Ragusa e o pedido de casamento

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A primeira vez que ouvi falar em Ragusa foi quando o R. me contou sobre sua primeira grande viagem internacional, sua visita para a Sicília aos 18 anos. Ele ficou encantado com a ilha, com as cidadezinhas, com o estilo de vida, e me contava com brilho nos olhos como Ragusa havia sido uma de suas paradas preferidas, a vista maravilhosa, etc.

Quando montamos nosso mini roteiro pela Sicília, fiquei muito na dúvida se queria conhecer Siracusa ou Ragusa, porque os dois não ia rolar. Como eram só 2 dias praticamente antes de termos que nos dedicar ao evento da família que rolaria por lá, a escolha tinha que ser certeira. No entanto, pelo fato do R. ter essa conexão com a Sicília eu já imaginei que um dia poderíamos voltar e ver outros lugares, e de fato quero muito fazer isso!

Mas voltando à Ragusa: essa é uma cidade de pouco mais de 70 mil habitantes que fica numa colina entre dois vales no sul da Sicília. Assim como muitas outras cidades na Europa, ela pode ser dividida entre cidade alta e cidade baixa - a alta sendo menos turística e mais moderna, e a baixa, mais barroca, charmosa, etc.





Chegamos lá vindo de carro do vulcão Etna. Era por volta de umas quatro da tarde, e dirigir pela cidade não foi tarefa fácil pro R.: uma coisa é pegar estrada, outra é manejar um carro pelas ruas estreitas dessa ilha. Com um pouco de jeitinho, conseguimos estacionar e fazer check-in no hotel. Assim como em todos os lugares na Sicília, todos foram extremamente simpáticos conosco - não sei se pelo fato de falarmos italiano, mas certamente muito simpáticos.

O R. queria muito fazer a caminhada até a cidade baixa no pôr-do-sol, e realmente ele tinha enfatizado o quão bonita era a vista da cidade nessa descida, que eu ia amar, etc. Até aí, eu mal imaginava o que ele tinha planejado pra mais tarde. Pra ser sincera, eu até cheguei a desconfiar que ia rolar um pedido de casamento nessa viagem, mas pensei que se fosse pra acontecer, teria sido no vulcão. Afinal de contas, é um lugar bem marcante, né? Um vulcão! Bem, como não aconteceu nada mais cedo, desencanei, achei que era coisa da minha cabeça e esqueci dessa história completamente.

Mas tá. Pegamos a câmera e fomos descendo uma estradinha em formato de S que vai dando a volta até chegar láááá em baixo. Fomos bem devagarzinho, conversando, tirando foto, falando oi pras pessoas sentadas na calçada na porta de cabeça. O clima era de total tranquilidade, paz, uma delícia. Eu já tava amando aquele lugar.










Chegamos lá em baixo, e pelo caminho, mais ruelas, surpresas, escadarias, igrejas... sabe aquelas cidades de cenário de filme? Era isso. O R. tinha razão, eu tava amando aquele lugar mesmo não tendo nada específico para fazer ou visitar lá, sabe? Era simplesmente o lugar em si, as plantinhas nos muros das pessoas, a luz dourada do fim de tarde, era tudo muito poético.

Andamos bastante, e quando os pés cansaram, sentamos na praça principal pra procurar de longe algum lugar onde pudéssemos jantar. Logo encontramos um restaurante que tinha mesas na praça, e comemos uma boa pizza siciliana a luz do luar com aquele burburinho de gente conversando, tava tudo uma delícia! Depois disso fomos tomar um sorvete, andamos mais um pouco, avistamos uma livraria, entramos, comprei livros em italiano pois não poderia perder a oportunidade, andamos mais um pouco.




Nisso já era umas 11 da noite, e eu falei pro R. que tava querendo ir embora. Vimos uns portões indicando um parque público e o R. sugeriu entrarmos, darmos uma volta e pegarmos um táxi de volta pra cidade alta.

O parque era um pouco escuro, mas estava bem tranquilo, com poucos grupos de pessoas sentadas conversando. Demos alguns passos pra cá, uns pra lá, e ele disse pra sentarmos. Concordei, porque nessa altura do campeonato já estava cansada - tínhamos acordado cedo no dia pra alugar o carro no aeroporto, dirigido muitos quilômetros e tal.

Aí o R. começou a falar umas coisas fofas. Até aí, beleza. Estávamos de mini-férias, numa cidade legal, e geralmente somos fofos um com o outro. Mas ele parecia muito nervoso, e começou a citar uns trechos de músicas que gostamos muito, em português. Foi quando entendi o que estava acontecendo...

Fiquei em choque. Quando ele acabou de falar, se ajoelhou, tirou uma caixinha do bolso da mochila da câmera, abriu e disse "Você quer se casar comigo?". Eu ria igual uma louca descontrolada! Nunca achei que reagiria assim a um momento como esse sendo a pessoa emotiva e chorona que sou, mas ri. Eu ria e falava "Não acreditooooooooooo"... mas tá, ele perguntou se era SIM ou NÃO, eu disse SIM, nos abraçamos e a ficha começou a cair. Choramos, rimos, choramos de novo... e foi assim que o R. me pediu em casamento numa pracinha linda numa cidade encantadora no sul da Sicília.



Nem preciso dizer que isso tornou a viagem e aquele lugar ainda mais especiais do que já estavam se tornando pra mim. Ficamos extasiados de alegria, e conversando até altas horas da madrugada quando ele me contava toda a saga para encontrar um anel, toda a pesquisa que fez... aliás, o hômi poderia praticamente escrever uma tese sobre anéis de noivado nessa altura do campeonato!

Ragusa é uma cidade linda, mas certamente ganhou um lugar especial em nossas memórias e corações.
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