Tunísia: o que deu pra salvar

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Eu ainda não tinha vindo aqui contar sobre nossa viagem em outubro pra Tunísia. Acho que o golpe da empresa de aluguel de carro que sofremos lá me deixou com zero vontade de escrever sobre essa viagem - coisa que nunca tinha acontecido comigo antes. O fato é que como nossa viagem no geral lá foi estragada por esse golpe logo de cara, foi muito difícil tentar ver algum lado positivo da coisa.


Além do golpe em si, a cia aérea mudou nosso voo e o que era pra ser uma estadia uns 4 dias inteiros se tornou praticamente apenas pouco mais de 48h em solo tunisiano por escolha nossa. Como não tava sendo bom, não faria sentido ficar 12h a mais lá. O nosso roteiro original era o seguinte:


Chegar na Tunísia no sábado fim de tarde

Domingo, segunda e terça o dia todo na Tunísia

Quarta de manhã: voo pra Malta e passar o resto do dia por lá

Quinta, sexta e sábado: estadia em Malta e voo pra Dublin às 7 da noite no sábado


 



No fim, acabou sendo: sábado, domingo e segunda na Tunísia; terça adiamos nosso voo e seguimos pra Roma. Chegamos no hotel em Roma umas 2 da tarde, passeamos o dia todo e no dia seguinte voamos pra Malta umas 11 da manhã. O resto do roteiro meio que ficou intacto.


Essa parada extra custou um pouco de grana, mas principalmente energia. Não era algo que esperávamos fazer, mas ficar na Tunísia o dia todo na quarta não fazia sentido - o voo original sairia de Tunis pra Malta umas 11 da manhã e mudaram pra 11 da noite. A gente chegaria em Malta muito tarde, e com uma criança a tiracolo fica tudo mais complicado.


Não que tivéssemos grandes planos na Tunísia - no fim, a única coisa que ficou de fora foi conhecer a capital mesmo, Tunis. De resto, tudo que tava planejado e até uma coisinha ou outra a mais foram feitas. Optamos por nos hospedar na região de La Marsa, que por um lado foi bom - porque era perto de Carthage e da vila de Sidi Bou Said - por outro, significou ficarmos um pouco presos porque a região ali não era exatamente super agradável ou legal.


O hotel em si era bem e localizado de frente pra costa noroeste do país, mas como acabamos ficando sem usar o carro alugado (sem cadeirinha de criança, carro caindo aos pedaços, etc), não exploramos muito. 


No primeiro dia a gente tava sem clima NENHUM pra passear. Estávamos arrasados, nos sentindo péssimos, preocupados na devolução do carro, preocupados se íamos pegar táxi ou não (eu tinha lido histórias terríveis de táxi por lá), e no fim fizemos muito pouco mesmo. Mas meio a contra-gosto encontrei um parque no mapa pra pelo menos levarmos a P pra praticar seus passinhos, só pra gente não ficar no hotel o tempo todo. E o que acabamos encontrando foi um parque que tinha uma sessão infantil com uma ótima estrutura! Era pago, mas a P aproveitou o balanço, escorregador e até fez amizade com um menininho tunisiano. O nome do parque é Parc Essaada


parque perto de tunis para bebes






No fim do dia fomos até a praia, que era perto do hotel, e presenciamos um pôr-do-sol lindo lindo de viver. A P adorou brincar na areia, mas foi difícil achar um canto sem muito lixo ou até garrafas quebradas pra sentar em segurança. Deu tristeza ver uma orla com tanto potencial assim meio abandonada.


Na segunda-feira ainda estávamos mal, sem clima, odiando tudo, mas de manhã voltamos à praia pra P brincar mais, e ela comeu areia, esfregou areia no cabelo, tudo que tinha direito!


Vendedor de chá de hortelã na praia, é mole?

praia la marsa perto de tunis





Voltamos pro hotel pra ela tirar a soneca do meio dia, o que se provou a decisão mais acertada da história. Foi durante essa soneca que abri meu email e vi que nosso voo de quarta tinha sido adiado pra mais de 11 da noite, e eu surtei. Surtei. Não queria nem a pau 1) ficar 12h a mais na Tunísia e 2) voar essa hora da noite com uma criança de 16 meses. Durante a soneca dela, foi o tempo da gente pensar num plano B e nos organizarmos (tudo no celular mesmo!) com uma passagem pra Roma já no dia seguinte, hotel, passagem de Roma pra Malta, etc. 


Entendo perfeitamente que esse tipo de coisa é história de gente muito privilegiada, mas é como falei pro R: é pra isso que a gente trabalha e junta dinheiro, né? Pra ter conforto, pra poder sair de enrascadas e situações desagradáveis assim.


Com tudo isso resolvido em 90 minutos de soneca da P, a gente encarou nossa repentina última tarde na Tunísia com um pouco mais de leveza. Consegui baixar um app de táxi (que nem vou recomendar porque só funcionou uma vez e no fim tivemos que chamar táxi na rua mesmo das outras vezes), e fomos pra famosa vilazinha de Sidi Bou Said.


Eu tinha uma imagem de Santorini light dessa vila, com suas casinhas brancas e azuis, aquela beleza estonteante. E assim, é uma gracinha mesmo. Mas é uma vila bem menor que Santorini (pra onde fomos num longínquo 2017), bem mais apertada, bem menos agradável. Talvez a gente estivesse sob influência do ranço que se instalou desde que chegamos no país, mas o fato é que apesar de bonitinha, não achamos grandes coisas - e pelo menos conseguimos andar de carrinho tranquilo, mesmo com os paralelepípedos.


Sidi Bou Said na tunisia com bebe

Sidi Bou Said na tunisia com bebe

Sidi Bou Said na tunisia com bebe

Sidi Bou Said na tunisia com bebe

Sidi Bou Said na tunisia com bebe

Sidi Bou Said na tunisia com bebe



Após uma horinha e pouco, sofremos pra pegar um táxi pra nossa próxima parada: Carthage, em português, Cartago. A gente queria ver os escombros, as ruínas dessa que já havia sido uma poderosa cidade-estado, mas com o tempo que nos restou, só deu pra passear pelo anfiteatro - que foi bem legal! Como era fim do dia, a luz estava linda e tivemos o lugar somente pra nós, então a P pôde praticar seus passos com a maior tranquilidade do mundo!


Cartago foi fundada pelos fenícios no século IX. Era um grande centro comercial e marítimo do Mediterrâneo, rivalizando com Roma pelo domínio da região. Após as Guerras Púnicas, foi destruída pelos romanos e depois reconstruída. 


cartago na tunisia com bebe

cartago na tunisia com bebe

cartago na tunisia com bebe



Na saída de lá, mais sofrimento pra achar um táxi, mas conseguimos voltar pro hotel em segurança. Os táxis todos caindo aos pedaços, cintos de segurança que não fecham, esse tipo de coisa. 


Ficou um gosto amargo na boca, porque eu queria ter gostado da Tunísia. E falando em gosto, não comemos nada espetacular, nada que nos marcou. Nosso apetite ficou quase zero enquanto estivemos lá, não deu vontade de comer quase nada. Sofremos um pouco também pra pedir pratos que tivessem legumes pra P, ela acabou comendo mais pão do que gostaríamos, mas faz parte. Passamos no supermercado pra comprar frutas pra ela, mas não achamos nenhum mercado que vendesse uma simples banana. Juro. Fomos em uns 3 mercados e até numa feira com várias barracas, e eu não vi uma banana pra contar história. Mesmo que não fosse época dessa fruta, não é estranho simplesmente não encontrar nada? Ficamos bestas com isso!


Naquela região, já havíamos viajado pro Marrocos e sinceramente, mesmo com a agressividade dos vendedores em Marrakesh, eu preferi nossa viagem pra lá. Me parece que a Tunísia tem pouca estrutura pra turismo, pouco interesse em desenvolver essa parte, mas muito potencial. A influência ocidental, principalmente francesa, é notória, e se não fosse o chamado da mesquita algumas vezes ao dia, você mal perceberia que tá num país muçulmano. Porém, nem sempre vai ser incrível e maravilhoso, e a gente não via a hora de sair de lá o mais rápido possível.


Depois de ter postado brevemente sobre isso no instagram, recebi mensagem de três pessoas que eu conheço que já foram ou tem amigos que foram pra Tunísia e sofreram algum tipo de golpe - assim, fica difícil defender. Sei que muita gente tem medo de lá por conta de um ataque terrorista que aconteceu num resort muitos anos atrás, mas sinceramente, isso nem me passou pela cabeça. No entanto, não acho que voltaria pra dar uma segunda chance e infelizmente também não recomendaria o passeio. Uma pena. 


Agora, se tem uma pessoa que aproveitou cada minuto dessa viagem foi a P: andou por ruínas, entrou no mar, brincou na areia, tirou soneca no balanço de paralelepípedos, viu gatinhos de rua e de quebra conheceu Roma sem nem estar esperando!

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