me lembraram muito das aulas de História da Arte no primeiro ano da faculdade (professor Warde, saudades!); falou sobre o estilo clássico das pinturas das paredes e da revolução que Michelangelo causou quando pintou o teto da capela, já que estava lançando um estilo novo, estilo no qual seus personagens parecem estar sempre em movimento e são muito mais musculosos, encorpados e muitas vezes, nus. Aliás, no altar da Capela todos os personagens estavam originalmente nus, já que Michelangelo acreditava que no juízo final, todos encontrariam Deus no modo como chegaram ao mundo. Só que o pessoal da Igreja não gostou muito disso e após a morte do pintor, mandaram pintar roupas nas partes íntimas da galera na pintura. Sacanagem!



Nesse momento o casal asiático interrompeu a guia e disseram que estavam com pressa e que fariam o tour por conta própria. A guia tentou argumentar, dizendo que eles haviam pago pela visita guiada, que era pra acompanhá-la, mas não teve jeito. Uma pena, fiquei com dó deles. Então assim, uma dica: se você for pro Vaticano você pode entrar sozinho, sem visita guiada nenhuma. Acho que eles foram enganados por alguém, que provavelmente disse que eles não poderiam entrar sozinhos.

Visitamos o museu e suas vááárias salas, suas inúmeras estátuas, peças de tapeçaria, mapas e pinturas. É muita muita muita coisa! Tem coleção egípcia, coleção grega, coleção disso e daquilo. A guia vai contando diversas curiosidades sobre algumas obras expostas e explica diversas coisas pelo caminho. Uma curiosidade que ela mencionou, por exemplo, é que Leonardo Da Vinci o próprio MOROU no Vaticano por um tempo! Mas voltando à arte: é coisa demais pra ver. Vá descansado porque sério, é saturação de arte!

Nos jardins do Vaticano

Na saída do museu você vê a entrada pra Capela. Ali a guia se despediu, já que desse momento pra frente já foi tudo explicado e você segue sozinho. Agradecemos (o australiano disse "muchas gracias" - hahahaha) e entramos na capela mais famosa do mundo.

Eles enfatizam o tempo inteiro que não pode tirar foto, mas mesmo assim, as pessoas insistem em tirar. WHAT'S WRONG WITH YOU, PEOPLE? Não entendo a necessidade de tirar uma foto escura e mal tirada quando você pode achar fotos muito melhores no google. Os seguranças repetem o mantra "no photos" em looping infinito e agem com mais "agressividade" se a pessoa insiste na foto. Pedem silêncio também, já que ali é uma capela, né? É lá onde os cardeais fazem escolha do papa!

Se eu fiquei com torcicolo só de olhar, imagina Michelangelo pintando tudo isso aí

Saindo da Capela você segue as placas e dá de cara com a Basílica, que é gigantesca e muuuito cara de poder e riqueza. Altar de ouro, estátuas enormes, sabe aquela coisa que te faz sentir uma formiguinha? É tipo isso. Não vi muitos fiéis rezando nem nada, somente turistas tirando foto e andando pelo local. Não ficamos muito tempo lá dentro.



Na saída vi a placa indicando que se você quiser subir lááá em cima, no domo, tem que pagar. Eu não queria gastar mais nenhum centavo com o Vaticano (poxa, essas coisas deviam ser tudo de graça, né?), mas de novo pensei: nunca mais voltarei, é agora ou nunca. Tirei mais 7 euros do bolso (que dor, que dor) e paguei. Fomos de elevador (2 euros mais caro do que somente de escada), mas mesmo assim tem que subir 340 e poucos degraus. SIM. E eu sou lerdinha e molenga, né? No meio do caminho já tava esbaforida e morrendo de calor. Além disso, as paredes vão tombando e você fica subindo escada do modo mais esquisito possível. Mas uma hora você chega e dá de cara com essa vista:



Tiramos nossas fotos, descemos e seguimos rapidinho pro metrô - já passava das 3 da tarde (nosso ônibus de volta pro aeroporto tava marcado pras 17h30) e nem almoçar tínhamos almoçado. A sorte é que nossas coisas já estavam arrumadas e comemos uma pizza rapidinho no mesmo lugar onde comemos no primeiro dia. Chegamos na estação Termini antes das 17h (queríamos na verdade antecipar a ida e pegar o ônibus das 17h pois ficamos com medo do trânsito), mas o ônibus tava cheio. Tava uma fila enorme e enquanto esperava na fila, R. foi buscar nosso sorvete de despedida dentro da estação.

Aí percebi que as pessoas da fila estavam com cartão de embarque pra outro aeroporto. Quando R. voltou, verificou no escritório da empresa Terravision e deveríamos ter ido no escritório trocar o comprovante de compra de passagem por um cartão de embarque desse. Aí descobrimos que não tinha fila, tava uma bagunça e já era quase 17h30.

O ônibus chegou, mas pensa na galera descendo pegando suas malas no bagageiro enquanto o povo se amontoava na porta pra poder entrar no ônibus? Tava digno de Sé às 6 da tarde, brincadeira!

No fim, colocamos as mochilas no bagageiro e subimos no ônibus. Não pegamos trânsito e às 18h20 chegamos em Ciampino, o check-in foi super sossegado e esperamos o avião por pouco mais de uma hora (ele atrasou) no chão mesmo, já que não tem banco suficiente pra todo mundo sentar (mas tem um monte de espaço vazio na sala de embarque!). E com dor no coração nos despedimos de Roma. Adorei a cidade e quero voltar, aliás, quero conhecer a Itália toda! Todo mundo foi simpático, bacana, falaram inglês quando precisou (apesar de tentarmos em italiano, mas paciência), o sorvete é divino e nas estações de metrô toca música o tempo todo, iclusive ouvi Giorgia várias vezes! <3

Nenhum prédio em Roma é mais alto do que a Basílica de São Pedro, de onde a foto foi tirada

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