Exploração de babás brasileiras na Irlanda

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Semana passada umas 5 pessoas diferentes me mandaram um link sobre uma reportagem cujo título é "As babás brasileiras humilhadas e sexualmente assediadas na Irlanda". Inclusive uma das pessoas a me mandar a matéria foi a minha mãe - imagina a preocupação dela, né? (em tempo: eu já tinha lido coisa parecida no ano passado)

Pois bem. Amigos e familiares que se preocuparam e me mandaram o link, podem ficar tranquilos: eu estou bem. Aliás, se tem uma pessoa que deu muita sorte em relação à ser babá aqui na Irlanda, essa pessoa foi eu. Trabalhei 1 ano para uma família que sempre me tratou bem, deu presentes e fez questão de manter o contato mesmo depois deu não mais trabalhar com eles. Depois passei a trabalhar com a família com a qual trabalho até hoje - no verão já serão 2 anos com eles. Eu tenho a chefe mais foda do mundo, eles são extremamente generosos e sempre me trataram muito bem - inclusive as crianças.

Tudo isso pra dizer que essa não é a realidade de muitas meninas brasileiras que fazem intercâmbio na Irlanda. Não é de hoje que ouço relatos de meninas que já sofreram humilhações e de gente que pegou traumas de trabalhar como babá por aqui. O artigo do Pragmatismo Político traz alguns relatos, como o de uma menina que diz:

"Ela [a patroa] me xingava, sugeria que eu era ignorante e preguiçosa. O fato de eu comprar os mesmos produtos que ela no supermercado incomodava."

Já ouvi história de menina que foi expulsa da casa sem motivo aparente, gente que já viu o pai das crianças aparecer pelado na frente dela de propósito, entre muitas outras coisas....

Eu já contei há muito tempo aqui no blog: a Irlanda não possui um programa regulamentado de au pairs. Por conta disso, milhares de famílias pintam e bordam e fazem o que querem - como muitas meninas não tem inglês suficiente pra muitas vezes rebater e ir atrás seus direitos, acabam passando por situações extremamente complicadas.

Recentemente um programa na RTÉ falou justamente disso, da situação das babás aqui na Irlanda. Eles fizeram uma edição do programa investigativo sobre a exploração das au pairs, sobre salários, condições de trabalho, etc, etc. Esse programa foi ao ar com a ajuda da Jane Xavier, uma brasileira que participa ativamente de movimentos junto ao Migrants Rights Centre Ireland (MRCI) e que está à frente do Au Pair Rights Association Ireland; juntos, buscando esclarecimentos e justiça em relação à essa situação tão vexatória e preocupante.



Segundo esse programa de RTÉ, as babás se encaixam na categoria de "trabalhadores domésticos" e devem receber o salário mínimo (que atualmente é de 9,15 euros por hora). Além disso, caso elas morem com a família só podem ter deduzido do salário o valor de 54, 13 euros por mês (alimentação e moradia).

No entanto, a gente sabe que na prática não é interessante pra Irlanda que essas babás recebam salário mínimo ou que tenham melhores condições de trabalho - o buraco é beeeem mais embaixo. Afinal de contas, a Irlanda tem a taxa de natalidade mais alta da Europa e não necessariamente oferece creches públicas ou baratas - a média de mensalidade para UMA criança em período-integral na creche é 915 euros. Agora faça as contas se a família tem duas ou três crianças, o que é bem comum por aqui. Compensa mais colocar todo mundo na creche ou pagar uma babá em torno de 150 euros semanais pra ela não só cuidar de todos como ajudar nas tarefas domésticas?

babás brasileiras na irlanda


Vale lembrar que assim como o programa RTÉ Investigates apontou, muitas brasileiras aproveitam-se da situação e criam agências falsas de au pair pra faturar uma grana em cima de meninas que chegam aqui com um inglês ruim e não conseguem emprego. O negócio é cabuloso e por isso recomendo muito a leitura dos links que estão nesse post e também que você assista o programa da RTÉ. É revoltante e esclarecedor.

Mais uma vez eu volto a dizer: a Irlanda não tem programa de au pair. Não é organizado, não é legalizado. Infelizmente o país ainda está muito atrás nesse quesito e eu torço muito para que as coisas mudem nos próximos anos e que as famílias aqui parem de se aproveitar dessa falha no sistema. E você achando que só brasileiro dava jeitinho nas coisas, não é?
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