Riga, um paraíso pra gosta de história e arquitetura!

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Chegamos em Riga no começo da tarde vindos de ônibus direto de Vilnius. A primeira impressão foi "estamos mesmo no leste europeu!". Brincadeiras à parte - as pessoas tem essa ideia de país pobre, abandonado e barato quando se pensa em leste europeu, mas de fato, a região do terminal de ônibus não contribuiu pra termos outra primeira impressão.

No entanto, assim que pegamos o táxi (pelo aplicativo Taxify) para o hotel, as coisas mudaram. Nos hospedamos no Rixwell Hotel Konventa Seta e pagamos 27 euros pela noite, incluindo um café da manhã excelente (pães, ovos, comidas quentes, frutas, bolos, iogurtes, etc.). O quarto em si não era tão confortável quanto o do hotel que ficamos em Vilnius, mas ainda assim, valeu muito a pena. Estávamos na cara do gol: a localização era perfeita, bem na entradinha da cidade antiga, perto de várias atrações e tal.

Quando chegamos tava bem frio e começando a nevar, o que me deixou de bom humor (mais do que eu já tava) pelos próximos dias. Tava lindo! A arquitetura art noveau das casinhas coloridas ganhou um destaque ainda maior com a neve branquinha caindo do céu e se acumulando no chão. Sim, Riga é a capital com maior concentração desse tipo de arquitetura no mundo todo!






Após almoçarmos ali na pracinha perto do hotel, fomos em busca de uma das atrações na nossa lista: a House of the Blackheads.

Basicamente, trata-se de um prédio ali na região da old town construído no século 14 pela Irmandade dos Cabeças Negras, um grupo de comerciantes alemães solteiros que moravam em Riga. Durante a guerra, mais precisamente em 1941, o prédio foi bombardeado e as ruínas demolidas pelos soviéticos em 1948. Somente em 1995 a reconstrução começou, terminando em 1999. Então justamente o prédio parece ser tão novinho, tão límpido, pristino mesmo. A fachada é maravilhosa e mostra vários estilos arquitetônicos diferentes, de vários períodos. Apaixonante! Acredito que no verão aquela pracinha deve bombar com restaurantes, músicos, etc, mas como fomos em pleno fevereiro, tava um deserto que só - ainda mais porque nevava um pouco. Então tivemos todo o tempo do mundo pra montar tripé, tirar foto, admirar praticamente sozinhos!







Em seguida, tínhamos a intenção de fazer um tour guiado no Museu da Ocupação da Letônia. Aliás, preciso muito dar essa dica aqui. Quando fazíamos nossa listinha do que fazer na cidade, entramos no site do museu pra ver o preço - e notamos que dava pra fazer o tour guiado, em inglês, por 10 euros. 10 euros, gente! Eu e o R. fizemos o tour com uma moça que tenho certeza ser bilíngue, porque ela falava um inglês absolutamente perfeito!

Pois bem, o google maps dizia que o museu era logo ali ao lado do House of the Blackheads, mas tava fechado! Deu um desespero, mas continuamos procurando e vimos que o museu tinha um segundo endereço, a uns 15 minutos a pé de onde estávamos, ufa! Corremos e conseguimos chegar a tempo pro nosso tour às 16h.

O Museu da Ocupação da Letônia é bem interessante, mas te digo que ter feito o tour guiado fez aquela hora valer muito, muito a pena. Tivemos uma verdadeira aula de história da Letônia, basicamente focando nas três ocupações que aconteceram no país: duas pelos soviéticos, uma pelos nazistas. Segundo o próprio site do museu: "This story is about oppression, terror and violence; about crimes against humanity; about powerlessness, fear and betrayal; but also of disobedience, resistance and heroism. However, most of all, it’s about the endurance and mental strength which allowed people to survive, restore the independence of their state and bring the country back to Europe and the world".





A região da Letônia fazia parte do Reino da Polônia e Lituânia. No entanto, no século 19 o Império Russo se tornou super poderoso e passou a controlar a região dos Bálticos - somente até o fim da primeira guerra mundial, já que com as dificuldades que o regime soviético passou, acabou cedendo e a Letônia declarou-se independente em 1918.

Mas aí na década de 30 eles sofreram um golpe de Estado dirigido por Karlis Ulmanis. Segundo nossa guia, muita gente fala dessa época até com saudade, porque nada de muito "ruim" aconteceu - apesar do parlamento ter sido suspenso e tal, ninguém foi perseguido, morto, então a vida meio que seguiu como era. Aliás, em comparação com o que viria pela frente, não é difícil entender porque algumas pessoas falam desses 6 anos de golpe de Estado com saudade.

Em 1940 a União Soviética invadiu a Letônia e a anexou a seu território - o país passou a se chamar, então, de República Socialista Soviética da Letônia. Mas essa ocupação não durou muito porque os alemães vinham com força e no ano seguinte, conseguiram tomar a região (estão contando? essa foi a segunda ocupação do país).

Obviamente não precisamos descrever como os tempos foram difíceis com os alemães por lá - estima-se que um total de 90 mil pessoas tenham morrido durante os anos que a Letônia esteve sob o domínio nazista.

Quatro anos depois o Exército Vermelho ganhou força e expulsou os alemães de lá (terceira ocupação). Assim, a União Soviética volta a ter controle da Letônia, situação que assim permaneceu até a década de 90.



Não sei vocês, mas eu me lembro de aprender sobre a Segunda Guerra Mundial na escola e era tudo sempre focado na Alemanha, nos nazistas, nos judeus. Claro que se falava de Guerra Fria também, mas era sempre essa coisa da briga entre EUA e URSS, não se falava muito sobre quem estava sob domínio soviético - nem as coisas horríveis (tão ou mais horríveis) que os soviéticos fizeram durante essas décadas todas.

Então foi chocante ouvir da guia que milhares de letões foram executados por serem contra o regime, deportados, mandados pra campos de concentração na Sibéria, etc. Famílias eram separadas, crianças morriam de fome, gente que morria no trem a caminho desses lugares remotos no interiorzão da Rússia... Além disso, os soviéticos promoveram uma imigração de russos super intensa pra Letônia, o que tem efeitos até hoje: cerca de 25% da população do país é russa. Na capital Riga, esse número é ainda maior: passa dos 40%.

A URSS nunca promoveu uma "russificação" descarada no país, mas era tudo muito velado: as melhores escolas eram russas, os melhores empregos eram pra quem falava russo... então não era proibido falar letão, por exemplo, mas quem quisesse condições melhores de vida, tinha que aprender o russo.

Enfim, com a queda do muro de Berlim e o fim da URSS, a Letônia voltou a ser uma país independente, em 1991. Mas de lá pra cá, percorreram um longo caminho pra se reerguer politicamente e economicamente.


No próximo post falarei um pouco sobre o walking tour que fizemos no dia seguinte também sobre um dos prédios da KGB onde fizemos um tour guiado também!





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