Vergonha e orgulho

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Pode parecer bobagem, mas quando algum não-intercambista aqui pergunta com o quê eu trabalho, fico envergonhada de dizer que sou babá.

Nunca ninguém me distratou ou fez algum comentário que diminuísse esse fato, pelo contrário; sempre demonstram interesse e perguntam. Mas a verdade é que no fundo, no fundo, uma parte de mim se sente um pouco com vergonha de dizer se sou babá sim. Besteira, né? É um trabalho como qualquer outro. Um trabalho, aliás, que me permitiu viajar pra um monte de lugares na Irlanda e na Europa toda, que me permite pagar o aluguel, as contas, que dá conta da minha alimentação e de todos os meus passeios. Ora, no Brasil eu não conseguiria fazer nada disso com o meu salário de professora. 


Sempre sem dinheiro, mas pelo menos aqui, viajando.

Sehr interessant und lustig

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O povo adora falar que alemão é difícil, que isso é que aquilo, mas nunca ouvi ninguém focando nas coisas legais do idioma. Tipo, tudo na vida tem um lado bom e ruim, né? Eu sei que alemão é uma língua difícil pra caralho que pode apresentar dificuldades para quem se propõe a aprendê-la, mas eu vou vendo tudo de forma positiva. 

A começar por uma coisa não relacionada à língua em si, mas à atitude: eu não preciso aprender alemão. Não estou fazendo aula porque precisarei falar o idioma no emprego, não estudo porque vou precisar morar na Alemanha, nada disso. Estudo porque eu achei que seria legal e acrescentaria pro meu currículo pessoal. Só esse primeiro passo já tira um puta peso e pressão de mim. Eu lembro de alunos que claramente sofriam com pressões internas e externas de ter que aprender inglês o mais rápido possível ("teacher, em quanto tempo você acha que dá pra ser fluente?"). Isso acaba dificultando muito o aprendizado. 

Mas quem agüenta?

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Já fiz várias declarações de amor a Dublin e à Irlanda, mas ó, tem dia que é foda.

Mas vamos do começo: a primavera já chegou (e claro, escreverei com detalhes e postarei fotos). As árvores estão cada vez mais verdinhas, tá tudo florido e lindo e as temperaturas, subindo. Nas duas, três últimas semanas, já cheguei a ficar só de camiseta à tarde no parque alguns dias, sabe? Vai entardecendo e o friozinho bate, sim, mas de boa.

Ontem foi um dia excepcional. Tava 15 graus e fez muito calor! Fiquei de manga curta a tarde toda e só coloquei a blusa, que tava guardada há horas na bolsa, no final do dia ao voltar pra casa. Fiquei até desanimada pensando que esse ano seria quente de novo, mas Dublin e seu clima estão aí pra provar que não, que tudo pode mudar.

O blog

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Ter um blog é dos meus maiores orgulhos no sentido de projetos pessoais. Eu escrevo principalmente pra ter um registro mas fico feliz em saber que não somente amigos e familiares lêem o blog, como também desconhecidos que me acharam nesse mundão da internet. 

O mais legal é conhecer gente bacana através desse espaço (meus melhores amigos na Irlanda foram feitos por este e outros blogs) e poder compartilhar a minha experiência, seja ela boa ou ruim, por aqui. 

Até o momento foram 335 posts e quase 90 mil visualizações. Caramba! A média de visitas por dia é de 300 e pouco mas de uns tempos pra cá esse número aumentou bastante e já bateu quase 600 por dia. Aliás, outra coisa que achei esquisita/interessante foi o post sobre minha viagem de carro pela Irlanda, mais especificamente sobre o Blarney Castle, ter bombado de uma hora pra outra e entrado na lista dos mais lidos. 

Ter um blog é se surpreender com termos de busca do tipo "casas bonitas de gente famosa em sligo" ou "como ser prostituta em Dublin". Sim, bizarro é pouco!

E agora que renovei o visto na Irlanda fico pensando se ainda terei papo pra postar no ritmo quase diário que eu vinha fazendo desde que cheguei aqui. Ainda tenho alguns assuntos na lista "posts para escrever", mas eu queria jogar essa pergunta pra você leitor (anônimo ou não): que assunto você gostaria de ver aqui no blog? 

Assim eu mantenho o espírito de escritora e o blog vivos!

ps: Se essa não é a sua primeira vez aqui, deve ter reparado que o blog mudou. O banner quem fez foi a Mari Paint Art, indicação da minha amiga Jamile. O layout eu que modifiquei, com a ajuda do Pablo e do google. Ainda há algumas modificações que quero fazer, mas uma coisa de cada vez! :)

Chutei o balde e resolvi voltar a estudar italiano

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Um dia desses, não sei como, encontrei um site de um irlandês que se jogou no mundo e resolvi aprender diversos idiomas da maneira mais prática e um pouco auto-didata possível. Lembro que passei hooooras lendo os artigos dele no site (o cara escreve super bem) lendo a história dele com idiomas e as técnicas que ele usa pra aprender rápido. Ele cita em alguns posts vários sistemas que eu mesma utilizei quando estudava italiano sozinha: livros, sites, aplicativos, áudio-livros, etc.

Em termos de áudio-livros, gosto muito do Pimsleur mas ele é um pouco repetitivo e me cansa um pouco, pelo menos com o italiano, que é uma língua com sons muito fáceis de pronunciar - principalmente pra nós brasileiros. Acho que ele funciona mais pra quem tem dificuldade com pronúncia e memorização de frases prontas, tipo fazer pedido em restaurante, falar ao telefone, etc. 

Tem um outro método nesse estilo, que o Assimil,  um livro com diálogos em duas línguas - no caso o meu era em inglês e italiano. A ideia é que você aprenda a língua no contexto, como ela é realmente usada no dia-a-dia - há um cd com o áudio pra que você possa ouvir os diálogos e praticar. Acho um sistema bem legal, usei ele por um tempo, mas como o livro era meio pesadinho, não trouxe ele pra Irlanda. 


E o inglês, melhorou?

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Ninguém me fez a pergunta do título, mas esses dias conversando com o R., caímos nesse assunto. Depois de um ano morando fora, o meu inglês melhorou?

Não queria entrar no mérito do "morar fora". É que eu sempre fui do time (e prova viva) de que o tal do "morar fora" pode não fazer diferença nenhuma no inglês. Quantas pessoas eu conheci que moraram fora e voltaram com um bom nível de inglês? Poucas. Com quantos professores trabalhei cujo inglês era melhor do que o daqueles que nunca o haviam feito? Pouquíssimos. O fato é que eu tenho várias ideias sobre o assunto, mas o foco do post não é esse, porque eu ainda quero escrever, em detalhes, sobre a relação do morar fora com o inglês. 

O fato é que eu sempre tive esse crédito, essa carta na manga que fazia alunos ficarem curiosos- "teacher, você já morou fora"? E a resposta era negativa, e a surpresa era grande. Até brinquei com um amigo da Cultura que depois de vir pra Irlanda, toda vez que alguém perguntasse ou comentasse do meu inglês, ia dizer que eu era fluente porque morei aqui, o que não é verdade, já que eu falo inglês há muitos anos e nunca tinha saído do Brasil.

Eu fiquei

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Eu fiquei. 

Fiquei porque não era a hora de voltar, porque não estou preparada pra voltar pra São Paulo. Porque eu gosto de ir de bicicleta pro trabalho em segurança, mesmo quando chove. Porque pagar as minhas contas, fazer as minhas compras no supermercado e lavar as minhas roupas da mó sensação de ser mesmo adulta. Porque é possível chegar no cinema 5 minutos antes do filme começar, sem se preocupar em comprar ingresso pela internet e ficar horas na fila quando o assento não é marcado. Fiquei porque apesar de sentir falta da sala de aula, esse tempo longe dela vai me fazer bem. Porque a experiência como babá tem sido, porque não, muito enriquecedora. Porque com o meu pequeno salário já conheci mais países do que os dedos de uma mão podem contar. Porque a minha lista é grande e ainda há muitos lugares que eu gostaria de conhecer - Holanda, Espanha, Portugal, Suíça, Polônia, Noruega, Inglaterra... Porque a Irlanda ainda tem muitas belezas e coisas boas pra me mostrar. Porque eu gosto do chá com leite, da banoffe pie, do scone e do feijão enlatado. Porque aqui eu consigo saciar os meus desejos Becky Bloom e usar cosmético de marca gringa famosa sem precisar parcelar em mil vezes no cartão. Porque aqui não se parcela nada no cartão e isso é libertador. Porque eu posso pagar 1 euro numa camisetinha na Penneys. Porque eu posso observar a mudança das estações do ano, que aqui são visíveis e bem marcadas. Porque a luz do dia tem durado cada vez mais e logo logo ainda estará claro às 10 da noite. Porque aqui eu não passo calor usando cachecol. Porque eu posso usar meia calça todo dia. Porque eu quero estudar mais, prestar algum certificado de proficiência, fazer algum curso na minha área. Porque um curso de línguas aqui é mais barato do que no Brasil e eu aproveito pra estudar alemão. Porque aqui eu escuto português, espanhol, alemão e polonês quase sempre nas ruas do centro. Ah, escuto inglês também! Porque aqui a polícia não tem armas. Porque não tenho medo de ser assaltada, mas no máximo de algum adolescente folgado falar alguma coisa ou gritar no meu ouvido. Porque eu quero mais do intercâmbio, mais da Irlanda, mais de Dublin. Fiquei por ele também, mas acima de tudo, fiquei por mim. Por mim e pelos meus sonhos e planos, pela minha curiosidade insaciável. 

Por isso e por muito mais, eu fiquei. 

As distâncias mais curtas

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Desde muito cedo aprendi a gostar de tecnologia. Meu pai adorava ser o primeiro a ter as coisas e sempre investia em novidades: lembro de nosso Windows 95, do nosso VHS 6 cabeças, do cd player de última geração da Sony. O fato é que por ter sempre sido exposta a tudo isso, me apaixonei pela magia da tecnologia muito cedo. Com nosso Windows 98 já tínhamos acesso a internet e com isso, eu passava horas pesquisando sobre coalas e Backstreet Boys. 

Minha primeira conta de e-mail foi criada em 1999 (saudades BOL, todo brasileiro tem direito a internet grátis) e desde então, nunca mais larguei a internet. Foi através dela que fiz grandes amigos, que aprendi muita coisa, que pesquisei inúmeros assuntos pra trabalhos de escola e faculdade, que baixei músicas e seriados, etc etc etc. 

Tudo isso pra contextualizar uma coisa que eu venho pensando há um tempo: como o intercâmbio seria diferente se a tecnologia não fosse como é hoje!

16 horas de alemão

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Semana passada foi a última aula do curso promocional de alemão, que teve duração de 16 horas. As duas últimas aulas foram ok, já relevei o fato da professora se embananar na hora de mandar a gente repetir as coisas ou não, dela jogar as coisas totalmente fora de contexto, de não dar modelos de prática suficientes, etc. 

Mas nada disso me irrita tanto quanto uma italiana que tem na turma. Puta que pariu, ela interrompe as pessoas, pergunta coisa que a professora acabou de falar, fica de risadinha com uma amiga dela na turma... Que raiva! Lembro que ficava incomodada com alunos assim quando eu dava aula, mas como professora eu conseguia cortar algumas coisas de maneira sutil - outras nem tanto, eu dependia da coragem de alunos mais "ousados" pra reclamar com o aluno "sem noção", mas eu como aluna não consigo reclamar. 

Evolução da fala

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A minha parte preferida de ser babá é sem dúvidas poder observar a evolução linguística das meninas. Quando comecei pra trabalhar pra essa família em agosto, a mais velha na época com mais ou menos 2 anos e meio, já falava tudo e se expressava muito bem, embora cometesse alguns erros de gramática. 

Já a pequena C. tinha um ano e pouco e entendia tudo, mas seu vocabulário se restringia a poucas palavras e a cada semana este expandia pra mais palavras e pra combinações também (I'm laughing, more water, not apple, etc). 

Até fiz um post falando sobre os erros e acertos gramaticais que elas cometiam aqui.


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