De lá, andamos até a região de Little India - na verdade, as duas grandes etnias que compõem Singapura são os chineses e indianos. Então você pode ir pra bairros específicos que possuem toda uma arquitetura e estilo conectado à etnia do local, e é muito legal poder se sentir visitando um novo país dentro de um país. Apesar de que tenho certeza que a Little India de Singapura é muito mais ocidentalizada e organizada do que a Índia de verdade!
Vimos muitas casinhas coloridas lindas, tiramos muitas fotos, almoçamos e pegamos o metrô pra perto da região da Marina Bay, onde ficava o Museum of Asians Civilisations.
O museu é bem interessante e trata vários aspectos da cultura asiática como religião, política, artefatos, etc. Mas foi nesse museu que tive um ataque do coração, quando minha câmera indicou um erro com o cartão de memória. Eu tava tirando foto normalmente, o cartão deu erro e pedia pra ser formatado. Comecei a chorar, tirei o cartão da máquina, e o R. me acalmou dizendo que conseguiríamos recuperar as fotos quando voltássemos pra Dublin. E ele tinha razão, conseguimos! Mas na hora deu aquele pânico de perder todas as fotos e vídeos da Malásia e o primeiro dia em Singapura, mas tínhamos outros cartões de memórias preparados e seguimos a vida.
De lá, encontramos um ex-colega do mestrado, o K.! Foi muito legal poder encontrar dois colegas da UCD na Ásia - o P., que é vietnamita e encontramos em Saigon, e em Singapura, o K., que está trabalhando como professor por lá. Ele nos levou pra um mercado de rua super arrumadinho chamado Makansutra Gluttons Bay e comemos uma comida barata (para os padrões de Singapura!) e super gostosa. Ficamos batendo papo um tempão, mas ele tinha que ir embora pois acordava cedo no dia seguinte. R. e eu ficamos andando pela marina, tirando fotos e babando naquele cenário maravilhoso bem cartão-postal singapurense e voltamos pro hotel prontos pra descansar e aproveitar o nosso último dia na cidade.
De todos os lugares por onde passamos na Ásia, quase nenhum oferecia walking tours no estilo desses que são tão populares pela Europa. Mas Singapura é Singapura, e descobrimos uma empresa que oferecia o passeio saindo de Chinatown pela manhã. Como seriam nossas últimas horas na cidade/país, resolvemos participar. Tinha muita muita gente e por isso foi um pouco desconfortável, mas nós aprendemos muita coisa. Naquele dia mesmo eu anotei várias coisas no meu caderninho e voilà:
- Mulheres que vieram pra trabalhar da China ajudaram na construção de Singapura e tiveram parte ativa nos primeiros arranha-céus do país. Elas usavam um lenço ensopado em um tipo de maisena que o endurecia, assim tinham como proteger um pouco a cabeça de possíveis acidentes nas construções.
- Os chineses chegaram em busca de oportunidades mas muitos se depararam com péssimas condições. Quem tinha habilidades trabalhava - cozinha, costura, etc. Caso não, trabalhavam nos portos carregando mercadorias, como sacos de arroz super pesados. Ou então de rickshaws, carregando o povo nos braços. Eles dividiam apês de 120m² com outras 7 pessoas - dividiam até cama com outros chineses que tinham um horário diferente de trabalho - enquanto um dormia, o outro trabalhava. A vida ficava tão difícil e deprimente que muitos usavam ópio pra sanar as dores.
- Chicletes foram proibidos nos anos 80 porque ao construírem o metrô, perceberam que as portas não estavam fechando corretamente por causa de chicletes que as pessoas ali grudavam. Pensaram em educar os mais novos pra que isso não acontecesse mas por ser uma nação muito pragmática, viram que demoraria pelo menos uns 20 anos pra isso surtir feito. Sendo assim, chicletes foram e são proibidos até hoje!
- A banda Led Zeppelin foi fazer um show em Singapura nos anos 70 e não puderam entrar no país porque tinham cabelo comprido! Nos anos 80 os Bee Gees se apresentaram mas só puderam permanecer no país por no máximo 24 horas, hahaha.
- Singapura, durante o período do domínio britânico, era uma colônia penal para o Reino Unido e Índia - ou seja, vários criminosos e pessoas "indesejadas" foram mandadas pra lá.
- Se você é solteiro e tem menos de 35 anos, não é possível comprar um imóvel! Aliás, essa situação imobiliária é bem complicada em Singapura e a guia nos explicou que o governo interfere bastante nesse quesito e em outros também - por exemplo, 20% do seu salário vai pra uma poupança - independente de você querer ou não!
- Meninos de 16 anos vão pro exército/polícia/bombeiros por pelo menos 2 anos e meio obrigatoriamente.
- A região da Chinatown costumava ser mar e nos últimos 150 anos eles criaram mais espaço terrestre utilizando matéria prima de pequenas colinas próximas ao local.
Ao fim do walking tour, fomos comer no famoso Hawker Chan. Em Singapura, esses hawkers são comuns - são barraquinhas/pequenos negócios dentro de um "shopping" onde você consegue comer bem e super baratinho. Todo mundo come por lá, é muito forte na cultura local! Só que esse cara Chan é famoso porque seu hawker ganhou estrela Michelin e tornou-se o restaurante Michelin mais barato do mundo!!!
Tem duas filiais em Singapura: a original mesmo tava lotada com muita fila, então fomos na filial "mais cara" que parece mesmo um restaurante (mais cara porque tem ar condicionado) - você pede na recepção, paga, pega uma senha e uns minutos depois vai buscar a comida, como em restaurantes de praça de alimentação em shopping mesmo. Pagamos muito muito pouco por uma comida deliciosa, um frango super bem temperadinho, arroz, uma delícia!
Saindo da região de Chinatown, pegamos o ônibus até o hotel pra buscar as malas, táxi até a estação de metrô mais próxima (muito trampo carregar tudo!) e trem até o aeroporto. Nosso próximo destino seria a ilha tailandesa de Phuket, destino que já mencionei aqui no blog.