Eu vou, mas eu volto

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Há algumas semanas tenho pensado muito em abandonar as redes sociais. "Que dramática!" você deve estar pensando. "Precisa anunciar que vai sair de rede social?" Olha, no meu caso, eu senti que seria necessário.


Sempre estive presente nas redes, mesmo. Tivemos Windows 95 na minha casa, com o Windows 98 eu já tava conectando na internet no fim de semana. Tive outros blogs, participei de comunidades, conheci gente pelo ICQ... e obviamente, também por redes mais atuais como o Facebook ou Instagram.


Através das redes eu fiz novos amigos, me reconectei com outros, pude acompanhar pessoas que estão longe, e principalmente, pude usar a plataforma como maneira de compartilhar meus pensamentos, viagens, dia-a-dia de uma maneira mais orgânica e dinâmica do que por aqui no blog. Porque embora meu blog exista desde 2012, houve fases em que escrevi pouco, e mais recentemente, noto cada vez menos pessoas lendo o que eu escrevo, e menos ainda comentando. Não que eu escreva para ter comentários, porque a motivação de manter um blog ativo após década nunca foi essa. Mas justamente por conseguir manter mais contato com as pessoas por redes sociais, fui deixando esse espaço e priorizando aquele.



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Mas a verdade é que estou muito, muito cansada de rede social. Por mais que eu ame a interação, que ame ter uma plataforma onde eu possa fazer uma das coisas que mais amo - me comunicar, seja por escrito ou por voz - tem uma hora que a cabeça não aguenta mais. "Não aguenta o quê?", você deve estar se perguntando. Explico.


Embora essa conversa de saúde mental tenha ganhado cada vez mais espaço nas redes (que muitas vezes são justamente as causadoras dos problemas que afetam nossa saúde mental, RISOS IRÔNICOS), eu sempre achei que no fundo tinha um pouco de fraqueza, frescura envolvidas. Tipo, "ué, se faz tão mal, então sai, seu fraco!!!". E mesmo ano passado, diagnosticada de uma depressão pós-parto e vivendo o pior ano da minha vida, eu consegui utilizar as redes ao meu favor, usando meu espaço online como uma espécie de diário, um lugar pra desabafar e me conectar com amigos, angariar ajuda, etc. 


Tava tudo indo bem. Eu estava medicada e tudo começando a entrar nos eixos. Até maio de 2025.


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A verdade é que a vida entrou de cabeça pra baixo DE NOVO quando minha filha fez um ano de idade. Porque além dos desafios que essa nova idade trouxeram, nossa rotina familiar mudou novamente: voltei a trabalhar fora, a P começou a ir na creche, nossos horários e rotinas sempre orbitando em volta do que acontece com a dona mocinha. E se por um lado tenho a sorte e privilégio de trabalhar de casa na maior parte do tempo e poder voltar a fazer algumas coisas no meu horário de almoço e intervalos, por outro as coisas tem fugido ainda mais do controle com as adversidades que envolvem um bebê frequentar a creche: adaptação, doenças, choro (meu e dela!) e muita frustração.


É um ciclo que não tem fim, porque quando a criança finalmente começa a se adaptar à creche, ela fica doente; depois, os pais ficam doentes também. Com isso, é preciso tirar dias off do trabalho, e quando volta ao trabalho, tem mais trabalho pra fazer porque acumulou. É totalmente insano e desesperador.


Mas voltando às redes: além obviamente do tempo que passo doomscrolling ou respondendo mensagem, eu comecei a notar que vários tipos de posts começaram a me incomodar cada vez mais. Pessoas das quais tenho imenso apreço me dando o famoso ranço; conhecidos que me fazem revirar os olhos (sem eu querer!); posts sugeridos que aparecem pra mim com o que meu marido apelidou de "mommy porn": posts de mães mostrando suas rotinas com suas crianças perfeitas e produtos perfeitos e vida perfeita. E cara.... eu tenho sentido uma raiva, uma inveja descomunal. Porque é isso: eu posso até ser uma pessoa crítica demais, mas sempre fui otimista, empolgada. E tenho sentido raiva, ódio, incômodo, inveja. 


Sabe, não é fácil admitir que você sente tudo isso, porque a gente passa a vida inteira achando que é feio se sentir assim. Mas eu tô sentindo. Inveja de quem parece amar a maternidade, inveja de quem tá com o casamento bem das pernas, inveja de quem não se incomoda em ter virado a vida de cabeça pra baixo por causa de filho. E veja bem, EU SEI QUE O QUE VEMOS NAS REDES É EDITADO. Um dos indícios é, por exemplo, toda vez que faço algum relato mais pessoal, mais cru. Recebo meia dúzia, às vezes mais, de comentários de gente dizendo que se sente assim também mas não tem coragem de falar. Então eu sei, num nível racional, que as pessoas projetam aquilo que elas gostariam de projetar, como elas querem ser vistas, sabe?


Mas num nível inconsciente ou mais profundo, eu me deixo acreditar nos posts das mães perfeitas e a raiva vem como um furacão. Junte à isso poucas horas de sono (vamos dormir tarde porque depois da criança ter ido dormir ainda tem um milhão de funções na casa), cansaço, estresse... hoje por exemplo fui dormir meia-noite; acordei às 4am com a P chorando, fui acudir e a bichinha não dormia por nada. Às 5h30am eu desisti, voltei pro meu quarto sentindo que ao invés de sangue correndo nas veias, tinha um líquido venenoso me queimando por dentro. E aí foi a vez do R acudi-la, e nessa altura do campeonato eu já estava tão frustrada que não consegui mais dormir e fui fazer coisas na casa. 


Tudo isso pra dizer que esse é um dos motivos pelos quais preciso dessa pausa. Sei que vai ser difícil pra mim, vou me sentir isolada, vou sentir FOMO, vou sentir um monte de coisa. Mas acho que no momento prefiro ter esses sintomas de abstinência do que o que tenho sentido no momento.


Eu espero que consiga voltar a escrever mais por aqui, e falar mais sobre como a maternidade mudou a minha vida - não necessariamente pra melhor (pelo menos por enquanto). Mas também vou falar de coisas boas, porque mesmo na merda, eu tento muito ver a luz no fim do túnel!

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