Desabafo: as novas regras pra estudantes na Irlanda

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Não sei se vocês sabem, mas o governo publicou, recentemente, novas regras pra estudantes não-europeus aqui na Irlanda. Mais especificamente sobre alunos de inglês.

Com aquele número absurdo de escolas fechando desde o ano passado, o estopim foi o fechamento das escolas Carlyle, NCBA e MEC (onde eu estava). Houve um protesto no mês de maio e há algumas semanas o governo, como prometido um tempo antes, elaborou e divulgou mudanças que vão afetar bastante quem está pensando em vir pra Irlanda.

Basicamente, o que mudou:

- O cara que pisar aqui a partir do dia 1º de outubro e pegar o visto de estudante só terá direito à 8 meses, ao invés de 12. Isso significa que ele estudará por 6 meses e terá 2 de férias. Ele pode trabalhar 20h semanais no período todo, mas durante o verão (e Natal) pode trabalhar full-time, caso ele já tenha concluído 1/3 do curso. Ou seja: o cara chega aqui em outubro, por exemplo. Aí ele estuda outubro e novembro. Em tese, ele poderia tirar férias da escola e trabalhar período integral entre dezembro e janeiro e depois tem que voltar pra escola. Aí estuda janeiro, fevereiro, março e abril e pum: visto acabou.

- Esse lance de visto de 8 meses valerá também pra quem já está aqui e vai renovar o visto a partir de outubro.

- O estudante ainda pode renovar o visto por duas vezes, então no total ele poderá ficar aqui por 2 anos, não 3 como antes.

- O aluno terá que exigir um documento escrito da escola que o dê uma learner protection, ou seja, que ateste que, caso a escola feche, ela obrigatoriamente transferirá o aluno pra outra escola sem nenhum custo adicional.

- Nem todas as escolas por aí estarão aptas a darem visto - em outubro será divulgada uma lista com as colleges que poderão ou não vender cursos de inglês. Ninguém sabe direito que escolas estarão na lista ou não, mas eu imagino que até lá outras escolas vão fechar por aqui.

- Uma lista de cursos superiores já foi publicada e o visto pra alunos que fazem faculdade/pós/mestrado/doutorado aqui não mudou nada, até porque o ano acadêmico é de 1 ano, né? O cara faz seu curso, pode trabalhar 20h o ano todo e se quiser, trabalhar 40h durante as férias de verão e/ou época do Natal.

O que eu acho de tudo isso?

Primeiramente que em todos esses documentos novos feitos pelo governo irlandês, nenhum faz menção ao fato de que milhares de alunos perderam dinheiro ao se matricular em escolas que fecharam. Basicamente, é assim: "você perdeu dinheiro, ok, então vamos deixar o seu visto ainda válido mesmo sem você precisar ir pra escola. Massss, se você quer continuar aqui quando o seu visto expirar, você vai ter que provar que estava estudando, ou seja, vai ter que comprar outro curso de inglês".

Que é o meu caso, aliás.

Simplesmente jogaram esse assunto de fechamento de escolas pra debaixo do tapete e tcharãm: regras novas, tudo novo - pra quem chegar mais tarde no ano.

Os alunos que perderam dinheiro estão desacreditados que fazer protesto e reclamar resolverá alguma coisa e outros na verdade nem ligam, já que muitos pensam em voltar pra casa logo e acharam até bom a escola fechar pois assim não precisarão frequentar aula. Eu não pude participar do primeiro protesto, mas assim que o grupo de alunos da MEC no facebook agendou um novo protesto uns sábados atrás, eu fui. Eu e mais uns 4 alunos (SÓ!), juntamente com quase todos os funcionários e professores da MEC. Pois é: se nós, alunos, perdemos 800, mil, mil e poucos euros, o staff da escola perdeu muito mais, já que estavam sem receber há semanas e estão sem emprego no momento.

Protesto de maio/2015

O objetivo é que a escola entre em liquidation - basicamente um processo no qual eles avaliam o quanto de dinheiro ainda tem na empresa e devolvem essa grana pra quem a empresa devia (contas de luz, aluguel, funcionários e alunos, já que compramos o serviço!). Isso pode demorar muito e provavelmente os alunos são os últimos na lista de "pessoas a receber", então eu sei que os meus mil euros já eram, mas isso não me impede de tentar protestar, de tentar lutar pelo direito de outros alunos que vão chegar, pra que essa situação mude.

E tudo isso me faz pensar que aquele meu post de 2013, sobre eu não recomendar um intercâmbio na Irlanda, continua mais válido do que nunca. Porque estudar num país onde escolas fecham e você fica totalmente desamparado não é exatamente o sonho de ninguém, né?
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