Relato do meu parto

/

Finalmente venho contar sobre o meu parto! Comecei a escrever ainda no hospital, e também usei umas notas que o R fez no dia seguinte pra me ajudar a não esquecer nada! A data prevista pra baby nascer era 12 de maio de 2024, e eu poderia ter jurado que ela nasceria antes, já que eu mesma fui uma bebê que nasceu de 8 meses. No entanto, as semanas foram passando e somente na semana 39 eu de fato comecei a ter uns sinais: um pouco do tampão saiu exatamente quando completei 39 semanas, num sábado, e ao longo da semana tive algumas cólicas, como cólica menstrual, principalmente à noite. 


Na quinta-feira tive mais um show (o que eles chamam aqui do tampão saindo), inclusive com um pouco de sangue. Dei um google em imagens parecidas pra saber se era isso mesmo e fiquei na expectativa. Na sexta dia 10, acordei com cólica mas tinha um compromisso no centro de manhã: eu ia encontrar a advogada de imigração que contratamos pra nos auxiliar com a obtenção da cidadania espanhola (comentei mais a respeito aqui). R tava trabalhando de casa, me deixou na estação Red Cow do Luas e segui o restante do caminho de transporte público. Encontrei a Cris, fiz o que tinha que fazer, peguei o Luas de volta e vim andando do ponto até em casa. Aliás, voltei morrendo de calor porque naquele dia fez 22 graus e eu não fui feita pra temperaturas acima de 15!






Como voltei pra casa um pouco tarde, almocei quase às 3pm e comi uns donuts que tinha comprado no shopping Jervis. Mas aí comecei a sentir mais cólicas. Às 16h começamos a contar a frequência delas, mas não tava regular e eu não tinha certeza se eram contrações mesmo ou não. Sendo assim, ligamos no hospital e nos disseram pra contar as contrações mas que por enquanto eu podia tomar um paracetamol e esperar elas ficarem mais regulares. Inclusive quando perguntei pra midwife no telefone se eu estava com contrações mesmo ou não, ela disse: "Você saberá quando forem contrações!", hahaha. Na hora fiquei com raiva dela, porque como eu vou saber uma coisa que nunca vivenciei? Porém tendo passado pela experiência, posso afirmar que ela tava certa: quando são contrações verdadeiras, você sabe. 


Tomei o remédio e subi pro quarto… Entre 5 e 7 da tarde tive muitas cólicas, e comecei a achar que eram contrações porque começou a ficar brabo o negócio, pois vieram as primeiras lágrimas de dor. Tentamos ligar no hospital novamente mas não conseguimos, então o R tomou a decisão de terminar de arrumar as coisas e fomos pra maternidade. 


Chegamos 8 e pouco da noite (ainda bem, num horário em que era fácil estacionar naquele hospital que nunca tem vaga!) e da recepção nos direcionaram pra uma outra sala. As contrações vinham a cada 5 minutos ou menos, doía bastante. Eu sentia uma combinação de cólica menstrual forte no pé da barriga + pressão na lombar, bem embaixo mesmo, como se fosse uma crise de gases/dor de barriga... sabe quando não tem nenhum banheiro perto e você não tá aguentando pra fazer o número 2? Era mais ou menos assim.


Me avaliaram numa espécie de triagem. Em torno de 15 ou 20 minutos a midwife checou meu colo do útero e disse que a bolsa tava próxima de estourar. Também escurou o coração de baby R&B e de lá, me deram um paracetamol e fui levada de cadeira de rodas para outra sessão do hospital. 


Lá chegando fui atendida por Maria. A sala era igual à sala onde ficamos para ter a Ayla, foi um déjà vu meio desagradável. Ela me deu uma injeção pra dor na perna chamada pethidine (que sinceramente pra mim não ajudou em nada!) e ficamos lá em torno de uma hora esperando sozinhos mesmo. Meu colo do útero tava de 1 pra 2cm dilatado, ela disse que teria que dilatar mais pra irmos pra sala de parto de fato. 


Eu continuei tendo muita dor mesmo usando a bola que eles providenciaram (tínhamos levado a nossa caso precisasse mas deixamos no carro mesmo) e fazendo os exercícios passados pela fisio pélvica. O que mais ajudava era ficar de pé apoiada na bola em cima da cama e com o R apertando a pelve pra dentro quando vinha a contração. Umas duas horas depois, fomos pra sala de parto de fato.


Estávamos na sala de parto onde encontra-se a banheira de parto do hospital, que acabei não usando. Sinceramente, nem água, nem reza, nem meditação, nem nada ia resolver a dor das contrações, hahaha. Sério! Ao chegar lá, a midwife Laura analisou meu colo do útero, que estava com 3 cm. Só que eu tava sentindo muitaaaa dor, as contrações vinham relativamente rápido, não tinha muito descanso entre elas. Eu tava ouvindo música na sala e tentando me concentrar, mas quando vinha a contração eu só conseguia chorar e implorar pra parar. Teve uma hora que o R até falou que eu chorava "I just wanna feel comfortable!".




Nessa altura do campeonato eu já tinha dito que ia querer a epidural (que ilusão achar que eu ia aguentar até uns 5cm antes de pedi-la), porém eles tinham que esperar o médico chegar pra me dar a anestesia. E cara, demorou MUITO pra esse bendito desse médico aparecer. No meio tempo, uma outra midwife, Claire, analisou meu colo mais uma vez e disse que a bolsa tava muito próxima de estourar mesmo. Pediu minha autorização pra estourá-la pra tentar adiantar as coisas e eu concordei. Como só estávamos eu, R e ela na sala, ela precisou pedir pro R pegar um instrumento na gaveta e passar pra ela. Sinceramente, não doeu nada! Na hora vem aquele monte de água quente, super super quente, é bizarro! Eu já tinha tido a experiência de ter a bolsa estourando antes, mas como na outra ocasião eu estava de 15 semanas de gravidez, era muito menos líquido.


Com isso a midwife verificou que em meu líquido amniótico podia-se encontrar mecônio, ou seja: baby já tinha feito um cocô dentro da barriga. Isso poderia ser um problema ao nascer, porque se o bebê não chorasse ao nascer eles precisariam verificar se ele ingeriu esse mecônio ou não. Eu já tava ciente disso, mas ela precisa explicar de todo modo. 


Sentei na bola e tentei fazer alguns exercícios, tentei respirar fundo durante as contrações mas era muito difícil. Continuei usando a máquina TENS, massagens do R e até o gás também, mas de novo, nada disso fazia tanta diferença não. A questão agora é que o coração de bebê deu uma diminuída no ritmo e pediram pra eu tentar não ficar tensa por umas 3 contrações (uns 15 minutos) pra tentar analisar melhor a situação pois não podiam me dar a epidural sem o coração de baby estar estável.


Já eram quase 3 da manhã e finalmente veio o médico me dar o papel da epidural pra eu assinar e pra ele aplicar a injeção em si. Eu ainda estava com 3cm de dilatação desde em torno de 1 da manhã, e a epidural poderia deixar o parto ainda mais lento, mas pelo menos eu não sentiria tanta dor! O processo da aplicação em si não demorou tanto - eu já tinha passado por isso antes e da outra vez achei que foi pior pois eu havia perdido sangue e estava muito fraca. Já dessa vez, em poucos minutos a epidural foi colocada e comecei a sentir o alívio quase imediatamente. Eu sentia uma pressão muito grande nas costas, de novo, como se fosse uma dor de barriga horrível mas nenhuma dor em si. 





Só que em menos de 1 hora de epidural o coração do bebê diminui o ritmo novamente e a midwife ficou preocupada que talvez teríamos que fazer uma cesárea pois o bebê estaria in distress (sofrimento fetal). Elas perceberam que os batimentos caíam dependendo da minha posição e até cogitaram fazer um exame onde a médica colocaria uma agulha na cabeça do bebê pra coletar sangue e analisar; no entanto, quando a médica chegou, ela confirmou que esse dito exame nem seria necessário, porque a diminuição dos batimentos cardíacos já significaria que a melhor opção seria a cesária mesmo.  


De todo modo, a médica analisou meu colo do útero de novo: somente 3 cm de dilatação. Ainda ia demorar muuuito pra dilatar e com o bebê em situação de estresse, não era uma boa ideia esperar a evolução natural do parto. Se eu estivesse com uns 7 cm, elas disseram que poderiam me dar ocitocina pra acelerar o processo e tal, mas com apenas 3 seria difícil. 


Tive que concordar com elas. Não me senti forçada, mas um pouco triste de ter sentido tanta dor e no fim ter que ir pra cesárea. 


A partir daí foi tudo extremamente rápido. Me transferiram já na cama e me levaram para a sala de cirurgia enquanto o R foi colocar as roupas cirúrgicas. Essa cena teria me assustado mais, não fosse o fato de que eu vivi algo parecido durante a perda da Ayla em 2022. Já na sala me transferiram pra outra cama e me deram outro tipo de anestesia, mas não precisou fazer uma nova injeção. Eu comecei a tremer (mesma experiência que tive antes) e tava nervosa esperando o R chegar na sala o mais rápido possível.


Em alguns minutos colocaram aquela tela pra eu não ver da barriga pra baixo, e em pouco tempo tava tudo pronto pro R chegar. Ele sentou atrás de mim num banquinho pouco antes das 5 da manhã. 


Sabe, eu achava que a cesária era como cortar e tirar o bebê rapidamente, mas não é bem assim: você sente toda a pressão mas nenhuma dor. Tipo, as médicas mexiam, mexiam, massageavam muito a minha barriga... foi assim um tempão! Como falei, eu não sentia dor alguma, mas como não esperava esse mexe mexe fiquei surpresa. Estava numa expectativa muito grande de saber se baby ia chorar e tava muito curiosa pra saber se vinha menino ou menina, todos os 9 meses de ansiedade e espera culminavam naquele momento. 


E aí senti uma pressão um pouco diferente na barriga e ouvi um chorinho às 5 da manhã.


Meu coração parou por uns segundos.


Uma das médicas falou “it’s a girl” e meu mundo mudou pra sempre. Nascia nossa Penélope.


Eu chorava compulsivamente e copiosamente de tanto alívio, alegria e felicidade. Claro que eu ia ficaria feliz com um menino ou menina, e eu realmente não tinha nenhuma intuição, mas no fundo do meu coração, sendo bem sincera, eu queria muito uma menina. Muito. 


Eles já tinham explicado mais cedo que numa cesárea o bebê não vem direto pro colo da mãe, porque a equipe médica precisa checar o muco, se o bebê tá respirando bem, etc. Então apesar de ouvi-la, não a vi por uns 15 minutos enquanto eles checavam tudo. Eu continuava chorando muito e muito alto, além de continuar tremendo da anestesia. Depois desse tempo, trouxeram ela perto do meu rosto e nos conhecemos. Mal conseguia olhar pra ela de tanta lágrima nos meus olhos, foi um momento muito lindo e emocionante!






Depois levaram R e baby Penélope pra sala de parto novamente enquanto terminavam a cirurgia comigo. Disseram que seria em torno de 20 minutos mas demorou MUITO: fiquei quase 1 hora com eles dando os pontos, aparentemente perdi um pouco de sangue também. Nessa hora tudo passou muito devagar, parece que não acabava nunca! Eu fiquei conversando um pouco com um dos enfermeiros, agradeci o cuidado e falei que tinha um imenso respeito pela profissão dele, mas ainda tava super emocionada e queria logo estar com minha filha.


Nesse meio tempo a midwife veio me explicar que precisavam urgente dar uma mamadeira com fórmula pra neném porque um dos testes que ela fez ao nascer tinha dado um resultado abaixo do esperado e queriam testar ela novamente após ela se alimentar. Fiquei chateada, porque pensei que ela mamaria no peito ao nascer, pelo menos eu tinha me preparado pra isso! A enfermeira me perguntava se eu tinha preferência de marca de fórmula (?) entre X, Y ou Z... eu sei lá! Fiquei muito, muito frustrada mas pedi pra ela deixar pro R decidir. E lá se foi por água abaixo mais um momento que eu gostaria de ter tido: a tal golden hour.


Enquanto eu terminava na sala de cirurgia, Penélope passou a primeira hora de vida com o pai. Ele me disse depois que ficou conversando com ela em português na minha ausência, falando sobre todas as pessoas que estavam ansiosas para conhecê-la. Ele também colocou a roupinha de urso que havíamos comprado nela.


Cheguei na sala de parto de volta mais de 6 da manhã, e praticamente nem ficamos lá muito tempo depois disso. R estava dando a mamadeirinha pra ela e trouxeram um bercinho pra colocar a bebê. Nisso a enfermeira explicou que tinha que levá-la pra outra sala pra médica re-examinar o que tinha dado abaixo do esperado. Levaram a neném. R foi junto mas não pode ficar. No fim das contas, Pê ficou na sala com a médica uns 20 minutos, e chorei muito pensando que ela estaria lá sozinha sem os pais, fiquei muito triste. 


Lá pelas 7 da manhã disseram que podíamos ir pro quarto em definitivo e a Penélope voltou pra nós. O R juntou as coisas, a enfermeira ajudou com tudo e nos levaram pro quarto. Eu fiz o pré-natal no modelo semi-privado, o que na prática significaria que dividiria o quarto com outras 3 mulheres. No entanto, não sei se pela disponibilidade do hospital, me deram um quarto individual, o que foi absolutamente fantástico. Não tenho nem como dizer o quão melhor foi ter um quarto privativo sem precisar dividir com mais ninguém, e se fosse passar por essa experiência novamente, certamente escolheria e pagaria por um quarto privativo de cara.


Finalmente no quarto pude começar a assimilar tudo que tinha acontecido, mas nem tanto, porque já chegou uma nova midwife, Nerissa, pra medir minha pressão, tirar sangue, etc. Enquanto isso, R foi fazendo o pele a pele com a P, e quando o check-up já havia sido feito, Nerissa me ajudou a posicionar P para mamar no peito. As primeiras vezes foram doloridas porque a midwife tinha que extrair um pouco do colostro manualmente pra estimular a bebê a sugar, e doía bastante! No entanto, após algumas tentativas geralmente ela acertava a pega e mamava.





Consegui dormir umas duas ou três horas ao longo do dia, tomei um banho sozinha, comi... estava completamente emocionada, assustada, e muito cansada também. A noite foi chegando e com ela uma ansiedade, porque isso significava que o R precisaria ir embora. Nos dias em que estive no hospital, ele sempre vinha de manhã cedo e ficava o dia todo comigo, mas acompanhantes não podem ficar ao longo da noite. Enquanto estive lá nem pensei muito nisso, mas refletindo agora, acho absurdamente surreal uma mulher recém-parida ficar sozinha num quarto com um neném recém-nascido, ainda mais após uma cirurgia como a cesária... eu mal conseguia levantar da cama sem morrer de dor. As próximas três noites que passei no hospital foram totalmente caóticas: Penélope não dormia nada, e lá pelas 2 ou 3 da manhã começava a chorar e não parava mais. 


Eu chamava as midwives para me ajudarem a trocá-la (eu não conseguia sozinha) e também pra me ajudarem com a pega. Algumas eram super solícitas e ajudavam muito. Outras nem tanto. Só sei que eu ficava contando os minutos pra dar 8 da manhã e pro R chegar e ficar um pouco com a P pra que eu pudesse dormir um pouco que fosse. No fim, nesses 4 dias no hospital eu devo ter dormido um total de 8 horas NO MÁXIMO.


Também ao longo desses dias tivemos a visita da médica que conduziu a cirurgia explicando o porquê decidiram realizar a cesárea, o que achei muito bacana da parte deles. Além disso, também recebemos a visita de uma consultora de amamentação do próprio hospital pra nos ajudar a extrair mais colostro pra dar pra P numa mamadeirinha, visto que ela estava extremamente sonolenta no terceiro dia e não acordava pra mamar.


No quarto dia, eu já não aguentava mais o desconforto da cama e do quarto no hospital, e na terça-feira perguntei pra midwife Debbie se poderia ir embora naquele dia. Eu poderia ter ficado mais um se quisesse, mas só de pensar em passar mais uma noite sozinha com a bebê eu surtaria. Sendo assim, ao longo do dia recebemos a visita de uma pediatra pra dar a alta da Penélope, uma outra médica pra fazer o teste de audição na bebê, uma ginecologista para me ver e me dar alta, além da própria midwife que fez os últimos checks e tirou o curativo da cesárea também. Uma coisa curiosa é que nesse dia a estudante que estava acompanhando a midwife também chamava Penélope!


Saindo do hospital ainda vivemos algumas aventuras e passamos alguns perrengues, mas talvez esses eu conte num outro post. Por agora, só queria deixar registrado que apesar de totalmente diferente de como eu havia imaginado, apesar de muito mais doloroso do que eu havia me preparado, e apesar de mais frustrante do que eu gostaria, o momento em que minha filha veio ao mundo foi muito lindo e especial pra mim e pro R. 


Jamais esquecerei daquele chorinho e do tsunami de emoção que me inundou naquele momento. Um tsunami no qual ainda estou me afogando, mas logo logo aprendo a nadar.



Web Analytics
Back to Top