Eu estava com esse post no rascunho desde outubro de 2013 - pois é, todo esse tempo! É que como eu sempre encontrei inspiração pra escrever sobre tantas outras coisas, fui deixando esse texto de lado porque ele não era "urgente". Até agora.
A verdade é que eu adoro ler/saber mais/conversar sobre línguas e os processos que se dão no nosso cérebro (e alma) quando falamos nossa língua-mãe ou outras línguas. Sempre me interessei pelo assunto (ora, aos 10 anos de idade já dizia que gostava de "música inglesa" me referindo ao fato de que eu gostava de músicas cantadas em inglês) e não à toa me tornei professora de inglês - e mesmo não exercendo a profissão aqui na Irlanda, continuo extremamente ligada nesse assunto e estou sempre refletindo e estudando a respeito disso.
Desde que meu namoro com o R. (que é irlandês) começou a ficar mais ~sério~, ele sempre disse que um dia gostaria de aprender português. Seu argumento era que minha fala, por mais fluente que eu fosse em inglês, nunca seria a mesma porque não transmitiria os sentimentos da mesma forma com a qual e os expresso na minha língua. Ele falava que eu dizer "oh, that's so cute" não seria nunca eu dizer "aiiiii, que bonitiiiiiiinho".
E ele tinha razão.
Quanto mais tempo eu passava aqui na Irlanda, quanto mais inglês eu falava diariamente, mais eu percebia que sentia uma falta imensa de falar português - passei por umas fases de só ouvir música brasileira e de mandar mensagens em áudio quase que diariamente pra amigos no Brasil! No entanto, essa situação só passou a acionar o meu radar quando eu e R. nos mudamos pra mesma casa. Antes eu morava com brasileiras e querendo ou não, sempre conversava em português quando chegava em casa, à noite. Agora a situação é bem diferente: eu falo inglês o dia todo (de manhã quando tava na escola, à tarde toda no trabalho, à noite com o R.).
No entanto, apesar do português ser minha língua-mãe, eu falo inglês há tanto tempo que ele faz parte da minha história, da minha vida. Há um provérbio checo que diz "learn a new language and get a new soul" - e acho que isso aconteceu comigo. Não conseguiria viver sem ter que falar inglês, seria como tirar um pedaço de mim, sabe? Algumas pessoas dizem que falar outros idiomas nos dá outras personalidades (inclusive tem um texto lindo sobre isso, de onde tirei o provérbio, aqui), o que talvez seja verdade. Afinal de contas, cada língua tem sua sonoridade, sua melodia, suas particularidades e todas as referências culturais que estão atreladas à mesma e de uma forma ou de outra, ela afeta nossos pensamentos e maneira de nos expressarmos.
Semana passada alguém compartilhou um vídeo no facebook que me deixou até emocionada - é um documentário chamado "Brazil com S - a línga portuguesa no exterior", feito pelo Brasil em Mente. O documentário é curto (coisa de 30min) e traz depoimentos de várias pessoas que moram no exterior - jornalistas, escritores, pessoas que trabalham em consulados, etc e tal. E gente, é lindo demais!
Basicamente eles falam da importância de continuar falando português fora do país, principalmente em casa, com a família e os filhos (e também no caso de ter um cônjuge que fala outra língua). Falam sobre a delícia de se ouvir português (que segundo Eça de Queiroz, "é falado com açúcar no Brasil"), de cantar as músicas, de manter um vínculo com a nossa cultura.
A sonoridade de palavras como "carinho", "afeto", "saudade"; a diversidade no vocabulário como "fedor", "chulé", "catinga", "nhaca"; a graça de expressões como "dar uma chega pra lá"... o português não é lindo, gente?
Eu amo a língua portuguesa. E também amo a língua inglesa. As duas estarão sempre comigo, há espaço pra ambas - se a cada língua que aprendemos ganhamos uma nova alma, fico feliz e aliviada por ter duas grandes delas dentro de mim.
ps.: Aqui tem um artigo muito legal da BBC sobre pessoas que eventualmente esquecem a sua língua mãe - já aconteceu um pouco comigo (de esquecer determinada palavra e não conseguir lembrá-la de jeito nenhum).