Estava lá com o R. procurando livros de português para estrangeiros quando lembrei, do nada, de um título que eu já tinha ouvido falar - "Guia politicamente incorreto da história do Brasil". Já que estava lá e o livro provavelmente não seria muito caro, acabei comprando.
Li o bichinho em praticamente duas sentadas, já que a leitura dele é muito agradável, simples e divertida. Sabe quando você se pega rindo ou sorrindo quando tá lendo alguma coisa? O autor procura desmistificar certos personagens da história brasileira, como a de que Santos Dumont não teria mesmo inventado o avião ou que Zumbi dos Palmares na verdade tinha escravos.
A própria descrição do livro é a seguinte:
Existe um esquema tão repetido para contar a história do Brasil, que basta misturar chavões, mudar datas ou nomes, e pronto. Você já pode passar em qualquer prova de história na escola. Nesse livro, o jornalista Leandro Narloch prefere adotar uma postura diferente – que vai além dos mocinhos e bandidos tão conhecidos. Ele mesmo, logo no prefácio, avisa ao leitor: “Este livro não quer ser um falso estudo acadêmico, como o daqueles estudiosos, e sim uma provocação. Uma pequena coletânea de pesquisas históricas sérias, irritantes e desagradáveis, escolhidas com o objetivo de enfurecer um bom número de cidadãos.” É verdade: esse guia enfurecerá muitas pessoas. Porém, é também verdade que a história, assim, fica muito mais interessante e saborosa para quem a lê.
O livro tem a parte visual muito bacana também (fora a capa, que é um espetáculo!), a fonte é bem legível, é confortável de ler - algo que eu costumo levar em consideração quando tô lendo alguma coisa. Os capítulos são divididos em:
- Índios: Os verdadeiros hábitos dos povos indígenas, jesuítas e bandeirantes durante a exploração portuguesa do Brasil Colônia (meu capítulo preferido!)
- Negros: A amplitude da escravidão no Brasil, o tráfico de escravos, e como funcionavam os quilombos. (igualmente interessante, de abrir os olhos mesmo)
- Escritores: As ideias equivocadas de Machado de Assis, Gregório de Barros, José de Alencar, Gilberto Freyre, Jorge Amado, e Graciliano Ramos. (não gostei tanto, mas seguimos...)
- Samba: As origens do samba e os desfiles de carnaval. (interessante, mas eu passo)
- Guerra do Paraguai: As causas e consequências da Guerra da Tríplice Aliança. (muito legal ler sobre isso porque eu mal lembrava de como tudo tinha se dado - faz tempo que terminei a escola, né?)
- Aleijadinho: Porque a história de Antônio Francisco Lisboa é praticamente uma fabricação literária. (interessantíssimo!!!)
- Acre: As circunstâncias da compra do território do Acre da Bolívia. (bem legal também)
- Santos Dumont: Porque os Irmãos Wright desenvolveram uma aeronave funcional antes do brasileiro voar com seu 14-Bis. (esse assunto é batido, mas valeu por algumas curiosidade sobre o Dumont)
- Império: As causas da Independência do Brasil, e esclarecimentos sobre as atitudes e suposta falta de democracia do Império. (um dos meus capítulos preferidos também)
- Comunistas: As intenções do Cangaço, Intentona Comunista, e as guerrilhas da época da Ditadura Militar. (achei esse capítulo totalmente descartável, não gostei nada nada nada)
Aí tava em casa conversando com minha mãe sobre esse livro e ela comentou que tinha um outro livro ~desmistificador~, o "1808". Só de ler o título e sub-título fiquei curiosa e trouxe o livro comigo pra Dublin:
A primeira página já me prendeu de um jeito que eu não aguentei, tive que engolir o livro - a primeira metade eu li super rápido, mesmo! O autor aqui não é tão "debochado" quando o autor do "Guia politicamente incorreto da história do Brasil", mas também escreve de maneira simples e leve. Ele começa tudo dando o contexto histórico do que fez a família real se mudar para o Brasil: Napoleão tava chegando pra invadir Portugal (porque Portugal quebrou o bloqueio continental e continuou negociando com a Inglaterra) e D. João VI não achou que tinha cacife pra enfrentar o francês. Resultado: pegou todo mundo "importante" e fugiram, deixando o povo de Portugal à mercê. E sim, eles fugiram financiadíssimos e ajudados e escoltados pelos ingleses!
O engraçado é que de acordo com historiadores, se D. João tivesse resolvido ficar, provavelmente teria vencido Napoleão (seus soldados estavam cansados, famintos, chegaram em Portugal aos trapos) e a história teria sido muito, muito diferente. Seríamos colônia até hoje?
Bom, aí o livro vai explicando diversos aspectos dessa mudança dos portugueses pra cá: a viagem de navio em condições extremamente precárias, o apropriamento de casas no Rio de Janeiro pra abrigar quem vinha com a família real (médicos, advogados, etc), o relacionamento dos membros da família real entre si, os medos e inseguranças de D. João, etc, etc, etc. Pra nós, que lemos e estudamos tudo isso na escola (e principalmente, pra quem gosta de história) é um prato cheio pra viajar e ficar imaginando como tudo isso se deu há 200 anos.
Depois o livro explica os motivos pelo qual D. João voltou à Portugal, as marcas que os 13 anos em que eles viveram no Brasil deixaram no Brasil, as profundas transformações pelo qual todos passaram, a independência... fora a menção de outros personagens menos conhecidos pelos livros de história.
É uma leitura simplesmente sensacional, gostosa mesmo!
Me senti muito mais próxima do Brasil após ler essas duas obras e estou super na vibe desse tipo de livro. Se alguém tiver alguma recomendação, pode deixar aqui nos comentários?! :)