Pernambucando

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Minha mãe nasceu no interior de Pernambuco e foi pra São Paulo antes de se casar. Sendo assim, todos os meus tios, tias, primos e avós da parte materna estão lá, na mesma cidadezinha perto de Caruaru. Quando éramos crianças fomos poucas vezes pra lá porque convenhamos, viajar no Brasil não era fácil. No entanto, eu me lembro das duas ocasiões: em uma delas eu tinha uns 4 ou 5 anos de idade e na outra, uns 10. Eram 3 longos dias e noites num ônibus que saía do Terminal Rodoviário Tietê - lembrando que na época não existia wi-fi, iPad, nada disso. Quando vejo pais reclamando de viajar com crianças lembro dos meus pais tendo que lidar com duas sem nenhuma dessas facilidades, mas divago.

Na adolescência ficou mais fácil visitar a família - passamos a ir de avião a cada 3 ou 4 anos. E as coisas foram melhorando, porque depois que tanto eu como meu irmão começamos a trabalhar, poderíamos pagar pelas nossas próprias passagens e as viagens ficaram cada vez mais frequentes.

Em algum momento do início dos nos 90...


A última vez que eu estive por lá foi em janeiro de 2013, antes de vir pra Irlanda. Eu não sabia que ficaria tanto tempo sem vê-los novamente, mas a verdade é que quando planejamos nossa viagem pro Brasil esse ano, eu disse ao R. que não poderia deixar de ir à Pernambuco visitar minha família, principalmente pelos meus avós.

Morar na Irlanda é muito bom, mas quando alguém da sua família se vai e você não pode simplesmente pegar um vôo e dizer adeus, é muito difícil. Passei por isso duas vezes - e pelo menos pude passar um tempo com minha vó paterna antes dela partir, fato que acalmou muito meu coração, de verdade.


Mas meus avós maternos não são mais spring chicken (expressão em inglês pra dizer que alguém já não é mais novinho) e eu queria muito ter a oportunidade de passar um tempo com eles - a gente nunca sabe o que pode acontecer, né?

Sendo assim, numa quinta de manhã desembarcávamos no aeroporto em Recife, vindos num vôo da Azul que saiu de Belo Horizonte. Aliás, eu nunca tinha viajado de Azul e gostei muito do serviço, o avião era extremamente confortável e serviram vários lanchinhos.

De lá pegamos um táxi até a rodoviária pra encontrar minha tia V., que trabalha em Recife e estaria nos esperando por lá. A viagem demorou horrores e confesso que fiquei até meio tensa, porque a rodoviária é muuuuito longe!



Algumas horas depois chegávamos na "metrópole" de pouco menos 20 mil habitantes. E foi um alívio rever esse lugar! Quer dizer, nem chegamos a visitar a cidade em si, já que meus avós moram num sítio no interior e lá ficamos por 4 dias.

É engraçado estar com minha família materna porque, se formos contar nos dedos, nos vimos poucas vezes, mas não há nenhum estranhamento, sabe? É como se sempre estivéssemos lá - com a vantagem de ser mimados aqui e ali por alguma tia ou vó, sabe? :)

Minha vó é uma pessoa maravilhosa. Sério. Ela é uma mulher incrível, com um espírito jovem, ou como dizem em inglês (numa expressão que adoro), young at heart. Ela é animada, adora contar uma história, dar risada e tem uma memória que cara... me espanta toda vez. Ela lembra do nome da primeira médica da cidade, da mulher que ajudou ela no parto do filho tal... ela é foda! E faz uma comida que ó... comida de vó não tem igual! Ela nos recebeu logo me dizendo: "mas minha filha, você trouxe o seu namorado lá do outro lado do mundo pra esse museu véio de vó?", hahaha.



Meu vô é mais calado, mas tadinho, se emociona toda vez que nos vê ou na hora da despedida. Fica mandando lembrança pra algumas pessoas da minha família paterna (que ele conheceu e gosta muito) e dizendo pra gente voltar sempre...

Foi ótimo fazer nada por uns dias. Sério, o máximo que fiz foi lavar uma louça (quando minha tia V. não estava presente, porque ela não nos deixava fazer nada!) e lavar minhas roupas - à mão, é claro. Brincar com os primos mais novos (que agora são raros, tá todo mundo grande e adolescente, socorro!), bater papo com tias e tios, caminhar pela aridez da região...



A seca lá está muito brava. Meus avós mesmo dizem não se lembrar de uma seca tão ruim. O açude do sítio está totalmente seco e as palmas verdinhas, que antes compunham a paisagem de lá, não existem mais. Os animais estão extremamente magros, dá muita dó de ver.

O R. achou tudo muito diferente, mas familiar. É que ele tem família no interior da Sicília (a vó dele é de lá) e o mundo é muito grande, muito diferente, mas muito igual. No começo foi difícil pra ele entender o dialeto local, mas entender a minha vó, tia e primos não foi tão complicado assim - pelo menos ele se saiu melhor do que eu esperava! No fim das contas, aportuguesamos o nome dele pra não ter problema e todos felizes! E um ps: acho que ele deve ter sido o primeiro irlandês a ir pra'quela cidade, será? hahaha.



A despedida doeu, como sempre, principalmente porque agora que os planos são de ficar na Irlanda, não sei quando verei minha família materna novamente - e o tempo não perdoa. No entanto, fez um bem danado passar esses dias por lá e renovei o meu estoque de amor nordestino!
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