Eu mesma tenho um post intitulado "Filmes irlandeses legais", onde tentei fugir um pouco do lugar-comum e falar de filmes que podem não ser considerados clássicos ou imperdíveis, mas que de uma forma ou de outra, me surpreenderam por suas histórias e que coincidentemente eram irlandeses.
E bem, eu queria fazer um post sobre dois filmes suuuuuuper comentados nos blogs de intercâmbio, que são o "P.S. Eu te amo" e "Casa comigo?" e já que saiu um novo filme irlandês que está bombando nos cinemas (o mais visto na estréia aqui desde "Michael Collins", de 1996) e indicado a alguns Oscars, "Brooklyn".
P.s. Eu te amo (P.s. I love you) - 2007
Eu vi esse filme muitos anos antes de sequer imaginar que um dia moraria naquele país tão verde, lindo e romântico que exibiam na tela. Ele é baseado num romance publicado por Cecilia Ahern, que é irlandesa, o que justamente me frustra um pouco hoje, já que agora sei que ela poderia ter evitado muitos clichês babacas sobre a Irlanda e o povo irlandês.
A começar pelo galã lindo, romântico que canta e toca violão perfeitamente bem: really? E não só um, mas DOIS. Dois personagens na história que são praticamente iguais.
Depois tem todos aqueles clichês do tipo "óhhh, a música preferida do falecido era Fairy Tale in New York" ou "oi, estou procurando a região de Dun Laoghaire... ah, ooops, pronunciei errado, ai, que turista tolinha".
Tem paisagens lindas e maravilhas? Claro que tem, minha gente, porque a Irlanda é linda e maravilhosa, mas hoje quando vejo esse filme tenho até calafrios. Isso porque nem mencionei o sotaque do Gerard Butler, que não é irlandês e chegou até a pedir desculpas por seu sotaque no filme - que desastre!
Casa comigo? (Leap Year) -2010
Esse filme é tão babaca, tão simplista, tão clichê que me dá até raiva. Primeiro que ele também tem um galã charmoso, um irlandês do interior super "não tô nem aí pra sua opinião". Tem também a americana patricinha, o noivo que não importa de verdade... sem contar nos minutos iniciais do filme, que já mostram a que a história veio:
No filme, a personagem está vindo de NY para pedir o noivo, que está numa conferência em Dublin, em casamento, já que de acordo com a lenda (NENHUM IRLANDÊS QUE CONHEÇO AQUI CONHECIA ESSA TAL LENDA DIREITO), a mulher pode pedir o homem em casamento no dia 29 de fevereiro, nos anos bissextos (daí o nome em inglês, leap year). Só que por conta do mal tempo o avião pousa em Cardiff, no País de Gales, e ela pega um barco que vai parar em Dingle. Observe no mapa o quão estúpida e babaca é essa ideia:
Por que pegar um barco até Dingle se poderia ter voado ou pegado um barco até Dublin?! |
Pior é que o roteiro do filme foi escrito por irlandeses. Não tem desculpa, gente.
Também tem clichês do casal pelo interior irlandês - os castelos, as ovelhinhas e também um Bed & Breakfast, onde eles tem que fingir que são casados pois se não o fizessem, não conseguiriam um quarto (atenção, não estamos falando da Irlanda dos anos 50, e sim dos anos 2000 - WTF?).
É tudo tão babaca, tão clichê, tão falso... que no fim, pra coroar toda aquela bobagem, o cara pede a menina em casamento nos Cliffs of Moher.
Brooklyn (Brooklyn) - 2015
Eu não queria ver Brooklyn porque só pelo cartaz imaginei que seria mais um filme esteriótipo, clichê e babaca com a Irlanda de pano de fundo e bem... me enganei.
O filme conta a história de uma menina que vai pros Estados Unidos em busca de melhores oportunidades. Ela deixa na Irlanda sua mãe e irmã e consegue um emprego e uma casa pra morar com a ajuda de um padre irlandês que mora no Brooklyn há muitos anos.
De fato, há um certo sentimentalismo exagerado no filme, mas confesso que me identifiquei com várias cenas e diálogos que discutem o fato de mudar-se para um outro país, sentir saudade de casa, construir uma nova vida, criar laços com novas pessoas. A atriz principal, Saoirse Ronan, é linda e é uma boa atriz, mas não acho que foi tão boa ao ponto de conseguir uma indicação ao Oscar.
Sobre os clichês, felizmente esse filme foge de todos eles. Os atores são em sua maioria irlandeses de verdade e usam o seus sotaques de verdade (alguns dão aquela exageradinha pra fazer um sotaque de Wexford, mas ok, é um filme pra Hollywood, afinal de contas); os diálogos são extremamente realistas e fizeram todo mundo no cinema rir alto justamente por isso - não tem fingimento, babaquice: você consegue visualizar irlandeses dizendo aquelas frases, sabe?
Além disso, alguns personagens são a cara do interior irlandês e muita cenas refletem de fato o que acontece por essas bandas aqui na Irlanda (apesar do filme se passar nos anos 50, muita coisa ainda é igual). Fora, é claro, algumas imagens com muito verde, rios e praias, com aquele charme que só a Irlanda consegue ter.
Por fim, o filme conta com uma participação de Domhnall Glesson, a sensação do momento - acho que foi a primeira vez que vi ele de fato fazendo um sotaque irlandês no cinema. Lindo e super bom ator! :)
Assim como fico brava e chateada quando vejo as pessoas associando o Brasil somente com o que vêem no cinema ("Central do Brasil" e "Tropa de Elite", por exemplo), também me incomodo quando vejo esses esteriótipos bobos sobre a Irlanda. Por isso que ler fontes confiáveis, pesquisar, perguntar, refletir é sempre muito importante, pra gente não ofender ninguém e nem conceber ideias incorretas sobre um grupo de pessoas e/ou o lugar de onde elas vêm, não é mesmo?