Terremoto

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A maternidade pra mim tem sido como um terremoto. Eu imagino que quando um terremoto atinge um determinado lugar, primeiro vem aquele choque inicial, adrenalina a mil. Modo sobrevivência total, tentar se resguardar, ir pra um lugar seguro, seja lá o que for possível.


Depois que o terremoto passa e que a poeira baixa, é aí que você vai analisar o estrago, o que ainda ficou de pé, o que restou de você e de tudo ao seu redor. E é nesse momento em que me encontro.


Dado o susto inicial, eu não tinha muito espaço mental, corporal, biológico e cósmico para de fato refletir sobre o que tinha acontecido comigo. Todo mundo fala que a parentalidade muda a sua vida, mas acordar várias vezes à noite, ter menos tempo pra você mesmo, isso são coisas óbvias, esperadas. O que estou descrevendo aqui vai muito além disso. Pra mim, a maternidade tem sido como um terremoto que rachou meu solo; um terremoto cujas vibrações ainda podem ser sentidas, mesmo tantos meses depois do tremor inicial.


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A maternidade partiu, estilhaçou a minha alma em muitos pedaços. Cuidar de um bebê pequeno não é só trabalhoso e cansativo; é, muitas vezes, desesperador. Não há pra onde correr, não importa o quão alto seja o grito, o quão sofrido seja o choro. Me pego pensando no quão ingênua eu fui por achar que me tornar mãe só acrescentaria uma palavra à minha descrição e visão de mim mesma: Bárbara, brasileira, filha, amiga, irmã, esposa, professora, curiosa, imigrante, mãe. Não mesmo. É como se todas essas características da minha personalidade tivessem se fragmentado e ficados soltas pelo ar. O terremoto ainda não cessou, e justamente por isso está tudo ainda flutuando, sem rumo, sem ordem, sem lógica.


Eu achava que era mais paciente, mas descobri que só um bebezinho que depende de você consegue te atingir em lugares que você jamais imaginava. Eu achava que o amor de mãe era um força monumental capaz de superar qualquer obstáculo - hoje sinto na pele que as obrigações, a rotina, o cuidado, tudo isso suga a sua energia vital, a ponto de restar muito pouca força, até mesmo pra amar. 


Só se passaram 15 meses, muitas águas vão rolar, muitas lágrimas vão cair, muitos gritos rasgarão a garganta. Mas espero que muitos sorrisos estampem meu rosto também.

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